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Papo de colegial
- Estudou pra prova de geografia?
- Tá tudo na cabeça. Só não sei se não esqueci.
- Não esqueceu, não. Tua cabeça tá cheia de neurônio, sinapse, o escambal.
- Esse negócio de neutrito aí, eu tô por fora. Cai na prova?
- Não, nem esquenta. Isso é só pra quem vai trabalhar em usina nuclear.
- ...
- Onde é que tu vai trabalhar, quando tu crescer?
- Sei lá. Eu tava à fim de ir pra esse meteorito que tu falou. Mas se for pra cair na prova, então não quero mais.
- Não cai, não. Essas coisa só cai na lua. É por isso que lá tá cheio de banguela, aqueles buracos. Tudo dos treco que caíram.
- Não entendo como é que cai. Devia ter uma lei pra isso.
- E tem. É a Lei da Cavidade. Mas ninguém respeita. Daí eles fizeram a Lei do Menor Esforço, que também não pegou. Ninguém quer fazer força.
- Mas se o esforço é menor, de repente vale à pena.
- Vale, não. É melhor deixar de fazer um esforço grande que um pequeno. Que nem na piada do português.
- Aula dá uma moléstia na gente, não dá?
- Pode crer. Já reparou que sempre que dá moléstia, o tempo vira?
- Se virar, fudeu. Quando o tempo vira, sempre chove. Ou, pelo menos, fica nublado. Se hoje já tá chovendo, vai é cair um toró.
- Daí não tem prova. As ruas ficam circuncidadas e não passa mais carro. O professor nem consegue chegar no colégio.
- Tomara que dê uma moléstia.
- Mas isso sempre leva uns dias. Só vai ajudar pra prova de recuperação.
- Já tá valendo.
- Nem sei por que que eles fazem prova normal. Podia fazer só a de recuperação. A gente acabava logo e já entrava em férias.
- Não sei como. A prova de recuperação é no fim do ano. A gente ia ter que ficar esperando até lá.
- Então, não devia ter nem recuperação.
- E a gente ia ter férias quando, se elas só começam depois da recuperação?
- O diretor fazia um decrépito, insistindo férias em caráter extraterrestre.
Toca uma campainha.
- Hora do recreio. Vamo voltar pro colégio?
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