Verbos

Sofrer é outro nome

do ato de viver.

Não há literatura

que dome a onça escura.

 

Amar, nome-programa

de muito procurar.

Mas quem afirma que eu

sei o reflexo meu?

 

Rir, astúcia do rosto

na ameaça de sentir.

Jamais se soube ao certo

o que oculta um deserto.

 

Esquecer, outro nome

do ofício de perder.

Uma inútil lanterna

jaz em cada caverna.

 

Verbos outros imperam

em momentos acerbos.

Mas para que nomeá-los,

imperfeitos gargalos?

 

Carlos Drumond de Andrade

1