A formação histórica do Brasil incorporou a herança de três culturas : a africana, a indígena e a européia. Este processo foi marcado por violências de todo o tipo, particularmente do colonizador em relação aos demais. A perseguição se deveu a preconceitos e a crença da elite brasileira numa suposta alienação provocada por estes cultos nas classes populares.
No início do século XX, o choque entre a cultura europeizada das elites e a cultura das classes populares urbanas, provocou o surgimento de duas tendências religiosas na cidade do Rio de Janeiro. Na elite branca e na classe média vigorava o catolicismo ; nos pobres das cidades (negros, brancos e mestiços) era grande a presença de rituais originários da África que, por força de sua natureza e das perseguições policiais, possuíam um caráter reservado.
Na segunda metade deste século, os cultos de origem africana passaram a ser freqüentados por brancos e mulatos oriundos da classe média e algumas pessoas da própria elite. Isto contribuiu, sem dúvida, para o caráter aberto e legal que estes cultos vêm adquirindo nos últimos anos.
Esta mistura de raças e culturas foi responsável por um forte sincretismo religioso, unificando mitologias a partir de semelhanças existentes entre santos católicos e orixás africanos, dando origem ao Umbandismo. Ao contrário do Candomblé, a Umbanda possui grande flexibilidade ritual e doutrinária, o que a torna capaz de adotar novos elementos. Lembaramos à incorporação de divindades de origem indígena (o caboclo) nos rituais umbandistas, nos últimos quarenta anos.
A freqüencia a estes cultos justifica-se por opções de fé, dificuldades na vida profissional, na afetiva, por doenças, motivações artísticas e científicas. Os terreiros de umbanda são, portanto, locais onde se buscam soluções para os problemas da população urbana, principalmente da mais pobre. Isto ocorre no momento da consulta, quando o público presente faz os seus pedidos aos orixás.
Os terreiros de Umbanda são pequenas comunidades religiosas constituídas sob a liderança de pais ou mães-de-santo. São eles que conhecem as características do ritual, bem como as especificidades de cada orixá (forças da natureza divinizadas e atuantes no mundo dos homens), suas vestimentas, coreografias, gestos, objetos, comidas etc.
A cosmologia da umbanda é bastante variada e hierarquizada. No alto desta hierarquia estão os orixás. OGUM, OXOSSI, XANGÔ, IANSÃ, OXUM, IEMANJÁ, OXALÁ são os mais conhecidos. Além destes temos, os Pretos Velhos, os Caboclos e os Erês. Os Pretos Velhos são tidos como espíritos de escravos africanos mortos, sendo muito discretos e considerados bons curandeiros. Costumam se apresentar curvados e andando com dificuldade. Os Caboclos são valentes e poderosos e os Erês, espirituosos e brincalhões. Há também os Exus e as Pombas-Gira. Os primeiros são espíritos de marginais mortos e freqüentemente confundidos com o Diabo ; as últimas são espíritos de mulheres que escapam às tradicionais representações femininas, pois bebem, fumam, vestem-se com exagero, gritam, ...
Os Orixás, os Pretos Velhos, os Caboclos e os Erês não consideram os pedidos moralmente inaceitáveis, enquanto que os Exus e Pombas-Gira atendem qualquer solicitação, desde que lhes seja feita alguma oferenda.
As cerimônias são realizadas nos terreiros sob o som dos atabaques e dos cantos rituais e podem ter 6,7 horas de duração. A música e a danca ocupam papel central em todos os momentos. É através da batida nos atabaques, do canto dos ogãns e de movimentos ritualísticos que os orixás se manifestam e interferem no mundo dos homens.