Os Riscos da Auto-regressão
Por: Osvaldo Shimoda - shimoda@vidanova.com

Há algum tempo, um paciente me procurou queixando-se de que estava se sentindo confuso, angustiado, perdido e que essas sensações começaram depois que ele fez uma auto-regressão escutando um CD de um renomado terapeuta que orienta com um fundo musical as pessoas a regredirem em suas vidas passadas. Após ter recordado suas experiências, o paciente voltou suando muito, confuso, angustiado e assustado. Essas sensações persistiram durante 3 dias.

Por fim, resolveu me procurar após ter lido os meus artigos sobre TVP (Terapia de Vidas Passadas) em meu site.
Após a entrevista inicial, marcamos a nossa primeira sessão de regressão.

Bastou uma leve indução hipnótica para que ele recordasse com facilidade sua experiência de morte daquela vida passada. Desta vez, ele recordou com calma o episódio e, com o conteúdo que surgiu durante a regressão, foi feita uma terapia de apoio para que o paciente pudesse entender e digerir todo o processo que acabara de vivenciar. No final dessa sessão, o paciente estava mais aliviado e me disse que não estava mais confuso e angustiado porque agora estava mais consciente do que acontecera efetivamente com ele em sua vida passada.

Portanto, uma regressão bem finalizada, coloca o paciente centrado em si, sabendo claramente que está de volta à realidade presente, no aqui e agora.

Por outro lado, quando o retorno é feito às pressas interrompendo o processo regressivo como ocorreu com esse paciente, é comum se sentir perdido, solto e confuso. E o desconforto emocional tende a persistir após a regressão porque as emoções não foram trabalhadas, afloradas no nível da consciência.

É como fazer uma cirurgia e não fechar o corte, deixando-o aberto e exposto. Portanto, é muito valioso - após o processo regressivo - fazer uma terapia de apoio com o paciente para que seja discutida e fechada a experiência traumática de seu passado.

É importante salientar também que a regressão costuma mexer em níveis profundos do inconsciente (como aconteceu com o paciente mencionado acima, ao recordar sua morte dolorosa física e emocionalmente em sua vida passada). Neste caso, o retorno deve ser feito com mais cuidado para que a dor física não persista após a sessão de regressão.

Portanto, fica claro que uma pessoa que se submete a uma auto-regressão, não vai ter ao seu lado um terapeuta que a auxilie a sair de suas lembranças traumáticas. É evidente que, nem todas as pessoas que fazem a auto-regressão vão passar necessariamente por essas dificuldades, mas é prudente e seguro que se faça a regressão com um terapeuta competente e experiente.

CASO CLÍNICO
Sentimento de rejeição e abandono pela mãe
Mulher de 30 anos, solteira.


A paciente chegou ao meu consultório se queixando de problemas de relacionamento com a mãe.
Disse que sua mãe tinha mais carinho pelo seu irmão do que por ela. Não se lembrava dela pegando-a no colo quando criança. E essa falta de carinho era algo recíproco. Sentia também que sua mãe tinha inveja de suas realizações. Percebeu que quando comentava algo que iria fazer para sua mãe, as coisas não davam certo. Desde criança, quando a mãe se aproximava dela, ela sentia uma repulsa que veio a se perpetuar até a fase adulta. Quando discutia com ela, sentia um ódio muito grande e o desejo de matá-la. Desta forma, queria saber o porquê de tanto ódio e sentimento de rejeição pela mãe. Por que esse desamor que havia entre mãe e filha?

Em sua primeira sessão de regressão, ela me disse que estava vendo um casal nadando e se beijando num rio.
- “Não estou gostando da cena. Sinto raiva, uma sensação de traição. É horrível o que eu estou vendo!
Sinto muita raiva, não gosto de ver os dois se beijando... Essa mulher é a minha mãe da vida atual e também daquela e o rapaz é o meu noivo daquela vida passada... Estou escondida, observando-os. Ela roubou o meu noivo (fala com ódio!).

E ela está traindo o meu pai, a maldita!... Ela descobre, mais tarde, que eu sei do envolvimento dela com o meu noivo. Ela me ameaça para eu não contar para o meu pai, mas acabo contando para ele. Para a minha surpresa, ele me bate e fala que sou uma mentirosa. Ele fica enfurecido e me obriga a casar com o meu noivo... Agora, vejo o meu pai espancando a minha mãe.

Eu sinto ódio dela porque ela traiu o meu pai e ainda por cima com o meu noivo”.

Repita algumas vezes essa frase: Eu sinto ódio dela em voz alta, peço à paciente.
- “Eu sinto ódio dela, eu sinto ódio dela”... (fala gritando). Em verdade, o objetivo de pedir para que a paciente repita algumas vezes em voz alta essa frase, é libertá-la desse sentimento de ódio que ela nutre pela mãe.

Em seguida, peço a ela que prossiga na cena.

- “No dia do meu casamento, me sinto muito infeliz. Eu me vejo vestida de noiva, mas parecia que eu ia para o ‘matadouro’... O meu pai daquela vida passada é o mesmo da vida atual e o meu noivo foi o meu namorado na vida presente.

Eu me caso com ele, mas a gente não se dá bem por conta desse incidente”.

Meu pai proíbe que a gente freqüente a sua casa. Ele começa a beber, maltratando muito a minha mãe”....

Avance bem mais para frente nessa cena, anos depois, peço-lhe.

- “Meu marido e minha mãe continuam se encontrando às escondidas.

Meu pai descobre e, na briga, o meu marido acaba matando o meu pai. O meu sentimento de ódio por ‘essa mulher’, aumenta mais ainda. Seduziu o meu marido, provocou a morte do meu pai e não aconteceu nada com ela (começa a chorar). Eu me sinto muito infeliz por não ter uma mãe honesta, decente. Sinto desejo de vingança, de matá-la. Mas não tenho força, me sinto sem coragem.

É o mesmo sentimento de ódio, de desejo de matá-la quando discuto com ela na minha vida atual... Após a morte de meu pai, decido cortar as minhas relações com ela. Ela veio me pedir perdão, mas eu lhe disse que jamais iria perdoá-la. Sinto muito ódio, mágoa profunda por ela. Por conta disso, acabo adoecendo. Ela se desespera, me procura, eu lhe digo que nunca vou perdoá-la. Eu não acredito no arrependimento dela.

Ela não gostava do meu pai. Ela teve outros amantes, antes de seduzir o meu marido... O meu marido, após ter matado o meu pai, fugiu e nunca mais o vi. Jurei que iria matar os dois, mas acabei não vingando a morte de meu pai porque, com a minha doença, acabei falecendo.

Peço então que ela revivencie o momento de sua morte nessa vida.

- “Estou numa cama e minha mãe está do meu lado segurando minha mão. Eu lhe disse que nunca iria perdoá-la porque ela destruiu a minha vida.

Sinto uma dor terrível no peito. Parece que tive um ataque cardíaco... Morri com muito rancor e mágoa dela”.
Peço em seguida para que ela vá para o espaço entre-vidas.

- “Eu me vejo num jardim muito bonito. Estou tranqüila, mas me sinto triste, só. Fico sentada num banco olhando as árvores. Estou com uma aparência bem jovem. Eu me deito num banco e fico olhando aquele céu azul. Chegou um velhinho do meu lado. Ele falou que estava na hora de reencarnar e que eu não me preocupasse porque ele estaria sempre do meu lado para me ajudar. Fala também que em muitos momentos eu iria padecer nesta minha vida atual”.

Peço então para que ela se recorde qual o seu propósito para essa vida.

- “O velhinho me diz que terei que perdoar a minha mãe, pois o meu julgamento a respeito das atitudes dela foi muito severo. Para perdoá-la eu vou ter que passar pelos mesmos sentimentos e experiências de minha mãe. Neste sentido, eu vou trair os homens como ela fez com o meu pai nessa vida passada. Ele diz ainda que eu vou vir novamente como filha dela.

Ele diz também que minha mãe não me amou porque era carente e foi este o motivo dela se envolver com outros homens e que eu iria entendê-la e perdoá-la.

Eu falo que não estou em condições de perdoá-la e que seria muito difícil ter que conviver novamente com ela.

O velhinho disse que seria difícil, mas que eu iria conseguir vencer essa prova e que ele iria me ajudar”.

Em seguida, peço para que a paciente se sinta no útero de sua mãe, no 1º trimestre de gestação.

- “Sinto muita raiva, tenho vontade de ‘furar’ a barriga dela e sair daqui. Eu não quero ser a filha dela. Minha mãe sente que vou dar muitos problemas para ela. Ela sente a minha presença, sente muita tristeza porque sabe que eu estou de volta. Ela não quer o meu nascimento”.

Vá agora para o 2º. trimestre, peço-lhe.

- “Eu sinto a mesma coisa, eu não quero nascer. Ela não mudou a sua opinião em relação a mim. Estou desesperada, não quero nascer de jeito nenhum. Eu prefiro morrer do que nascer”...

Peço então para que ela vá para o momento de seu nascimento.

- “Foi sofrido, não queria sair do útero porque não quero ser a filha dela. Eu acho que não vou conseguir aprender a amá-la... Ao nascer, eu prendi a minha respiração para morrer”.

Vá agora para o período de sua infância, peço-lhe.

- “Me sinto muito rejeitada pelos meus pais. Meu pai espanca minha mãe, principalmente quando bebe como fazia na vida passada. Ele ainda carrega as lembranças da traição... Agora, estou com 6 meses, estou sendo batizada. Sinto a presença do meu mestre (O velhinho) me segurando. Ele me fala: ‘você vai conseguir’.

Eu sinto muita tristeza, o meu olhar é muito triste, me sinto só. Meu mestre fala que eu sou um diamante e que eu precisaria ser lapidada nessa vida presente.

Ele me fala que quando eu sentisse tristeza era só olhar para as estrelas que ele estaria lá. Diz ainda que o meu caminho é a busca do amor e do perdão, que eu tenho muitos talentos mas que teria de desenvolver um em especial: o de amar e perdoar.

Amar sem julgar. Eu tenho que desenvolver também a empatia, isto é, me colocar no lugar do outro para entendê-lo. Só assim eu conseguiria ser feliz. Sinto a presença dele agora. Ele está feliz. Diz ainda para eu me preparar que a minha vida vai mudar positivamente.

O meu propósito de vida, além de perdoar e amar a minha mãe, é levar o amor às pessoas, pois a humanidade está carregada de ódio”.

Ao encerrarmos a sessão, pergunto à paciente como ela estava se sentindo.

- “Sinto o meu peito bem aliviado”.

Pergunto então se agora ela estava em condições de perdoar sua mãe.

- “Sim, com certeza. Agora estou disposta a perdoá-la”.

Após 4 sessões de regressão, a paciente conseguiu perdoar verdadeiramente, passando a se relacionar com sua mãe, sem ódio ou repulsa. Pediu para que eu publicasse o caso dela em meu site para que outras pessoas fossem beneficiadas com a sua leitura.

Obtido no site SOMOS TODOS UM

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