A Eletrificação nas Ferrovias Brasileiras

Companhia Guarujá


A prosperidade proporcionada pelo ciclo do café também se refletiu em lugares não ligados diretamente ao cultivo e transporte do café. Uma delas foi o turismo nas estâncias próximas dos locais onde circulavam fazendeiros, corretores, comerciantes e outros profissionais diretamente envolvidos com o comércio de café. Os balneários de Santos, Guarujá e adjacências foram beneficiados pelo desenvolvimento da estrutura necessária para o comércio e transporte para exportação do café e do grande afluxo resultante de fazendeiros e corretores.

As praias do Guarujá são muito belas e, no final do século XIX, virtualmente desertas, já que o acesso à região era muito difícil. O acesso direto pelo continente, via Cubatão, somente foi viabilizado no final da década de 1960 devido ao terreno de mangue que dificultava sobremaneira a construção de estradas estáveis. A opção mais viável de acesso ao Guarujá consistia em se atravessar o estuário em frente ao porto de Santos, atingindo-se Itapema, já na ilha de Santo Amaro, e daí seguir até a cidade do Guarujá.

Apesar das dificuldades de acesso a beleza das praias do Guarujá fez com que o empresário Elias Pacheco Jordão fundasse, no final do século XIX, a Companhia Balneária. Ela construiu o Grande Hotel de la Plage na praia das Pitangueiras. Logo o Guarujá se torna grande atração turística para brasileiros e estrangeiros.

Para facilitar o acesso dos turistas à nova estância, a Companhia Balneária iniciou em 1892 a construção da linha de bondes - na verdade, uma pequena ferrovia - entre o porto de barcas de Itapema e a Praia das Pitangueiras, com extensão aproximada de nove quilômetros. Ela é inaugurada a 2 de Setembro de 1893, numa solenidade que contou com a presença do Presidente do Estado, Bernardino de Campos, além de outras autoridades. Os turistas que se destinavam ao Guarujá tomavam um pequeno vapor no porto de Santos, chamado Cidade de São Paulo, que atravessava o estuário até Itapema. Lá havia uma estação onde os turistas pegavam um trem a vapor que seguia até a frente do Grande Hotel, na praia das Pitangueiras.

Essa linha de bondes incluía também um pequeno ramal entre o Guarujá e a localidade de Santa Rosa, em frente ao bairro da Ponta da Praia em Santos, com extensão aproximada de três quilômetros. No final da década de 1910 esse ramal foi desativado, sendo construída uma estrada de rodagem. Em 19 de Janeiro de 1918 é implantado um serviço de balsas entre a Ponta da Praia e Santa Rosa, viabilizando o tráfego direto de automóveis entre Santos e o Guarujá. Estava plantada a semente que destruiria, quase quarenta anos depois, essa pequena ferrovia. Contudo, a incipiente evolução rodoviária do país ainda lhe garantiu uma boa sobrevida.

Em 4 de Maio de 1923 a Companhia Guarujá, que havia assumido o controle do Grande Hotel e da linha de bondes em 1901, anuncia uma série de melhoramentos no complexo turístico, incluindo a eletrificação da ferrovia. Certamente essa decisão foi influenciada pelas eletrificações bem sucedidas que já haviam sido feitas na E.F. Corcovado, E.F. Morro Velho e no Ramal Férreo Campineiro, pequenas ferrovias com características similares à da linha da Companhia Guarujá.

Os equipamentos usados na eletrificação foram fornecidos pela Siemens; as obras foram dirigidas pelo eng° Ettore Bertacin, da Casa Siemens de São Paulo e tiveram duração de oito meses. A subestação elétrica principal, que também abastecia o distrito de Itapema, estava localizada "próximo das torres grandes da Companhia Docas de Santos", recebendo a corrente em 40.000 volts e transformado-a a 6.600 volts. A subestação retificadora, que reduzia e retificava a corrente alternada de 6,6 kV para 750 volts a ser usada na linha de contato, situava-se no quilômetro 4 da via férrea, ou seja, próximo à metade de seu percurso, no bairro da Conceiçãozinha.

Todo o material rodante era de origem alemã, tendo sido produzido pelas firmas Siemens e M.A.N. - Maschinenfabrik Augsburg Nürnberg. Foram adquiridos dois bondes de 106 HP, numerados #3 e #9, e uma locomotiva elétrica de 106 HP para tracionar trens de carga. Esta máquina, com 18 t de peso, tinha capacidade de tracionar trens de 47 t de carga a uma velocidade de 45 km/h. A eletrificação foi inaugurada a 11 de Janeiro de 1925.

Infelizmente essa melhoria não impediu que a Companhia do Guarujá viesse a apresentar déficits crescentes, requerendo auxílio do governo estadual. Em 1° de Outubro de 1926 a Lei Estadual n° 2140 permite a encampação da Companhia Guarujá. Seus bens passam a ser propriedade do governo através do decreto estadual n° 4192, de 12 de Fevereiro de 1927. Foi então criada uma repartição municipal denominada Serviços Públicos do Guarujá que administrava, entre outros serviços, a antiga ferrovia da Companhia Guarujá. Em 1930 esta empresa adquiriu mais dois bondes da M.A.N., numerados 5 e 7, e construiu um ramal de três quilômetros até o Sítio Cachoeira para o transporte de carga, com extensão aproximada de 2,5 km. O bonde #3 seria sucateado após um acidente ocorrido na década de 1930.

A 3 de Julho de 1934 foi criada a Estância Balneária do Guarujá, evento que motivou a realização de melhorias no serviço da antiga ferrovia da Companhia Guarujá. Decidiu-se então construir uma nova estação e oficinas, localizadas agora na av. Leomil, a dois quarteirões da praia. Elas foram inauguradas a 21 de Dezembro de 1935.

Em 1952 foram realizadas novas obras de melhoria na linha de bondes do Guarujá, mas sua situação vinha se tornando cada vez mais crítica devido à pesada concorrência das empresas de ônibus. A estrada de rodagem que ligava Santa Rosa, o ponto onde atracavam as balsas vindas da Ponta da Praia, até o Guarujá havia sido asfaltada. Dessa forma os passageiros podiam seguir de Santos até o Guarujá sem precisar baldear para uma barca e, de lá, para o bonde; sem dúvida uma comodidade que aumentou decisivamente a competitividade do transporte rodoviário.

O serviço de bondes acabou por ser interrompido a 13 de Julho de 1956. O material rodante que ainda se encontrava em bom estado seguiu para a E.F. Campos do Jordão, que enfrentava na época carência de material rodante para atender à demanda pelos seus serviços.




- Referências Consultadas


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Última Atualização: 16.06.2002

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