Intimidade consigo
mesmo
Por: Bel Cesar - belcesar@terra.com.br
Você já se pegou sonhando
em ser outra pessoa, vivendo em outro lugar? Quando nos distanciamos de
nossa realidade, distanciamo-nos de nós mesmos. Então, é hora de
perguntar: por que está tão difícil levar adiante a vida?
Aceitar estar nesta vida, com este corpo. A falta de contato conosco cria
a sensação de solidão e isolamento. O prazer de estar consigo mesmo cria a
disponibilidade para estar com o outro. Uma pessoa chata é aquela que não
consegue estar consigo mesma e espera que o outro a tolere!
Se pararmos para observar o que pensamos sobre nós mesmos, iremos nos dar
conta do quanto nossa auto-avaliação possui o poder de nos aproximar ou
nos distanciar de nós mesmos. Para termos uma relação saudável, próxima e
direta com nós mesmos, precisamos parar de nos auto-rejeitar.
Quando estamos bem, sentimo-nos confortáveis em nosso corpo: a respiração
flui, a barriga está relaxada e as costas estão naturalmente eretas.
Quando negamos a nós mesmos, nosso corpo reage, expressando dor. Podemos
pensar que estamos bem, mas se nosso estômago começar a doer, irá revelar
nossa ansiedade e confusão emocional.
Portanto, se tivermos um relacionamento superficial com nossas emoções,
poderemos momentaneamente negar nossos sentimentos, mas nosso corpo irá
revelar que estamos, na realidade, nos abandonando.
São muitas as vezes em que dizemos o que não sentimos verdadeiramente.
Isso ocorre porque não sentimos o que pensamos! Reconhecer que não estamos
sentindo o que deveríamos sentir ou gostaríamos de estar sentindo é um
desafio interior que devemos enfrentar.
No entanto, na maioria das vezes buscamos pensar algo justamente como um
mecanismo de defesa para não sentir nossos sentimentos. Isto é, em
simplesmente senti-los sem julgá-los como ruins ou bom. Senti-los com a
intenção de conhecê-los. Sermos abertos para com nossos sentimentos
demanda sinceridade e compaixão.
Não basta querer não pensar em algo para deixar de senti-lo. Os
sentimentos não desaparecem só porque são indesejáveis. Aliás, pensar e
sentir são duas funções que precisam estar harmonizadas entre si. Podemos
pensar em nossas emoções, mas será necessário senti-las para que elas
possam fluir. No entanto, não são os sentimentos em si que nos
proporcionam sabedoria, mas sim o processo de abrirmo-nos a eles.
John Ruskan, em seu livro Purificação Emocional (Ed. Rocco), escreve sobre
a importância de saber entrar em contato com nossos sentimentos sem a
intenção de analisá-los imediatamente: “Lembre-se de que você não está
entrando no sentimento com a intenção de analisá-lo e compreendê-lo. Não
tente compreender porque o evento ocorreu, o porquê de suas ações ou
sentimentos, o que há de aprender com o evento, etc... Essas compreensões
virão espontaneamente como resultado da integração que a experiência
direta trará. Por enquanto, limite-se a experimentar plenamente os
sentimentos do evento. Se você persistir em tentar analisar, a integração
será inibida”.
Portanto, o segredo está em confiar que você obterá o que necessita saber
de uma experiência no ato de acolhê-la. Ou seja, podemos nos propor sentir
o que rejeitamos como processo de autoconhecimento e não como um sentença
de condenação.
Não podemos nos obrigar a sentir nossos sentimentos. Não há necessidade de
forçar nada.
O objetivo é integrar as diferentes partes de nossa mente e criar
intimidade, isto é, proximidade com a própria mente. E não necessariamente
analisá-la. Enquanto a análise estiver contaminada do hábito da
auto-acusação, é melhor mantê-la de fora.
A chave é manter uma relação direta consigo mesmo. Pois só assim poderemos
apreciar a energia fluida e agradável que existe naturalmente dentro de
nós.
Ser sincero com você mesmo é um ato de coragem. Pois o autoconhecimento
nos leva a tomar decisões ousadas e irreversíveis. Lembro-me certa vez
quando consegui assumir conscientemente algo que precisaria de muita
coragem para reconhecer o que, de fato, estava sentindo. Entrei no meu
quarto, apaguei a luz, deitei na cama, cobri meu rosto com a coberta, e
perguntei a mim mesma: o que você quer fazer nesta situação?
Apesar de saber que já conhecia a resposta, ter agido assim fez com que eu
me aproximasse da decisão. Não havia mais como negar a mim mesma. Depois
que escutamos o que queremos, não dá mais para fugir. Pelo menos de nós
mesmos. Podemos estrategicamente continuar fingindo para o mundo algo que
ainda não estamos prontos para expressar, mas internamente não podemos nos
enganar.
Quando finalmente relaxamos, comunicamo-nos com nosso mundo interior sem
mais rodeios e rompemos as barreiras das palavras, permitindo que a nossa
mente e o corpo se unam. Aos poucos, percebemos que é possível relaxar em
nossa própria energia. Quando o corpo e a mente estão unidos, participamos
plenamente do mundo e podemos nos comunicar com ele num nível ainda mais
amplo e sutil.
Quanto mais transparência houver dentro e fora de nós, melhor será.
Ocorrerão menos interferências negativas, pois aquele que não teme ser
autêntico está em harmonia com o mundo à sua volta. Pois está conectado
com o mundo, aberto e interessado em interagir.Obtido no site
SOMOS TODOS UM.