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Aquela música



sobre o autor

Eu queria ter cantado aquela música na hora que ela tava indo embora mas fiquei com medo de desafinar. Então quis ter um gravador pra tocar a música e fiquei com raiva de ser pobre e disse pra ela que era melhor ir embora mesmo porque ela só me atrapalhava a vida e gastava todo o meu dinheiro e não me deixava fazer o que eu tinha que fazer que era trabalhar duro pra ganhar uma promoção no emprego e ficar rico. Ela foi embora chorando e eu mandei uma banana pra ela e voltei pra casa aliviado por ter me livrado daquele estorvo. Mas logo que cheguei no meu barraco, um apartamento de quarto e sala que chamo de barraco porque é isso que parece, foi me dando um vazio e pra todo lado que olhava eu lembrava dela e tinha um monte de coisas que eu queria dizer e me pegava falando isso pra ela, falando sozinho. Aí me deu vontade de cantar a música de novo e dessa vez eu cantei porque podia desafinar à vontade que ninguém ia ouvir. Cantar foi me deixando aliviado. Aquela música dizia exatamente o que eu sentia mas não sabia dizer. A função dos cantores é essa mesmo: dizer o que a gente sente pra poupar o esforço da gente ter que pensar pra formular a idéia. Eu, na minha ignorância, nunca ia dizer aquilo tão bem e tão completo quanto ele. Mas ao mesmo tempo que me sentia melhor, aquilo não era tudo, porque eu não tinha falado pra ela de verdade. Aí foi me dando um aperto no coração e eu chorei tanto que acho que meus olhos vão estar inchados quando encontrarem meu corpo.




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