26/10/2004 -
20h02
Mostra de Cinema: "Sociedade de Jesus" critica Igreja com
caso de amor
SÃO PAULO (Reuters) - Uma das novidades da 28a Mostra BR de Cinema de
São Paulo é a participação inédita de uma produção croata. Raras
e quase desconhecidas no Brasil, seus filmes fogem do convencional,
sendo reconhecidos por seu caráter intimista e conceitual.
E quem representa a Croácia é o jovem diretor Silvije Petranovic,
trazendo "A Sociedade de Jesus," cujo roteiro é baseado no
livro homônimo de seu compatriota Jiri Sotola.
O trabalho de Sotola fez relativo sucesso no país, graças à
crítica impiedosa à igreja católica e uma história de amor
sufocante, que passa longe do romance clichê e meloso que outros
escritores insistem em relembrar.
O filme apresenta o torturado padre Had, que sempre parece estar
colocando à prova sua dedicação religiosa. Servindo à Sociedade de
Jesus, o jesuíta enfrenta todo o tipo de intempérie para propagar a
doutrina cristã pelo país.
Sua tranquilidade termina de vez quando passa a ser confessor da bela
e viúva condessa Maria, que se torna uma tentação constante.
O gradual envolvimento entre os dois leva o padre a repensar sua
vocação e, claro, seu voto de castidade. Mas, enganam-se aqueles que
acreditam já ter visto algo similar. O abismo moral que os separa torna
vivo e pujante o turbilhão emocional interior que os traga.
As palavras não precisam ser ditas, mas o delicado olhar de
Petranovic faz o espectador se sentir uma testemunha desse amor
platônico e proibido.
Ao lado da história entre a viúva e o padre, se encontra toda uma
explícita crítica à igreja, que transparece nas ações do sacerdote
superior a Had. Interessado nas riquezas e no corpo da condessa, ele
simboliza a ganância eclesiástica que acompanhou a profusão da Igreja
no centro da Europa nos séculos 16 e 17.
Além de curiosa, devido à sua origem, a produção ainda obtém
resultados bastante positivos, a começar pelos detalhes, como
cenografia e figurino. Petranovic acerta também na fotografia e na
sensibilidade de seu olhar, ao contar uma história honesta e pura.
(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)
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