Do ponto de vista orgânico, a depressão pode estar mascarada em forma de
sintomas psicossomáticos, tais como dores de cabeça constantes, fadiga,
dores lombares, náuseas, vômitos, úlcera, colite e alergias diversas. Às
vezes, as dores “andam” de um lado para outro no corpo. Muitos suicídios
ou tentativas de suicídio inesperados e aparentemente inexplicáveis, são
devidas às depressões mascaradas.
Uma pessoa pode ter uma dor de cabeça por anos a fio e certo dia tentar um
suicídio.
Em muitos casos, essas pessoas podem ser consideradas hipocondríacas,
passando por vários médicos, fazendo exames e não encontrando nada.
Na verdade, todo depressivo é um decepcionado. A vida está lhe devendo.
Daí a sua insatisfação. A pessoa depressiva sempre vê o que não têm e não
se permite olhar para o que já tem, para suas conquistas. É uma pessoa
emburrada, se fecha porque guarda e carrega dentro de si muitos “lixos
emocionais” (mágoas, decepções, ressentimentos, desilusões), os bagaços de
seu passado. Muitas mulheres me perguntam o porquê sua vida amorosa está
péssima. Respondo que elas carregam uma quantidade enorme de mágoas,
desilusões do passado que bloqueiam e impedem de atrair parceiros e
situações favoráveis. Por conta disso, só atraem homens violentos,
complicados, problemáticos, casados, com problemas financeiros, que não
querem saber de nada, etc.
Portanto, é preciso “desatar os nós energéticos” (lixos emocionais) de seu
passado, seja desta ou de outras vidas, que estão impedindo que sua vida
afetiva flua de forma mais livre. Muitos pacientes depressivos me
perguntam também: “Por que sofro tanto”? Eu digo: Você sofre porque está
na ilusão, dormindo na ilusão e não quer acordar. Na verdade, o sofrimento
tem uma função. É um sinal, um indicador do quanto você resiste em querer
mudar. E se você está na teimosia, resiste, quer continuar assim, colherá
a desilusão cedo ou tarde. Teimosia é continuar com o que não funciona em
sua vida. A dor, é portanto, um sinal de que o que você está fazendo
consigo não está sendo legal. E todos nós somos responsáveis pelo nosso
próprio bem estar. Para isso, é preciso sair da ilusão de culpar as
pessoas, a vida e o destino e reassumir a capacidade de dirigir sua
própria vida.
Na verdade, o problema está na cabeça e não na situação. É a forma como
cada um percebe os fatos. Observe as pessoas felizes. Elas são felizes
porque valorizam os aspectos positivos dos acontecimentos e não dão muita
importância aos fatos desagradáveis da vida.
Caso Clínico:
Depressão Mascarada
Homem de 35 anos de idade, solteiro.
Procurou a terapia porque sentia uma certa apatia e dificuldade de
concentração no seu trabalho. Seu apelido em seu trabalho era “garoto
propaganda”, porque vivia “sorrindo” e nunca demonstrava tristeza ou mesmo
raiva.
Na entrevista de avaliação que costumo agendar com os pacientes antes de
iniciar o trabalho de regressão, compreendi o porquê de seus colegas de
trabalho o apelidarem de “garoto propaganda”. Mesmo relatando
acontecimentos dolorosos de sua infância, ele continuava “sorrindo” como
se tivesse colocado em seu rosto uma “máscara sorridente”. Essa máscara me
fez lembrar o Coringa (personagem vilão que vive rindo no filme americano
“Batman”, o homem morcego).
Pude constatar após a regressão que esse “sorriso” constante não era um
sorriso genuíno, verdadeiro. Na verdade, ele sofria de Depressão
Mascarada. Essa aparente “alegria” estampada em seu rosto, era um
disfarce, uma máscara para ocultar uma tristeza profunda. Evidentemente,
antes dele passar pela regressão, não tinha consciência que era uma pessoa
depressiva. E que sua apatia e a falta de concentração faziam parte de seu
quadro depressivo.
Na regressão, se viu quando tinha 5 anos de idade, brigando com o seu
irmão de 3 anos. Ele pedia insistentemente ao seu irmão para que
devolvesse seu brinquedo preferido, mas este não o atendeu. Num acesso de
ira, o paciente pegou o brinquedo da mão dele e o agrediu dando na sua
cabeça. A mãe, ao presenciar o ato, o pegou pelo braço bruscamente e lhe
disse: “Não pode sentir raiva de seu irmão. Vai lá e o abrace e ponha um
sorriso no seu rosto!!! Vamos!!!” E foi o que ele fez. Deu-lhe um abraço
“fraterno”, “sincero”, “carinhoso” e um sorriso “radiante”. Perguntei-lhe
o que estava sentindo. Ele me respondeu secamente: “Nada”. A essa altura,
seu corpo, rosto e mandíbulas estavam todos contraídos. Seus punhos
estavam completamente cerrados. Repeti novamente a pergunta e recebi a
mesma resposta. Então, pedi para que ele repetisse várias vezes a palavra
“raiva”. No início ele o repetia bem baixo, quase inaudível. Então, eu
disse: “Fale mais alto!!! Não estou escutando”. E cada vez que ele repetia
a palavra, eu dizia que não estava escutando direito. Até que não
agüentando mais, gritou chorando convulsivamente que estava com muita
raiva de sua mãe pelo fato dela sempre o obrigar a abraçar o seu irmão
quando os dois brigavam. Esperei que ele parasse de chorar e lhe disse
carinhosamente: “É natural sentir raiva de sua mãe pelo fato dela lhe
obrigar a sorrir e abraçar o seu irmão, quando na verdade estava sentindo
muita raiva dele. Com isso, ela estava lhe ensinando a sentir uma falsa
alegria (sorriso) e um falso afeto (abraço). Portanto, você não podia
sentir e nem tampouco expressar raiva”. Ao pedir para que ele prosseguisse
na cena, percebeu também que não podia sentir tristeza. Quando seu
cachorro faleceu, sentiu uma profunda tristeza. Sua mãe lhe disse: “Pare
de chorar!! Que coisa feia!! Eu compro outro cachorro. Vamos, bote um
sorriso em seu rosto e enxugue essas lágrimas!!”
Dentro do processo educacional, muitos pais não ensinam seus filhos a
diferenciar o ato de sentir e agir, ou seja, que existe uma diferença
entre sentimento e ação. No caso desse paciente, sua mãe, ao invés de
obrigá-lo a dar um abraço no seu irmão, poderia lhe ter dito: “Eu vejo que
você está com raiva de seu irmão porque ele pegou o seu brinquedo
preferido, mas você não precisava agredi-lo, machucando-o”. Com essa
colocação, sua mãe lhe ensinaria a diferença entre sentimento e ação,
permitindo um, mas não o outro. Ele iria aprender que não é errado sentir
raiva, mas que agredir, machucando alguém, não é correto, pois existem
outras formas de conseguir o que quer e de expressar seus verdadeiros
sentimentos. Portanto, dentro desse processo educacional opressivo,
aprendemos que existem categorias de aspectos ou emoções considerados como
“perigosos”, tais como: sexo, ciúme, inveja, medo, tristeza. Aprendemos
que é “feio” sentir tesão sexual, inveja, ciúme e raiva dos outros. E, com
essas proibições, acabamos suprimindo, recalcando essas emoções
autênticas, inerentes ao seres humanos.
Expliquei ao paciente que a raiva, quando bem administrada, é altamente
saudável. Por outro lado, quando ela fica “parada” no estômago, por
exemplo, gera as chamadas doenças psicossomáticas, tais como: úlcera,
gastrite ou mesmo câncer. Neste mundo globalizado e competitivo, se você
não usar a energia da agressividade, coragem, ousadia em seu trabalho e em
sua vida, não sobrevive. Muitas vezes, a falta de interesse, de vontade,
de motivação, são sintomas "master" da insegurança. São pessoas medrosas,
inseguras que aprenderam a recalcar a energia da agressividade. Tornam-se
pessoas passivas, sem nenhuma iniciativa, chegando a sentir apatia e
desinteresse pela vida. Era o caso desse paciente.
Após 8 sessões de regressão, pude constatar significativas mudanças em seu
comportamento. Percebi que ele estava mais solto, espontâneo, mais
verdadeiro, mais firme nas suas atitudes, dizia a palavra “não” quando não
estava a fim de fazer algo, sem culpa ou arrependimento. Antes, cultivava
sentimento de culpa ao contrariar alguém e acabava pedindo desculpas,
mesmo estando certo. Aprendeu a sentir e expressar raiva e tristeza sem
utilizar os seus disfarces antigos de falsa alegria e falso afeto,
demonstrando-as verdadeiramente e a apatia e falta de concentração foram
substituídas por entusiasmo e verdadeira alegria. Aquela “máscara
sorridente” em seu rosto, desaparecera.
Obtido no site SOMOS TODOS UM