Está tudo bem
Por: Bel Cesar - belcesar@terra.com.br
Certa vez, Lama Gangchen
Rimpoche, ao nos falar sobre a paz interior, disse-nos: “Não é preciso
reagir, está tudo bem”. Sem perceber, respirei profundamente e relaxei.
Foi quando me dei conta do poder que esta frase havia tido sobre mim:
finalmente podia reconhecer que estava tudo bem.
Geralmente, estamos questionando o mundo a nossa volta: criticamos,
duvidamos, pomos tudo e todos à prova. Tal como lidamos com nosso mundo
interior: algumas vezes pensamos para não sentir; e outras tantas queremos
sentir sem correr o risco de pensar! Sem contar as vezes que dizemos algo
que, de fato, não sentimos. Isso ocorre porque não sentimos o que
pensamos!
Estamos com a lixeira de nosso computador interior lotada de informações
inúteis. Precisamos parar para esvaziá-la. Quando a falta de espaço
interno torna-se relevante, nos tornamos impacientes e irritadiços, e nada
tem graça. Tudo se torna denso, como um engarrafamento no final da tarde:
não podemos ir nem para frente, nem para trás, e ficar onde estamos parece
que vai nos levar a loucura!
Reconhecer que estamos estressados nos ajuda a efetivar uma mudança em
nosso estilo de vida. Ao começar o ano, depois de uns dias de descanso,
estamos mais atentos aos padrões de comportamento que não queremos
repetir. Vamos aproveitar esta pequena pausa para recomeçar de modo
pacífico: menos reativos.
Muitas vezes, temos que nos dizer que tudo está bem, mesmo quando tudo
não vai bem. Pois intuitivamente sabemos que não podemos mais pôr
lenha na fogueira: o calor dos conflitos já está nos queimando. É hora de
suavizar e reverter, fazer as pazes. Quando passamos a lidar positivamente
com alguém ou uma situação que até então estávamos reagindo negativamente,
a energia muda: surgem soluções inesperadas. O que nossos inimigos menos
esperam é serem bem tratados por nós. Quando deixamos de ser reativos,
rompemos o hábito de nadar contra a correnteza.
Não ser reativo não é o mesmo que ser submisso ou passivo. Muito menos ser
capacho de egos afoitos. Não ser reativo é saber distanciar-se para
contemplar o fluxo dos acontecimentos, e então, sob uma nova visão,
participar daquela realidade com calma e clareza.
Quando estamos bem centrados em nosso eixo de paz interior, percebemos
também quando é hora de reagir, o momento em que ser ativo é um ato de
auto-estima e auto-responsabilidade. Não podemos ser cúmplices de
situações que consideramos desequilibradas, ilícitas ou falsas. Nossa
auto-estima nos orienta a tomar decisões: quando devemos entrar,
permanecer ou sair das situações.
Nossa auto-estima está baseada em nossa capacidade de aceitar tanto nossos
limites tanto quanto nossas necessidades. Ser realista frente à nossa real
situação é uma atitude saudável. Quando cultivamos uma boa auto-estima nos
sentimos aptos a lidar com as exigências que a vida nos traz. Ter uma boa
auto-estima é confiar em nossa capacidade de enfrentar os desafios básicos
da vida. Podemos, então, aceitar a insegurança como parte inerente da
existência e depositar confiança no fluxo da vida.
Quando fechamos os olhos para perceber nosso mundo interior, observamos o
sutil hábito mental da auto-rejeição. Podemos reconhecer que temos a
tendência de lutar contra o que estamos sentindo quase o tempo todo. Há um
conflito entre o pensar e o sentir.
O pensamento é um hábito mental, enquanto o sentimento é a memória de uma
experiência. Não é possível sentir através do pensamento. Isto é, não
basta pensar o sentimento. É preciso sentir o pensamento para tocar
o grande coração: nossa boa auto-estima.
Enquanto criticarmos nossos sentimentos, estaremos armazenando energia de
autocondenação. Os sentimentos não aceitos e não integrados sustentam
nossa atitude de auto-rejeição. Eles ficam armazenados em nosso corpo, nos
músculos, chakras e órgãos.
Quando nos abrimos para sentir nossos sentimentos, nos abrimos também para
sentir nosso corpo. Se nos mantivermos atentos e relaxados ao mesmo tempo
na percepção de nossos sentimentos, poderemos localizar a área física onde
este sentimento está se concentrando. Então, ao pousar as mãos nesta
região, geramos calor e calma: energias que ajudam nossa energia vital
voltar a fluir.
Ao manter os olhos fechados, podemos nos conectar também com nosso eixo de
descanso interno: um estado de aceitação incondicional onde nossa mente
relaxa enquanto nosso corpo respira livre e espontaneamente.
Nós nos rejeitamos quando controlamos nossos sentimentos, quando temos
vergonha de nós mesmos. O segredo está em sentir o sentimento sem
analisá-lo. O que você precisar aprender com uma experiência lhe será
revelado no ato de acolhê-la. O objetivo é integrar as diferentes partes
de nossa mente: criar intimidade consigo próprio.
Podemos “estar com” os sentimentos dolorosos ao invés de SER os
sentimentos. Podemos compreender que não somos apenas uma sensação. A
sensação faz parte de nosso processo de purificação.
A falta de contato conosco cria a sensação de solidão e isolamento. O
prazer de estar consigo mesmo cria a disponibilidade para estar com o
outro.
Quando os sentimentos desagradáveis surgirem, lembre-se de que você tem a
oportunidade de purificá-los ao invés de suprimi-los, negando-os. Dedique
um pouco mais de tempo a aceitar o que estiver aflorando em sua mente.
Torne-se uma testemunha ativo de seu processo, respirando as emoções sem
contrariá-las. Deixe a emoção surgir, aumentar e se dissipar por si mesma.
Não lute, nem controle.
“Não é preciso reagir, tudo está bem”.
Obtido no site SOMOS TODOS UM