Sono Limpo

Não mais o sonho, mas o sono limpo

de todo excremento romântico.

A isso aspiro, deus expulso

de um Olimpo onde sonhar eram versões

de existir.

Não à morte: ao sono

que petrifica a morte e vai além

e me completa em minha finitude,

ser isento de ser, predestinado

ao prêmio excelso de exalar-se.

Não mais, não mais o gozo

de instantes de delícia, pasmo, espasmo.

Quero a última ração do vácuo,

a última danação, parágrafo penúltimo

do estado - menos que isso - de não ser.

 

Carlos Drumond de Andrade

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