LAGOSTA |
As lagostas espinhosas, ou seja, da família Palinuridae, na sua maioria, são originárias da Austrália, Nova Zelândia, Cuba, Brasil, África do Sul, Estados Unidos e México (Bowen, 1980).
As dificuldades encontradas para cultivar filosoma desde o ovo e o período extremamente longo do desenvolvimento das lagostas têm prejudicado o desenvolvimento do cultivo das mesmas. As espécies de interesse comercial capturadas na nossa costa ainda não foram cultivadas na totalidade, sendo a fase larval uma grande incógnita que desafia os pesquisadores.
Enquanto o cultivo comercial das larvas da lagosta espinhosa não é comercialmente viável, há um interesse crescente no cultivo de pueruli ou juvenis recentes para o tamanho comercial (Booth & Kittaka, 1994).
A captura de puerulus para propósito comercial é realizada, até o momento, apenas em pequena escala (Lee & Wickins, 1992). A captura de puerulus ou juvenil do mar para cultivo comercial é tolerada em Taiwan (Booth & Kittaka, 1994). Em Cingapura e na Índia, pequenos quantidades de Panulirus spp. são cultivados em gaiolas e viveiros (Lee & Wickins, 1992)
CICLO DE VIDA DA LAGOSTA VERMELHA
No Ceará existem 2 especies de lagostas economicamente importantes: a Panulirus argus, a lagosta vermelha, e a Panulirus laevicauda, lagosta de cabo verde. As fêmeas de lagostas P. argus e P. laevicauda em processo de reprodução possuem comprimento que pode ser maior que 15cm aproximadamente. As fêmeas acasalam após a ecdise ou muda do exoesqueleto. Na cópula, o macho deposita no esterno da fêmea o espermatóforo. Os óvulos são liberados após a cópula. A desova pode ocorrer durante o ano inteiro. Os ovos são, subseqüentemente, incubados no abdômen da fêmea por um período de 3 a 5 semanas, dependendo, sobretudo, da temperatura da água, sendo que em temperaturas mais elevadas o tempo de incubação pode diminuir. Acredita-se que a liberação das larvas ocorre primariamente em águas profundas.
As larvas de lagostas são conhecidas como filosomas, os quais, via de regra, habitam o oceano, onde completam 11 estágios, dentro de um período de aproximadamente um ano.
Após se completar a fase larval, os filosomas metamorfoseiam-se em um estágio transicional conhecido por puerulus. Este estágio pode durar de 2 a 4 semanas. Os pueruli, por sua vez, deslocam - se para o litoral, refugiando-se isoladamente em locais rasos, áreas de recifes, substratos de algas, etc. Eles tendem a se tornar mais gregários com o crescimento e começam a se reunir em locais, formações rochosas, etc. Por seu turno, os juvenis de mais idade migram sempre destas áreas denominadas berçários para locais mais profundos.
CULTIVO DE FILOSOMAS
O presente status do cultivo de larvas de lagostas é similar àquele alcançado com larvas de camarões há 50 anos, quando as pós-larvas foram cultivadas pela primeira vez.
Embora a alimentação das larvas ainda não esteja satisfatoriamente definida, o desenvolvimento destas tem sido alcançado ministrando-lhes nauplios de Artemia e mexilhões( 40 pequenos pedaços/20 filosomas). No entanto, devido à variação sazonal e disponibilidade de tais moluscos, a elaboração de uma ração será de grande valia para o estabelecimento do cultivo de lagostas em escala comercial. Porém, para se estabelecer o cultivo comercial, muitos problemas reclamam soluções. No presente momento, esta etapa vem sendo realizada de modo experimental, sendo que, durante o cultivo, os filosomas mortos e os resíduos alimentares são removidos diariamente, para evitar a possibilidade de contaminação da água de cultivo. É evidente que tais procedimentos são inapropriados para cultivos comerciais. O controle qualitativo da água deveria depender da atuação de organismos que pudessem melhorar a qualidade da água, como microalgas e bactérias. Para as espécies tropicais, a temperatura deve estar entre 24 a 29 ° C, a salinidade deve ser de 35 ‰ e o pH de 8 a 8,5. Além disso, a água do mar utilizada deve ser tratada com filtros de 1 a 5 µm e esterilizada com radiações ultravioleta. A densidade de filosomas pode variar de 2 a 5 indivíduos/litro.
ENGORDA
Nos dias atuais, a captura dos pueruli para propósitos comerciais é realizada apenas em pequena escala (Lee & Wickins, 1992), mas o ideal seria cultivar a lagosta desde o ovo.
As pesquisas apontam que várias espécies de lagostas podem ser cultivadas até o tamanho comercial de 200 g em 2 anos e de 300 g em 3 anos (Kittaka & Booth, 1994), visto que na natureza os crustáceos podem demandar um período de 3 a 4 anos para atingir o tamanho comercial.
Igarashi cultivou um exemplar de lagosta Panulirus argus de puerulus ao tamanho comercial em 810 dias, sendo o pioneiro neste campo no Brasil.
As lagostas podem ser cultivadas em tanques de fibra. Neste caso, pode-se utilizar como alimento, por exemplo: mexilhão, caramujo marinho, crustáceos. A alimentação pode ser oferecida diariamente na proporção de 1 a 15 % do peso do corpo. O método de engorda é relativamente simples quando comparado ao utilizado para a maioria dos crustáceos.
De acordo com algumas estimativas, podemos estocar lagostas a uma taxa de 6 kg/m2. Para o juvenil de Panulirus argus, a temperatura ideal situa-se entre 29 - 30 º C. Juvenis toleram salinidades baixas de até 20 ‰, mas a salinidade ideal é a oceânica. Recomenda-se o total de amônia abaixo de 0,5 mg/l e o pH entre 8,0 a 8,5.
CONSIDERAÇÕES
Observando - se os resultados obtidos em estudos realizados recentemente, várias espécies apresentam perspectivas para o cultivo comercial e progressos estão sendo feitos na área biológica e comercial. Neste ponto, informações técnicas científicas suficientes estão disponíveis para iniciar um projeto piloto para engorda de lagosta. Embora o mais importante atualmente seja o suprimento suficiente dos pueruli e juvenis recentes para o cultivo comercial, o desenvolvimento eficiente dos procedimentos de técnicas em larga escala e o intercâmbio de compra e venda devem ser efetuados de forma simples e direta para confirmar a viabilidade comercial da engorda de juvenis. Os maiores problemas enfrentados para se levar a bom termo os projetos de engorda de lagostas, não só no Brasil como no exterior, são o longo período para o retorno do investimento e a lucratividade modesta, devido ao dilatado período que o cultivo exige.