Mas agora, tu vieste, como um dia foi profetizado. Tu, que recebeste a picada ardente da serpente em teu peito e triunfaste sobre o veneno que te tentava dominar, deves percorrer o Caminho.
Retornarás à selva úmida onde a serpente fez seu covil e extinguirás a chama profana em que se propaga o poder dos desgraçados. Atravessarás os portais de três infernos e descerás o abismo que leva ao pântano enevoado, onde enfrentarás o horror que se abrigou em tua alma—pois somente lá, onde habita a dualidade, encontrarás a plena purificação.
Erguer-te-ás do lodo, tão forte quanto as árvores de pedra que te acolherão: cadáveres melancólicos eretos entre as próprias sombras de uma floresta sem vida, monumentos majestosos a lembrar um passado de esplendor.
Mas nem mesmo a morte é alívio nestes tempos de infortúnio. Verás sua face e deixar-te-ás devorar. Galgarás degraus traiçoeiros em sua garganta e tomarás o poder daquele que perturba o descanso sagrado dos desencarnados. Mas ainda a ouvirás, a Morte, em seu canto sedutor, nas águas prateadas, a te chamar para seus braços.
Caminharás nas entranhas escuras da rocha e derrotarás a fera mais terrível. Não recuarás, ainda que os perigos te pareçam grandes demais. Não hesitarás diante das dunas escaldantes, que, estendendo-se para além do horizonte, tentam sufocar a vida que irrompe em espinhos para rasgar a pálida mortalha. Pois sabes que o maior deserto é o que se alastra nas almas dos derrotados. E aquele que empunha a Espada da Justiça sempre encontrará ajuda em sua jornada.
Encontrarás teu exército, esperando-te para liderá-los. Tu os conduzirás e eles lutarão a teu lado. Mas a batalha final está reservada somente a ti.
Penetrarás na fortaleza abjeta onde o Mal fez sua morada. Ouvirás almas torturadas gritarem em dor perene. Verás paredes sangrarem o tormento de milhares de bravos. Pisarás os restos em decomposição de crianças sacrificadas. Respirarás as cinzas dos que agonizaram nas chamas infernais.
Mas é tua a Espada da Justiça, jamais maculada pelo sangue de um inocente. Somente ela, guiada por tua mão, pode triunfar sobre o Mestre do Caos. Somente ela pode rasgar as Trevas. Somente tu podes trazer de volta a Luz, porque tu és o portador da Verdade. Porque tu és o escolhido dos Céus.
Tu és o Libertador.
Arte de Don Maitz Música de Jean-Michel Jarre |
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