O Caminho do Libertador

de G. S. Reis

O Caminho do Libertador Há séculos, o Mal recobriu a terra com um manto de trevas. Os exércitos do Caos alastraram-se como uma praga implacável, espalhando a vilania e o terror. A justiça foi extinta e a liberdade banida da face do Mundo. Apenas permaneceram vivas nas histórias e canções dos trovadores. Até a esperança agonizava.

Mas agora, tu vieste, como um dia foi profetizado. Tu, que recebeste a picada ardente da serpente em teu peito e triunfaste sobre o veneno que te tentava dominar, deves percorrer o Caminho.

Retornarás à selva úmida onde a serpente fez seu covil e extinguirás a chama profana em que se propaga o poder dos desgraçados. Atravessarás os portais de três infernos e descerás o abismo que leva ao pântano enevoado, onde enfrentarás o horror que se abrigou em tua alma—pois somente lá, onde habita a dualidade, encontrarás a plena purificação.

Erguer-te-ás do lodo, tão forte quanto as árvores de pedra que te acolherão: cadáveres melancólicos eretos entre as próprias sombras de uma floresta sem vida, monumentos majestosos a lembrar um passado de esplendor.

Mas nem mesmo a morte é alívio nestes tempos de infortúnio. Verás sua face e deixar-te-ás devorar. Galgarás degraus traiçoeiros em sua garganta e tomarás o poder daquele que perturba o descanso sagrado dos desencarnados. Mas ainda a ouvirás, a Morte, em seu canto sedutor, nas águas prateadas, a te chamar para seus braços.

Caminharás nas entranhas escuras da rocha e derrotarás a fera mais terrível. Não recuarás, ainda que os perigos te pareçam grandes demais. Não hesitarás diante das dunas escaldantes, que, estendendo-se para além do horizonte, tentam sufocar a vida que irrompe em espinhos para rasgar a pálida mortalha. Pois sabes que o maior deserto é o que se alastra nas almas dos derrotados. E aquele que empunha a Espada da Justiça sempre encontrará ajuda em sua jornada.

Encontrarás teu exército, esperando-te para liderá-los. Tu os conduzirás e eles lutarão a teu lado. Mas a batalha final está reservada somente a ti.

Penetrarás na fortaleza abjeta onde o Mal fez sua morada. Ouvirás almas torturadas gritarem em dor perene. Verás paredes sangrarem o tormento de milhares de bravos. Pisarás os restos em decomposição de crianças sacrificadas. Respirarás as cinzas dos que agonizaram nas chamas infernais.

Mas é tua a Espada da Justiça, jamais maculada pelo sangue de um inocente. Somente ela, guiada por tua mão, pode triunfar sobre o Mestre do Caos. Somente ela pode rasgar as Trevas. Somente tu podes trazer de volta a Luz, porque tu és o portador da Verdade. Porque tu és o escolhido dos Céus.

Tu és o Libertador.


Arte de Don Maitz
Música de Jean-Michel Jarre

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