Desapego X Apego
Por: Ingrid Dalila Engel - truenumbers@uol.com.br
Desapego... que exercício
difícil para nós ainda presos ao ego humano... o apego é uma das maiores
ilusões da vida terrena... apegar-se a que? A quem? Apegar-se para que? Se
tudo é transitório, se tudo é passageiro...
O apego é uma das fontes de maior sofrimento... quanta dor, quantas
lágrimas por nada.
O apego é o mesmo que querermos segurar o vento, o ar... somente com o
desapego é que podemos ter... ter o que é da alma... porque nós não
temos... nós simplesmente somos... somos o que somos.
O sofrimento do apego se inicia aqui, na Terra, quando presos aos mayas*
acreditamos ter posse sobre as coisas materiais; a nossa terra, a nossa
terra, a nossa casa, as nossas roupas, a nossa beleza, o nosso carro, o
nosso cargo, a nossa posição social, o nosso talão 5 estrelas, o nosso
cartão de crédito internacional, a nossa empresa e assim por diante...
Claro que a prosperidade é um direito do ser, é estarmos em sintonia com a
energia da abundância cósmica, mas não podemos confundir com posse...
Alguns tem um forte sentimento de apego dentro de um Fusca 64 e outros
passarão totalmente desapegados dentro de uma Mercedes 2004... nós
aprendemos na Luz e na sombra... temos que perder para darmos valor ao
ganhar, temos que passar pela escassez para aprendermos a buscar a
abundância; e a vida é uma grande roda, que gira e gira e nós vamos
vivenciando todos os desafios, todas as situações para adquirirmos
sabedorias... tudo é cíclico... tudo é empréstimo temporário para o nosso
aprendizado.
Quanto sofrimento é gerado à alma no momento do seu desencarne, quando,
presa aos apegos terrenos... não alcança a Luz porque está olhando as
sombras; não atinge um nível maior de consciência porque está presa à
inconsciência dos apegos terrenos...
Devemos sim viver os prazeres da terra, com o desapego da alma... vivendo
aquilo que a vida está nos proporcionando sem a prisão do medo da perda...
E o que dizermos do apego emocional? Ah... é mais e muito mais dolorido!
Criamos inúmeras vezes na nossa mente, no nosso corpo emocional, a ilusão
de que o outro nos pertence, que nós temos posse sobre o outro e também
vendemos a ilusão que o outro tem posse sobre nós... e neste jogo
emocional vivemos anos, vidas inteiras e criamos laços carmáticos
profundos... e o mais irônico, para não dizer o mais triste, é que nos
atrevemos, presos a esta visão distorcida, a chamar isto de amor! Mas
temos que compreender que para atingirmos o Desapego e o Amor Maior, temos
que vivenciar o apego e o amor terreno. São os nossos primeiros passos
para alcançarmos a sabedoria dos Mestres.
Nós confundimos apego profundo com desapego e não conseguimos realmente
enxergar nossa confusão e a vida faz a parte dela, ou seja, gera o
desapego para percebermos o quanto estávamos apegados.
Na minha própria experiência de vida e na minha experiência profissional
já tive a abençoada oportunidade de perceber esta distorção.
Na minha mente vêm, neste momento, dois ou três casos recentes que
ilustram esta situação e vou citar um deles para que, através de uma
profunda reflexão, sirva-nos como um aprendizado, porque a humanidade é
interligada e um influencia o outro; o aprendizado de um altera o todo.
“A Maria e o João foram casados por quase 20 anos. O João se apaixonou
pela Joana e foi embora em busca da sua felicidade, real ou ilusória, não
importa aqui. Isto já faz dez anos... O João foi embora mas continuou
iludindo a Maria. Não permitia que ela se desprendesse dele. Visitava-a
constantemente, a presenteava sempre, escrevia cartas dizendo da sua
ligação com ela, que não conseguia esquecê-la, mas que não tinha forças
para deixar a Joana pois ela era tão frágil... tão necessitada dele... e
que a Maria sim, era forte, e como ele a admirava por isso e que a Maria
poderia compreender e esperar que ele resolvesse a situação... e que
tentaria resolver o mais breve possível e em algumas vezes até deixava
transparecer que seu desespero era tão grande que poderia até se suicidar
e que a Joana era tão dependente que se ele a deixasse provavelmente ela
seria capaz de fazer uma loucura e o que seria dele? E a consciência e
responsabilidade dele? Nunca mais se perdoaria. A Joana era tão
depressiva... até tomava vários medicamentos... e a Maria nisso tudo? Um
verdadeiro exemplo de desapego... negou a própria vida, parou de lutar por
suas metas, escondeu-se atrás destas migalhas ilusórias e ficou aguardando
esperançosa o retorno do João; ficou adiando ser feliz por todos esses
anos... Quando o João retornasse como seriam novamente felizes”!
Desapego? Amor incondicional? Baixa auto-estima? Sim, pode até ser “amor”
mas o amor incondicional é desapego e desapego é amor incondicional... é
querer a felicidade e o bem estar do outro e de si mesmo. Mas para amarmos
o outro temos também que nos amar e nos respeitar. Será que não é um apego
tão forte, tão enraizado, que não permitimos que o outro seja feliz e num
grande auto boicote, optamos em sermos infelizes para não nos desapegarmos
do outro e não permitirmos que o outro se desapegue de nós.
O que aparenta desapego é um profundo apego; tão forte que preferimos
renunciar à própria felicidade do que renunciarmos ao outro.
Estejamos atentos aos mayas... aos autoboicotes... às migalhas que
acreditamos merecer...
Desapego nos liberta. Apego nos aprisiona.
Exercitemos o desapego das coisas materiais, das ilusões emocionais, dos
rancores, das mágoas, de tudo aquilo que nos aprisiona.
Libertemo-nos! Sejamos livres no Desapego!
* Mayas (do sânscrito): "Ilusão".
Obtido no site SOMOS TODOS UM