No dia 24 de outubro foi realizada no Ceará a reunião de fim de ano da Associação Brasileira de Surf Profissional (Abrasp). A eleição da diretoria para o biênio 1999/2000 e definição das novas regras do Circuito Brasileiro de Surf Profissional foram os assuntos mais importantes em pauta.
A Assembléia Geral Ordinária do Conselho Executivo da Abrasp elegeu por unanimidade o catarinense Alexandre Fontes como novo Presidente da entidade. Os demais cargos não sofrerão alterações. Em relação às novas regras as mudanças mais significativas foram as seguintes:
1 Mudança nos níveis de premiação e pontuação. Os novos níveis serão 1A (US$ 2500 de prêmio e 250 pontos), 2A (US$ 5000/500 pontos), 3A (US$ 10000/1000 pontos), 4A (US$ 15000/1500 pontos), e 5A (US$ 20000/2000 pontos).
2 Nos eventos de 4A e 5A será obrigatória a realização de baterias homem-a-homem a partir das quartas-de-final.
3 Diminuição do peso das etapas do WQS (divisão de acesso ao Circuito Mundial) na pontuação do Ranking brasileiro. As provas do WQS de nível 3 e 4 estrelas, que oferecem US$ 40 mil e US$ 60 mil em prêmios, passarão a valer 1000 pontos na Abrasp. As de nivel 5 estrelas (US$ 80 mil) valerão 1500 pontos e as de nivel 6 estrelas (US$ 100 mil) valerão 2000 pontos. Não existirão no Brasil etapas do WQS de nível 1 estrela (US$ 10 mil) e 2 estrelas (US$ 20 mil).
4 Só serão computados os oito melhores resultados de cada atleta para a formação do ranking.
Depois dop Recife e do Rio de Janeiro, agora é a vez da Cidade do Guarujá (SP) tes o seu Wave Bus, que leva uma foto de um tubo de Almir Salazar na lataria e foi criado especialmente para o transporte de surfistas e banhistas. Em seu interior o veiculo possui bancos impermeáveis, espaço para colocação de pranchas, cadeiras e guarda sóis, além de TV e video com imagens de esporte e mensagens ecológicas. A capacidade do Veículo e de 44 passageiros sentados e o preço da passagem e R$1,00. A iniciativa foi da prefeitura da cidade com o apoio da Antiqueda e da Hawaii Surf Point. O Ônibus que pertence a viação Guarujá, sai da praça 14 Bis, passando pelas praias do Tombo, Asturias, Pitangueiras, Enseada e Pernambuco de onde o ônibus parte na volta. Os horários de ida são 7h, 9h40, 12h20, 15h, 17h40 e os de volta são 8h20, 11h, 13h40, 16h20 e 19h.
Campeã brasileira em 97, 3ª colocada no ano passado e a atual 5ª do ranking mundial, a santista Lissandra Tutty
(UniSantos/ Genesis) inicia sua trajetória buscando tanto o bicampeonato nacional quanto o seu primeiro título do mundo.
Primeiro ela disputa as duas etapas iniciais do Circuito Brasileiro (no Nordeste) e, logo em seguida, viaja para o Japão, para a abertura do Circuito Mundial.
"Vai ser uma sequência importante e quero muito começar a temporada bem. Este ano estou decidida a garantir o título
mundial. Até agora consegui cumprir todos os meus objetivos. Em 97 minha prioridade era o título brasileiro. No ano passado
queria ficar entre as oito primeiras no mundial e terminei em 5º, na frente, inclusive da bicampeã mundial Daniela Freitas.
Agora estou mais experiente e acredito que chegou a hora do título mundial", diz Tutty, que no ano passado, abriu o Circuito
Brasileiro com dois vice-campeonatos, em Pernambuco e Alagoas.
Este ano, o ranking volta a ser aberto na Baia de Maracaípe, em Ipojuca, no litoral pernambucano, nesta sexta-feira,
sábado e domingo (dias 16, 17 e 18). A 2ª etapa está marcada para o Ceará, no próximo final de semana (dias 23, 24 e
25). "Apesar de não gostar muito de ondas pequenas, fui bem no ano passado e agora que já conheço aquele tipo de mar,
espero repetir o bom desempenho", afirma a atleta, que logo na sequência, no dia 28, embarca para o Japão.
TAMBÉM NA INDONÉSIA - Na terra do Sol Nascente, Tutty não sabe o que vai encontrar em relação às ondas. Sua única certeza é que vai ter de encarar o forte frio. "Lá no Japão vai depender do mar. No ano passado estava grande, mexido. Em 97, pequeno. É sempre uma surpresa, mas vou para ganhar. Quem quer ser campeã mundial tem de surfar bem em todo o tipo de mar", explica a bodyboarder, de 25 anos, que vai aproveitar sua ida para o outro lado do mundo e viajar a Indonésia, ficando 20 dias treinando e aprimorando o seu surf.
"No ano passado também fui para a Indonésia e surfei ondas perfeitas que me ajudaram muito durante o ano. Foi um treino
excelente", conta Tutty, que na temporada 98/99 terminou o ranking em 5º lugar, apenas 515 pontos atrás da campeã mundial
Mariana Nogueira, competidora com quem dividiu a vitória na etapa das Ilhas Reunião.
Mesmo estando num paraíso, onde todos surfistas e bodyboarders sonham em viajar, Tutty tem um motivo forte para voltar logo ao Brasil. Ela está cursando Jornalismo, na Universidade Católica de Santos (UniSantos), e não pode perder muitas aulas. "Os professores tem até uma certa compreensão, sabem que é uma carreira e que tenho potencial para chegar ao título mundial, mas não posso deixar de participar das aulas", ressalta Tutty, que já é formada em Relações Pública, também pela
UniSantos, hoje sua principal patrocinadora.
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Morreu em Campinas na última sexta-feira (dia 30), vítima de câncer no pulmão, Osmar Gonçalves, considerado o "Pai do Surf Brasileiro". Osmar estava com 76 anos e morava em Campinas. Foi ele quem fez a primeira prancha de surf no país, em dezembro de 1938. Surfou por sete anos na praia do Gonzaga, em Santos. O equipamento teve como modelo um exemplar publicado na revista norte-americana Mecânica Popular. Era de madeira oca, media 3,6 metros e pesava 80 quilos.
A construção da prancha teve ajuda de Sílvio Manzonni e João Roberto Suplicy Haffers e apoio técnico do engenheiro naval Júlio Putz. "Ele foi um mito no surf brasileiro, iniciou tudo", comentou Cisco Araña, que há três anos foi o responsável pela grande homenagem em vida ao surfista, feita na Escolinha de Esportes Radicais Semes/Sthill, a primeira do gênero no Brasil, instalada na praia do José Menino, em Santos.
Na ocasião, Osmar ganhou uma placa e depois teve a sua imagem retratada na parede da escolinha. Recentemente, ele foi convidado para outra homenagem em Santos, na aula inaugural de surf na Faculdade de Educação Física e Esportes Santa Cecília. Doente, ele recusou o convite. Cisco, idealizador da inclusão do surf como grade curricular na faculdade, revelou que uma réplica da primeira prancha de Osmar será feita para ficar em exposição para os alunos.
A 2ª etapa do Circuito Paulista Hang Loose Júnior e Mirim de Surf está confirmada para os dias 15 e 16 na praia dos Pescadores, em Itanhaém, litoral sul de SP. O campeonato é um dos mais fortes do país para os surfistas com até 18 anos e define os campeões estaduais nas categorias estreantes (8 aos 12 anos), iniciantes (até 14), mirim (no máximo 16) e júnior (limite de 18 anos).
O grande destaque do evento é Adriano Mineirinho, de Guarujá. Com apenas 11 anos ele é considerado a maior revelação do surf paulista nos últimos anos. Na 1ª etapa, ele venceu as categorias estreantes e iniciantes. As inscrições custam R$ 40,00 e podem ser feitas nas lojas Hot Sand, em Santos, Curvão, em Guarujá, e nas associações de surf do litoral paulista. Mais informações (013) 227.1933.
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Má notícia para o skate brasileiro. Pentacampeão brasileiro e vencedor duas vezes do X-Games de skate, categoria street, o paranaense Rodil "Ferrugem", da equipe Billabong, vai ficar de fora do Slam City Jam, em Vancouver, no Canadá, um dos mais importantes campeonatos do mundo. Depois de sofrer uma contusão no cotovelo direito, ele não tem condições de participar da disputa, que acontece neste final de semana (até domingo, dia 2).
Atual campeão do evento, Ferrugem era considerado o grande favorito e, inclusive, tem a sua foto no pôster do campeonato. Antes da contusão, ocorrida durante a 1ª etapa do Brasileiro, em São Paulo, o skatista dizia estar tranquilo, uma de suas principais características. O atleta só vinha evoluindo no Slam. Foi 5º colocado em 95, 3º em 97 e vencedor no ano passado.
Praticamente recuperado e voltando a treinar, Ferrugem deve fazer a sua volta aos campeonatos já no dia 9, na 2ª etapa do Brasileiro em Brasília. Depois ele segue para São Francisco, nos Estados Unidos, para tentar o tricampeonato do X-Games, as olimpíadas dos esportes radicais. Na competição, que será realizada no final de junho, Ferrugem é figura conhecida. Venceu em 96 e 98. "Infelizmente não pude participar de 97, porque sofri uma lesão na costela, uma semana antes da disputa", lembra o competidor da equipe Billabong.
A sequência de campeonatos será na Europa. No início de julho, ele disputa o Radlands 99, em Northampton, na Inglaterra, e de 9 a 11 de julho, o Munster Monster Mastership World Cup, na Alemanha. Este último, um dos campeonatos mais tradicionais do mundo, onde Ferrugem já foi 4º colocado em 95. "Mesmo sem disputar o Slam, vou tentar terminar o ano bem no ranking", diz o atleta, que foi vice-campeão mundial em 96.
DEDICADO E TRANQUILO - Com 21 anos, "Ferrugem" é atleta de Cristo e tem como principais características a técnica, tranquilidade e segurança nas manobras. Dedicado, ele treina cerca de quatro horas diárias e completa seu preparo físico fazendo natação. Além disso, gosta de surfar e fazer trilha de moto. Nos treinos de skate, anda até cansar e procura sempre inventar novas manobras. A sua preferida é o flip (onde o skate gira no próprio eixo).
EQUIPE FORTE - Além de Ferrugem, a Billabong está patrocinando outros atletas de ponta no skate brasileiro. Também estão na equipe Marcelo Kosake, campeão brasileiro 98 de vertical e Cristiano Mateus, 3º colocado no ranking brasileiro de vertical.
"Estamos investindo forte também no skate porque sentimos que hoje o mercado não é apenas de surf wear e sim board wear, ou seja, temos um público muito grande no skate e até no snowboard, além do surf, onde continuamos incentivando o crescimento e fortalecimento do esporte, com o Billabong Pro Júnior, a seletiva brasileira do Mundial para surfistas com até 20 anos, no Havaí", explica o proprietário da marca no Brasil, Ricardo Piazza.
A Billabong é uma das três maiores marcas do ramo de board wear do planeta. No surf tem atletas de ponta, como os australianos Mark Ochillupo, Taj Burrow, Luke Egan e Michael Lowe e os havaianos Shane Dorian e Ross Willians, todos no WCT (elite do surf mundial). O time de estrelas conta, também, com a atual campeã mundial do WCT, a australiana Layne Beachley. No bodyboard está o novo campeão mundial, o sul-africano André Botha, e no snowboard, o campeão mundial de 97, Luke Fitcher.
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Pertencente à geração que disputou Mundial de Surf Amador de Porto Rico, em 1988, junto com Fábio Gouveia, Teco Padaratz, Rodrigo Rezende e Piu Pereira, o surfista da Baixada Santista ZÉ PAULO, 30 anos, é hoje um dos maiores especialistas nas ondas da Indonésia. Com 11 anos de bagagem no arquipélago, ele oferece aos surfistas de todo o mundo, principalmente os brasileiros, um serviço de primeira qualidade em surf charter, levando a galera aos melhores picos do paraíso, com todas as condições para um surf perfeito. Hoje, Zé Paulo divide o seu tempo entre as viagens para o arquipélago das 15 mil ilhas e a praia de Camburi, em São Sebastião (litoral norte de SP), seu outro paraíso. Acompanhe a entrevista:
Você hoje tem uma vida que todos querem. Faz o que gosta ...
É isso mesmo. Por isso que eu não estou empolgado para voltar a competir. Eu faço o meu roteiro. Já há alguns anos que eu escolho a minha profissão, decido onde ir. O contrato com os meus patrocinadores é ótimo. Eles me pagam durante todo o ano e eu junto todo o material que consegui na mídia, levo para eles no final do ano para ver se o que eles investiram em mim foi válido como retorno.
E está valendo?
Tá valendo. O retorno sempre foi maior que o investimento. Por isso que eu sempre renovo com os mesmos patrocínios.
E porque esta preferência pela Indonésia?
Eu acho a Indonésia um dos melhores lugares do mundo, pela quantidade de ondas que existe no arquipélago, pelo custo das coisas. É um lugar acessível para a gente e não existe localismo. É um lugar aberto e livre. É o que a gente chama de campo neutro.
Já são 11 anos...
É, graças a Deus, já tenho 11 temporadas seguidas, 11 anos de experiência e vou continuar, no mínimo, mais uns 10 ou 20.
E como é que está a sua vida lá? Hoje já virou uma profissão esta viagem. Você trabalha com o surf turismo e já tem até uma estrutura montada ...
É isto aí é uma novidade para o pessoal. Eu estou com uma estrutura legal, tenho muitos contatos, um barco e trabalho junto com uma agência de turismo. A gente aluga carros, motos, damos assessoria para toda a viagem. Tudo o que for necessário para o surfista brasileiro, para o surfista japonês, porque o meu sócio é do Japão, enfim, para os surfistas do mundo inteiro, a gente oferece. Temos um serviço especializado. Porque nestes 10 anos eu aprendi sobre direção do vento, condição do swell. Então, é diferente dos outros barcos, que só fazem o lance financeiramente. Não manjam muito de ondulação, nem de vento. Eles só sabem que a onda está ali e vão levar você para o local. Eu sou diferente, vou levar você na onda, com o vento e com a direção do swell certos. A gente nunca erra.
Com é a sua estrutura? Como é que funciona o serviço?
Bom, eu tenho um telefone celular e um fax em Bali, que é num hotel de um amigo meu. Ele recebe todas as mensagens e eu resgato. Dependendo do pedido das pessoas, a gente tenta suprir as necessidades. Eu tenho barcos de luxo, barcos simples. Tenho todos os tipos de carro, até de luxo, com motorista, motos novas ou usadas, para atingir todos os tipos de público.
Você começou este trabalho há quanto tempo?
Eu comecei este trabalho praticamente em 92, com o Tony Fleury e o pessoal da Hardcore. No início eu tinha o contato das empresas de barco, das locadoras de automóveis, dos hotéis. Eu era intermediário, fazia os contatos e entregava tudo de mão beijada para o pessoal. Agora, eu comecei a construir o meu barco, tenho a minha agência de turismo e estou começando a adquirir os meus bens.
Como é o seu barco?
Este barco tem 50 pés (cerca de 16,5 metros), oito cabinas, para duas pessoas cada, com ar condicionado, bote inflável com dois motores. O barco é a motor e a vela. Tem uma cozinha legal, um bom banheiro. É um dos maiores barcos de surf charter da Indonésia, atualmente.
E como é que funciona a trip? Você quem escolhe os picos?
A gente tem uma área restrita para trabalhar. A nossa área é Lombok e Sumbawa no barco, que representam inúmeros picos excelentes. Mas eu posso ser guia para todas as ilhas da Indonésia, independente do meu barco. Por exemplo, se você quiser ir para Sumatra, Java, qualquer ilha que seja onde tenha onda, a gente pode ir.
Defina Indonésia em relação a onda.
Para mim é um dos melhores locais do mundo, se não for o melhor. Tá certo que não tem o tamanho e o power do Havaí, mas em compensação ganha na perfeição e na quantidade de ondas que existe no arquipélago. Tenho certeza de que no mundo não existe um lugar com tantas ondas e tão perfeitas quanto a Indonésia.
Como é aquela história da quantidade de ondas...
É arquipélago com 15 mil ilhas. Se cada ilha tiver só duas ondas, são 30 mil ondas. Você vai precisar da sua vida, mais uma emprestada e acho que ainda não vai dar para surfar tudo. Então é onda para surfista algum botar defeito.
Você pretende ampliar este serviço para outros lugares ou vai ficar só na Indonésia?
Meu negócio é na Indonésia. Eu acho que eu nasci para aquele lugar. Desde a primeira vez que eu fui para a Indonésia, há 11 anos, eu me apaixonei por este lugar e eu nunca vou me esquecer quando eu fui embora a primeira vez, fui chorando, contrariado, porque minha passagem era promocional e não podia ser alterada. E eu jurei voltar e todo o ano eu saio chorando, querendo ficar um pouco mais.
Conta como foi a sua primeira vez na Indonésia.
É uma coisa engraçada. A minha primeira semana na Indonésia foi horrível. Eu queria desistir. Na época não tinha estrutura alguma. Era tudo difícil. Eu mal falava inglês. Eu não tinha experiência com reef, coral e as ondas estavam bem grandes neste ano de 88 e quase não tinha brasileiro. Os brasileiros que estavam na ilha eram o Tico, o Sidão, da OP, o Klécio, da K&K, eu e o Renan, mais nenhum brasileiro. Eu me senti desprotegido. O primeiro dia que eu fui surfar com o Renan, deram informação errada de Uluwatu, porque na época para você achar a praia de Uluwatu era uma aventura. Padang Padang não existia caminho. Você tinha de ir pela água ou então pelo meio das fazendas. Saímos de Kuta 8 horas da manhã e só conseguimos encontrar a praia às quatro da tarde. Aí a adrenalina foi tanta, a maré seca, o fundo de coral, aquela coisa toda, que eu acabei esquecendo a minha botinha. E sem botinha não adianta nem ter prancha, porque não dá para surfar. O coral é muito afiado. Eu fui obrigado a chegar no dia seguinte a gente foi para Uluwatu e eu tive de comprar a minha botinha na loja por 50 dólares, sabendo que era a minha botinha. Porque não tinha mais nenhuma outra. Não existia surf shop na época, não existia nada. A minha primeira semana foi o pior lugar do mundo. Eu jurei nunca mais voltar e eu queria ir embora, só que não podia mudar a passagem, que era promocional. Fui obrigado a ficar lá, mas da segunda semana em diante, encontrei um fotógrafo e pegamos altas ondas, só a gente. Daí para a frente comecei a pegar gosto. Comecei a pegar uns tubos, ou melhor, as ondas que me pegavam e comecei aprender a entubar na marra. E assim que eu comecei a pegar gosto.
E em 92 você teve a idéia de começar a atuar com surf charter?
De 90 em diante, começou o crowd na Indonésia. Na década de 90 começou muita gente a frequentar e eu tive a necessidade de sair para outras ilhas. Porque em Bali você não precisa de barco. E nas outras ilhas, as ondas costumam quebrar mais fora, Super Sucks, Scar Reef quebram no outside reef, precisando de barco. E estas ondas não tinham ninguém na época. A gente foi descobrindo os picos, explorando e eu acabei conhecendo o dono da empresa de barco. E eu alugava os barcos para ele. Todos os brasileiros que chegavam, me procuravam, porque eu era o único que tinha o contato e alugava, ganhando uma comissão.
Voltando ao seu barco, como é que vai funcionar o serviço? A equipe é toda profissional?
Tem tudo, tudo. Tem cozinheiro, marinheiro, capitão, tudo e todos com experiência na área.
E a comida, tem para todos os gostos?
A gente tem um cardápio definido e todos os dias temos três pratos diferentes a escolher. A gente passa pela manhã com o cardápio e cada um assinala o que quer e quando sai da água no meio dia já está o prato na mesa. O legal é que eu tenho experiência no negócio. Agora eu estou tendo o meu, mas antes trabalhei nos barcos dos outros e aprendi bastante coisa. Toda esta experiência vou passar para o que é meu.
Você vai continuar dividindo seu tempo entre Indonésia e Brasil ou pretende ficar lá de vez?
Pelo contrário. Eu pretendo ficar cada vez mais no Brasil. Eu estou a fim de ficar este ano uns três meses, voltar por um mês e depois ir novamente para mais três meses.
E por que está pensando em ficar mais tempo no Brasil?
Aqui é o meu país, todo mundo fala a mesma língua. Eu faço parte da história do país no esporte. Para mim é importante estar no Brasil, as pessoas estarem me vendo. É uma relação importante com o povo do meu país. Quero ajudar o esporte no Brasil em geral, com a experiência que estou adquirindo lá fora, com as viagens que fiz pelo mundo inteiro atrás das ondas.
Você falou em ajudar o surf. Em 94, você foi um pioneiro, junto com o Adrian Kojin, na abertura de escolinhas de surf. Fez um trabalho inovador. Agora, o que você pretende fazer para ajudar o esporte. Trabalhar novamente com escolinha?
Eu tive oportunidade uma vez com a Prefeitura de São Vicente. Eles me ofereceram uma escolinha, mas eu cheguei a conclusão que ainda não era a minha hora. Porque isto é uma responsabilidade muito grande e você tem de estar 100% nisto. Não dá para ficar nem se for 90%. Eu não vou conseguir me dedicar totalmente, sabendo que na Indonésia está rolando aquelas ondas. Eu vou ficar aqui maluco. Eu preferi não me envolver ainda. Isto é uma responsabilidade muito grande e, a partir do momento que eu estiver participando eu quero bem feito.
E voltar a competir? Tem vontade?
Eu sinto muita vontade, mas acho que o surf de competição no Brasil ainda é muito desvalorizado e desmotivado. Mas eu treino diariamente, estou num ritmo bom de surf. Estou com um equipamento excelente, porém não estou com disposição, porque acho a premiação um tanto quanto fraca pelos custos que exigem um campeonato. Às vezes, mesmo você ganhando dinheiro, está empatando ou até perdendo. Não vejo muita vantagem em competição no Brasil.
Mas você quer voltar a correr o Circuito Mundial ou o seu caminho é mesmo o free-surf?
Eu tenho vontade de correr o Circuito Mundial, o Circuito Brasileiro. Mas como eu falei, falta apoio. Hoje os meus patrocinadores não querem nem ouvir falar em competição. Eles querem saber qual a edição que vai sair aquelas fotos boas ou qual é a matéria na televisão que vai sair. Que é o que tem dado muito mais retorno a eles. Infelizmente no Brasil a realidade é dura. A falta de ondas prejudica muito a competição. Você acaba ficando prejudicado em termos de material. Se eu tiver só competindo eu não vou conseguir um material bom para fotos de camisetas, anúncios, de vídeos para programas de TV. Então, eu estou realmente me dedicando às ondas perfeitas, ao cenário de verdade.
Você está se dedicando a uma carreira nova, produzindo vídeos, junto com a sua mulher (Adriana Jordão). Está dando certo?
É eu sou o atleta e apresentador e ela é a video-maker. A gente já está com uma experiência legal. Começamos em 96, numa brincadeira, quando a gente foi fazer uma matéria para a Fluir.
E ela te acompanha em todas as viagens?
Em todas. Em 96 ela foi para a Indonésia, que foi o primeiro programa que saiu na TV Tribuna (afiliada da Rede Globo no litoral paulista), muito legal. Logo na sequência fomos para o Tahiti, quando eu fiz a travessia do Oceano Pacífico. Eu atravessei o mar num veleiro. Eu fiz todas as ilhas do Havaí, velejando, depois eu fui do Norte ao Sul do Pacífico, ao Tahiti. Eu fui o primeiro brasileiro a ir nas Ilhas Marquesas. Fui na alfândega local fazer o registro da chegada e constatei que nós tínhamos sido os primeiros brasileiros a pisar nas Ilhas Marquesas. É um arquipélago da Polinésia Francesa, onde ainda existem canibais, frutas de tudo quanto é tipo. Eu nunca vi um lugar com tanta fruta na minha vida. A gente mergulhava no meio de tubarões...
Para você o free-surf vale a pena?
Para mim sim. Eu faço o meu planejamento, eu traço o meu rumo e as minhas metas. Eu sou funcionário da empresa, mas eu tenho liberdade de escolha, livre arbítrio para fazer o que eu quiser, a hora que eu quiser e onde eu escolher. Eu não tenho pressão de nada. Meu único compromisso é no final do ano é estar com todo o material para apresentar e comparar o investimento que foi feito e o retorno que foi dado. E graças a Deus tem sido sempre positivo.
Qual a onda que falta?
Fidji. É o que está faltando mesmo. Porque o resto eu já fui para todos os lugares.
Qual a melhor onda que já surfou?
A melhor onda que eu já surfei na minha vida foi Super Sucks, Sumbawa. É uma onda rada de quebrar na Indonésia. Ela quebra duas vezes por ano, três no máximo. E eu acho que eu peguei um dos maiores mares que deu lá até hoje. Conseguimos fotografar, filmar, foi muita sorte, é uma coisa super exclusiva, para poucas pessoas, quase ninguém.
Agora, eu queria que você definisse um pouco o Zé Paulo?
Eu sempre fui um cara humilde. Para mim, quando era campeão ou perdia ou quando saia capa de revista, filmes ou programas de TV, era apenas um reconhecimento pelo meu trabalho. Nada que mudasse a minha personalidade. Sempre fui um cara sério, sempre estudei. Me formei de técnico de eletrônica. Leio bastante e procuro aperfeiçoar os idiomas. Hoje falo fluente inglês, indonesiano, francês, espanhol. Estou tentando aprender um pouco de japonês. E sempre gostei de viajar. Desde jovem, quando viajava pelo Brasil, depois pelo mundo, sempre adorei novas culturas e me encaixei muito bem com isto. Acho que nasci para viajar, para descobrir novos lugares, para estar sempre em busca da onda perfeita. Nasci para surfar por prazer e não só por competição. Antes, surfava só atrás de pontos, pódios, público, pelos patrocinadores. Hoje estou surfando para mim, pelo puro prazer de surfar. Acho que isto é muito válido.
E na sua carreira como competidor, você se acha vitorioso?
Eu acho que sim. Consegui vencer várias etapas no Amador Brasileiro. Venci algumas etapas do Brasileiro Profissional, do Paulista Profissional, fui para o Mundial Amador em 88, em Porto Rico. Para o Brasil, só faltou mesmo o título de campeão brasileiro. Eu fui vice-campeão brasileiro amador em 87 e vice-campeão brasileiro profissional em 91, mas tudo bem, eu estou super satisfeito com a minha carreira de atleta. Só tenho de agradecer a Deus e a todas as pessoas que torceram por mim, acreditaram no meu talento, no meu sucesso. Tenho a maior vontade de voltar, mas se hoje eu voltasse, seria pelo prazer da competição e pelo reencontro com o pessoal, que era o que eu mais gostava nas competições.
E como está a sua vida no Brasil?
Aqui tenho uma vida legal, tranquila em Camburi. Tenho o meu sítio com vários tipos de frutas, meus cachorros. Levo uma vida de sítio na praia. É uma vida bem rural. Já estou lá há 10 anos.