PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
CODICRED 12401-04 - LÍNGUA PORTUGUESA I
PROFª MARIA HELENA BEZERRA CAVALCANTI ROCKENBACH
TUDO
PODE, NADA PODE
>-
- - - - - - - - - - - - - - - - - -<;
by
Márcio Padilha
Certo para uns, errado para outros. A liberdade em si
parece ser, em sua essência, uma faca de dois gumes. Somos capazes de fazer
tudo aquilo que desejarmos. Se faremos ou não, bem, isso depende da geografia e
do meio social nos quais nos encontramos. Por mais desconhecidos que sejamos,
sempre somos desconhecidos na multidão que, com seus milhares de olhos e
ouvidos, nos vigia ininterruptamente. Dia e noite. Sempre.
Posso gritar até perder a voz? Claro que sim, mas o
que todos aqueles olhos e ouvidos fariam? Chamar-me-iam de louco, certamente.
Talvez me prendessem ou quem sabe até me internassem em um hospício. E tudo
isso por quê? Simplesmente por ter tido vontade de gritar? Onde está escrito
que não se pode gritar? Quem disse que não é permitido fazê-lo? O pior é que
não está escrito em lugar nenhum e ninguém jamais falou nada. Todos sempre se
calaram em silêncio catatumbal. Silêncio de cumplicidade. Silêncio que condena.
Assim é a sociedade. Nada fala. Age sempre em silêncio como uma legião de
agentes secretos.
Já em uma ilha deserta, onde não houvessem olhos e
ouvidos nos patrulhando, poderíamos gritar até perder a voz? Claro que sim. Por
quê? Estaríamos sós. Seríamos, então, livres? Não, pois estaríamos atidos ao
universo restrito da ilha deserta.
Tudo pode ou nada pode?
- -
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - - - - - - - -
Porto Alegre, 18 de marco de 1992