Medo da Intimidade
Por: Osvaldo Shimoda - shimoda@vidanova.com

“Creio que a melhor dádiva que concebo receber de alguém é:Ser vista, ser ouvida, ser compreendida, ser reconhecida. A maior dádiva que posso oferecer é: Ver, ouvir, compreender e reconhecer outro ser humano.
Quando isso acontece, sinto que houve contato entre nós”.
(Virgínia Satir - Estabelecendo Contato)


Intimidade é essa liberdade de ser o que se é, sem “máscara”, sem “disfarce”, sem manipular as pessoas ou ser manipulada por meio de jogos de sedução ou poder. É a expressão livre e prazenteira do que eu penso e sinto, sem reservas ou ressalvas.

A intimidade pode ocorrer numa amizade profunda entre pais e filhos, marido e mulher, irmãos, companheiros de trabalho ou até em encontros ocasionais onde há reciprocidade de abertura e honestidade entre as pessoas. Embora a experiência da intimidade seja a forma mais rica de relacionamento entre as pessoas, é, por outro lado, a mais temida forma de relacionamento.Homens e mulheres na sua maioria não sabem como ser íntimos, não têm amizades intimas. Vejo mulheres que na frente de suas amigas, agem de uma forma e na frente dos maridos são outras. Não se permitem serem verdadeiras.

De forma similar, muitas pessoas agem de uma forma com os seus familiares e com outros atuam bem diferentes. É comum nas relações amorosas e familiares as pessoas conversarem assuntos triviais do cotidiano e não expressarem sentimentos de calor, ternura e proximidade ou mesmo discutirem seus conflitos, anseios e preocupações pessoais. Eu costumo perguntar aos meus pacientes: “Você conhece verdadeiramente o seu filho(a), a sua esposa, o seu marido, os seus pais, os seus irmãos? E eles, o conhecem verdadeiramente”?

A maioria diz que vive na superficialidade e que se sente “presa”, “amarrada” nesses relacionamentos e conversa só o essencial.Muitos vivem num verdadeiro “torpor” mental e emocional e não percebem que estão “anestesiados” emocionalmente.São incapazes de sentarem à beira de um rio e sentirem o vento no rosto. Diante de um pôr de sol não se permitem se extasiar.Não percebem “as mensagens” do seu próprio corpo, não sabem quando estão tensos, relaxados, abertos ou fechados. Corpo e alma estão dissociados e fragmentados. Seus corpos agem de uma forma enquanto suas palavras dizem o contrário.Dizem, por exemplo, palavras cheias de raiva com um sorriso nos lábios. Fazem amor com alguém pensando nas contas a pagar.

Resultado: levam uma vida limitada, sem paixão e nem compaixão, despida de encanto, espontaneidade e alegria.
O Dr. Eric Berne, psiquiatra canadense, criador da Análise Transacional dizia: “O homem nasce livre, mas a primeira coisa que aprende é agir conforme o ensinam e passa o resto da vida fazendo isso.Daí a sua primeira escravização ser feita pelos seus pais. Segue as suas instruções para sempre, conservando somente em alguns casos o direito de escolher seus próprios métodos e consolam-se com uma ilusão de autonomia”.

Libertar-se, portanto, do condicionamento familiar, educacional, religioso, moral e cultural e se tornar um livre pensador - assumindo e aceitando a responsabilidade de suas próprias escolhas, livrando-se da compulsão de viver de forma programada e rígida - seria o desejável.

CASO CLÍNICO: Medo da Intimidade
Mulher de 32 anos, solteira.


Veio ao meu consultório por conta de sua dificuldade afetiva de se relacionar com as pessoas. Não se permitia ser íntima nos seus relacionamentos afetivos. Seus relacionamentos amorosos, familiares, sociais e profissionais eram sempre superficiais. Tinha muita dificuldade de expressar, demonstrar seus sentimentos. Os homens a rotulavam de “fria” e “insensível”, pois não se permitia se envolver, se entregar afetiva e sexualmente.
Ao regredir, viu seu corpo flutuando solto no espaço, na imensidão do universo.

Ela prossegue dizendo: “Eu me vejo como homem, alto, robusto, cabelos escuros, usando uma roupa “estranha”, parece prateada do tipo macacão e calço botas também prateadas. Sinto uma sensação no meu corpo, uma energia que sobe do meu estômago para cima em círculo, em espiral, é uma sensação que mexe dentro de mim. Sinto que meu corpo está solto, vagando no espaço”.

Em seguida, peço para que ela regrida, retroceda um pouco antes desta cena para entender o que foi que aconteceu para estar vagando no espaço. “Eu venho de outro planeta, os habitantes são seres como a gente, mas não consigo vê-los nitidamente. Eu saí desse lugar, fui expulso. Eu não cumpri as normas, passei por cima delas, desrespeitando as pessoas. Eu era arrogante, me sentia superior aos outros. Eu era ruim, maldoso, meu pai era o líder desse lugar. Eu não obedecia nem ao meu pai, me colocava acima dele. Por outro lado, eu sentia admiração por ele. Eu o via como homem poderoso e eu tentava imitá-lo. Ele era “superior”, estava no topo da hierarquia. Eu saí desse lugar porque tinha que aprender uma lição, conhecer a humildade, viver bem com as pessoas.

Os habitantes desse planeta eram muito solidários, unidos, todos eram irmãos e irmãs. Não havia separação de família. Era uma comunidade. Por outro lado, embora fossem solidários, não colocavam as emoções em primeiro plano, não demonstravam suas emoções.

Tenho vontade de chorar, mas só fico na vontade. Vem o pensamento de que não devo chorar, não posso chorar. Só as pessoas fracas choram - eu aprendi com eles essa crença. Eu não podia ter sentimentos. Agora estou entendendo o porquê na vida atual eu estou encontrando dificuldade de me entregar, de ser íntima nos relacionamentos.

Na verdade, eu não me entrego afetivamente porque tenho medo de perder a liberdade. A partir do momento que eu saí daquele planeta, eu conquistei a liberdade. Eu me sentia muito preso, amarrado, tolhido, porque tinha que seguir regras rígidas da comunidade, não tinha liberdade. A minha liberdade foi conquistada com muito sacrifício e hoje eu tenho medo de perdê-la. Se eu me vincular afetivamente a alguém nesta vida atual vou perder a minha liberdade. Eu não quero estar presa a nada, a ninguém.

Agora estou entendendo também que a sensação de estar girando, flutuando no espaço, é a sensação de liberdade. Lembrei agora do meu nome. É Sarakin e quando falo, minha voz tem eco. Tenho a impressão de que a gente se comunica pelo estômago, através de um aparelho”.

Peço em seguida para que ela vá para o momento de sua morte nesta vida passada. “Estou sendo julgado por todas aquelas pessoas. Eles não demonstram sentimentos, não têm sentimentos. Estou ressentido por essa falta de sensibilidade. Eles não podiam fazer isso. Eles cortam o meu pescoço, deixando claro que eu teria que evoluir. Eles dizem para mim que o dia que eu aprender a conviver com as pessoas, isto é, trabalhar o meu orgulho, a minha prepotência, estarei mais evoluído. E se eu quiser constituir uma família, vou ter que abrir mão da minha liberdade, ou seja, não vou poder fazer tudo o que eu quero. Vejo agora várias pessoas me preparando para eu reencarnar pela primeira vez na Terra. Estou agora dentro do útero, me vendo como um feto”.

Como a nossa sessão de regressão já tinha passado muito do horário, resolvi encerrá-la para darmos continuidade na semana seguinte. Visivelmente emocionada, ela me disse: “O preço que eu estou pagando por essa liberdade está me custando muito caro. Sinto uma solidão muito grande por não ter alguém que me ame e me faça feliz. A sessão de hoje me reacendeu o desejo de me relacionar afetivamente com as pessoas, principalmente com os homens”.

Na quinta sessão de regressão, a paciente chegou muito feliz dizendo que conhecera um rapaz e que pela primeira vez em sua vida estava apaixonada e que estava bem mais aberta, mais carinhosa e espontânea em demonstrar seus sentimentos, o mesmo ocorrendo também com seus familiares, amigos e colegas de trabalho.

Demos assim por encerrado o nosso trabalho.

Osvaldo Shimoda é terapeuta e trabalha com técnicas de hipnose e terapia de Vidas Passadas em seu consultório em São Paulo.

Obtido no site SOMOS TODOS UM.

1