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Minhas Férias



sobre o autor

É verdade que esta coluna prometeu novidade já pra semana passada e não cumpriu. Todas as duas reclamações que entupiram minha caixa postal são procedentes e os três leitores assíduos, sejam lá quem forem, merecem uma explicação muito bem inventada.

A culpa, como você já deve estar imaginando, é desse tal de El Niño. Não sei direito o que um gurizinho lá do Pacífico (que, como o próprio nome sugere, não deveria causar mal a ninguém) tem a ver com minha crônica. Mas me garantiram que a culpa é dele. E se tá garantido, eu acredito.

Pra detalhar, o que aconteceu foi o seguinte: quando cheguei no Brasil, às vésperas do Natal, disposto a escrever muito e tomar muita sombra, fui recebido já na saída do avião por uma baforada quente na cara que parecia o próprio diabo dizendo: bem-vindo, hehehe. querias verão tropical, é? pois vais ter... Refeito do susto, vi que era só vento. Tentei voltar pro avião e não me deixaram. Fui colhido por uma onda gigantesca de turistas e acabamos todos na pista do aeroporto: eu, os turistas e o diabo que os carregue.

O trajeto da pista até a esteira de bagagens sob o sol de 40º que fazia fumacinha no asfalto foi suficiente pra me iluminar e me fazer perceber porque sou tão preguiçoso. Uma infância castigada por constantes exposições a esse calor só poderia dar na formação de um caráter assim. A idéia não é muito original, eu sei, mas foi a melhor que consegui com aquela insolação. Pensei em abandonar a mala que não vinha e procurar logo um táxi com ar condicionado: mala pra que? lá só tem roupa, que que eu vou fazer com roupa num calor desses?

Isso foi no primeiro dia. No segundo, quando eu já tava preparado e até empolgado com a idéia de passar um mês dentro duma lareira acesa, entrou uma frente fria que só foi desconfiar que não tava agradando e sair de fininho lá pelo fim das minhas férias. Sério, o sol não apareceu antes do dia 8 de janeiro. Cês acham que eu ia deixar de aproveitar pra ficar na frente do computador escrevendo abobrinha?

Claro que eu podia ter escrito nos dias de chuva. Levou um tempo pr'eu ter essa idéia, mas até que eu tive. Só que aí aconteceu uma coisa. Precisei ir na Varig trocar minha passagem de volta. Fui no escritório perto de casa: fechado. Voltei mais tarde: fechado. Dia seguinte: fechado. Na terceira vez vi pela porta de vidro que lá dentro tava tudo vazio. Eles tinham se mudado. Voltei pra casa e liguei pra eles. Uma mensagem da companhia telefônica dizia que aquele número tinha mudado mas não informava o novo. Pra encurtar, acabei descobrindo o novo endereço e fui lá.

As companhias aéreas do Brasil partem do pressuposto de que, se viaja de avião, então é rico. E rico não trabalha, logo não tem pressa. Por isso o atendimento nas lojas de passagens é tão demorado. Sem brincadeira: se for contar o tempo que leva pra comprar passagem, ir ao aeroporto, esperar a hora do embarque, esperar o avião atrasado, voar, esperar a bagagem, esperar mais um pouco pela bagagem, entrar na fila de reclamação de perda de bagagem, preencher formulário, tudo junto leva mais tempo do que viajar de ônibus. Sem contar que na rodoviária sempre rola uma coxinha com café requentado que tá dando um banho no lanche do avião.

Da próxima vez, vou de Dublin a Florianópolis de ônibus. E já levo minhas crônicas prontas.




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