A lanolina é obtida como um subproduto da limpeza da lã bruta, através da
limpeza com sabão, sendo em seguida refinada, desodorizada, descorada e
seca.
Como produto de beleza, a lanolina no início era um produto caro,
exclusivo, adorado pelas mulheres, pelas propriedades que realmente tem de
tornar a pele menos áspera e com melhor aparência. Ela é rapidamente
absorvida pela pele, por isso é usada para transportar substâncias que se
deseja que sejam absorvidas também.
Por isso, é o excipiente mais usado em pomadas de uso farmacêutico. Aliás,
a lanolina não é usada só para isso. É a base de muitos outros produtos
para couros e peles, sabonetes e amaciantes de roupas e tecidos, sendo
algumas vezes misturada
com parafina.
Os precursores dos cremes de pele baseado em lanolina mais conhecidos e
mais usados no Brasil são os conhecidos Pond´s e Nívea. O problema é que,
movidas pela necessidade de ganhar mais dinheiro por unidade vendida, e
criar novidades que instigassem sempre a consumidora feminina a continuar
comprando, os fabricantes começaram a colocar muitos outros componentes,
como vitaminas, em doses minúsculas, e em formas inativas, na maior parte
das vezes.
Se a leitora soubesse quantos cremes de alto preço possuem substâncias
desse tipo, em concentrações de 0,1 a 0,5%, muito abaixo da sua dose
efetiva, certamente não iria gastar seu suado dinheirinho neles.
A moda agora é colocar vitaminas C e E, que pertencem ao grupo das
hidrossolúveis e antioxidantes, mas cujo efeitos por absorção cutânea não
estão documentados cientificamente de forma irrefutável.
As fórmulas de alguns cremes são positivamente bizarras, para não dizer
esotéricas. O Creme de la Mer, que foi criado pelo cientista da NASA Max
Huber, que sofria de queimaduras químicas atrozes, é um exemplo.
Recentemente, a prestigiosa empresa americana Estée Lauder comprou a
fórmula, depois que Huber morreu. O creme é baseado em uma mistura secreta
de vitaminas, minerais e certas algas marítimas colhidas de acordo com o
ciclo lunar. A preparação envolve fermentação durante meses, ao som de
borbulhas gravadas em fermentações anteriores, e com pulsos periódicos de
luz, para "energizar" o creme (não estou brincando...). Além disso, à
receita original foram adicionados malaquita (que de acordo com uma "
cientista" da La Mer, " atrai a energia do sol" (seja lá o que isso
significa...), pedaços de prata e de ouro, para "dar propriedades
antibacterianas, e pelo fato dos metais absorverem a luz e transferi-la
para o creme, para torná-lo ainda mais potente."
Seria ridículo, se o creme não custasse 150 dólares para um pote de 57
miligramas, e não fosse comprado por mulheres do mundo todo, que nesse
momento conseguem perder toda a racionalidade em troca de um efeito
duvidoso.
A lanolina continua sendo parte do creme, e é muito provavelmente ela que
confere o efeito, igualzinho ao humilde e baratinho creme Nívea, mas que a
credulidade dos compradores pensa ser diferente...
Mais problemático ainda é o fato de que muitos dermatologistas e
cosmetólogos recomendam e revendem esse creme em seus consultórios, a
preços remarcados muito acima da tabela. Uma excelente fonte de renda para
todos, sem dúvida. Mas, assim como outros produtos e outras enganações da
medicina alternativa, deveriam ser examinados mais cuidadosamente pela
Agência de Vigilância Sanitária, que os aprovam sem maiores contestações à
sua validade científica.
Publicado pelo Jornal Correio Popular - Campinas e pelo Boletim
Eletrônico Nutrinforma nº 46 - Novembro 2001