TILÁPIA

 
 

CULTIVO DE TILÁPIA

Marco Antonio Igarashi

As tilápias são nativas do continente africano e da Ásia menor (Gurgel, 1998). Cerca de 70 espécies estão taxonomicamente classificadas (Iclarm, 1984). A primeira espécie que chegou ao Brasil foi a T. rendalli, em 1952 (Gurgel, 1998). As tilápias são predominantemente de águas quentes. A temperatura da água do cultivo pode variar de 20 a 30°C, embora possam tolerar temperaturas de aproximadamente 12°C (Swift, 1993). Uma das tilápias mais procuradas no Brasil para cultivo é a chitralada, conhecida principalmente como tailandesa, linhagem desenvolvida no Japão e melhorada no Palácio Real de Chitral na Tailândia. Esta linhagem foi introduzida no Brasil em 1996 a partir de alevinos doados pelo Asian Institute of Technology (AIT) e, nos últimos 4 anos, vem sofrendo processo de melhoramento genético em nosso país (Zimmermann, 2000).

REPRODUÇÃO

Na grande maioria das tilapiculturas brasileiras, é freqüente constatar o início de reprodução nos viveiros 3 - 4 meses após a estocagem dos alevinos, sendo que esta reprodução prematura em animais de 30 a 40 gramas pode conduzir à ocorrência da indesejada superpopulação dos viveiros (Zimmermann, 1999), embora a maturidade sexual nas tilápias seja função da idade e do tamanho (Panorama da Aqüicultura, 1995).

As tilápias de importância comercial estão divididas em três principais grupos taxonômicos, distinguidos basicamente pelo comportamento reprodutivo. São eles o gênero Tilapia (os peixes incubam seus ovos em substratos), Oreochromis (incubam os ovos na boca da fêmea) e Sarotherodon (incubam os ovos na boca do macho ou de ambos) (Panorama da Aquicultura, 1995).

PRODUÇÃO DE OVOS

Um viveiro típico de desova pode ter 100m2 e 1m de profundidade, estocando uma densidade de 12 fêmeas para 4 machos, sendo que este viveiro produzirá 2.000 - 5.000 alevinos a cada 3 a 4 meses (Swift, 1993).

O número de ovos pode variar de acordo com as espécies e tamanho das fêmeas. Uma fêmea pode desovar de 1.500 a 5.000 ovos.

REVERSÃO SEXUAL

É possível fazer com que indivíduos que geneticamente são fêmeas desenvolvam fenótipo de machos, através da administração de hormônios masculinizantes adicionados a ração (Proença & Bittencourt, 1994). Chama-se isso de reversão sexual.

Para obterem-se alevinos revertidos, alimentam-se as larvas com rações contendo de 40 a 60mg de 17 alfa-metiltestosterona/kg de alimento (Panorama da Aqüicultura, 1995) por 3 a 4 semanas em condições de temperatura entre 24 a 29°C, quando todos os alevinos têm, pelo menos, 14 mm de comprimento (Santos & Silva, 1998). O percentual de machos após o tratamento freqüentemente fica acima de 95 %, mas ocasionalmente podem ocorrer percentuais de 80 a 90 %. A eficácia da reversão sexual é similar para O. niloticus, O. aureus e O. mossambicus (Panorama da Aqüicultura, 1995). O início do tratamento com o hormônio, por precaução, deve ser o mais cedo possível, ou seja logo após o consumo do saco vitelíno, isto porque o "timing" onde o peixe decide pelo sexo pode variar de acordo com as condições ambientais, principalmente com a temperatura da água. O mais comum, atualmente, é utilizar - se como referência o tamanho de até 13 mm (Santos & Silva, 1998). Aparentemente, parece não haver nenhum dano ao consumidor, já que o peixe é criado muitos meses sem esteróides antes do abate.

SELEÇÃO MANUAL

É feita através da observação da papila genital e, para se selecionar com mais precisão a tilápia nilótica, é preciso que os peixes tenham pelo menos 25 a 30 gramas (Panorama da Aqüicultura, 1995). Mesmo assim, experiências de campo mostram também uma precisão de 95 % (Panorama da Aqüicultura, 1995).

ALIMENTAÇÃO

Segundo Kubitza & Kubitza (2000), o alimento natural dos peixes é composto de inúmeros organismos vegetais (algas, plantas aquáticas, frutas, sementes, entre outros) ou animais (crustáceos, larvas e ninfas de insetos, vermes, moluscos, anfíbios, peixes, entre outros). De acordo com os mesmos autores algumas espécies de tilápias, em particular a tilápia do Nilo, aproveitam de forma eficiente o fito e o zooplancton.

A tilápia adulta pode se alimentar de produção natural nos viveiros resultado da adubação com fertilizantes inorgânicos e orgânicos.

Os alimentos podem compor 40 a 70 % do custo de produção de tilápias, dependendo do sistema de cultivo empregado, da escala de produção, da produtividade alcançada, dos preços dos outros insumos de produção, dentre outros fatores (Kubitza & Kubitza, 2000).

FERTILIZAÇÃO

O superfosfato duplo pode ser utilizado como fertilizante à taxa de 700 kg/ha/ano (Swift, 1993).

A quantidade de fertilizantes requerido varia com a fertilidade do viveiro e a densidade de estocagem. As taxas de aplicação típica de acordo com Swift (1995) são:

esterco de porco: 10.000 - 30.000 kg/ha/ano ou 2 animais/100 m2

galináceos: 10.000 - 12 000 kg/ha/ano ou 10 - 15 patos/100m2

gado: 30.000 kg/ha/ano


TAXA DE ESTOCAGEM

A taxa de estocagem é determinada pelo sistema de produção utilizado, pela quantidade de fertilizantes e alimentação suplementar disponível e pelo número de peixes requeridos (Swift, 1993).

Em cultivos com a Chitralada com 8 peixes/m2 de viveiro, foram obtidos em quatro meses animais com peso médio de 600 gramas (Zimmermann, 1999).

Um cultivo com machos de tilápia do nilo com densidade de estocagem de 40.000 peixes/ha, peso médio inicial de 40g, conversão alimentar de 1,2 : 1, taxa de sobrevivência de 90 %, peso médio final de 500 g, ciclo de produção de 6 meses, apresentará produtividade de 27.000 kg/ha/ano (Silva, 1998).

TANQUES-REDE OU GAIOLAS

O cultivo em tanques-rede ou gaiolas pode ser realizado em reservatórios, açudes e lagos. A sua produção pode depender das características físicas e biológicas (dimensão, profundidade, correntes, produção natural de alimento).

De acordo com Zimmermann (1999), a população Chitralada foi desafiada em até 550 peixes/m3 e produziu nestas condições biomassas de 295 kg/m3 (animais com mais de 500 gramas em 4 meses). Segundo o mesmo autor, em temperaturas médias de 26°C, alevinos com 2cm (0,5 g) vêm atingindo o tamanho comercial de 400 gramas em 116 dias (Zimmermann, 1999).

Segundo Lovshin (1997), machos de mesma idade são estocados a 200 a 600 alevinos/m3 em gaiolas de pequenos volumes (< 5 m3). Segundo o mesmo autor, produções entre 50 e 300 kg de tilápia por m3 são possíveis e gaiolas menores são mais produtivas por unidade de volume devido a uma mais eficiente troca de água.

ENGORDA

Embora existam vários viveiros com tamanho variando de 1.000 a 3.000m2 o tamanho do viveiro é decidido pela topografia do terreno, a quantidade de fertilizantes disponíveis para os fazendeiros e a quantidade desejada para colheita. Pode variar de poucas centenas de metros quadrados a alguns hectares.

 

VOLTA

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