Letras
Não sei por que a professora insiste tanto nessa coisa de ler. Ser humano não foi feito pra isso. O olho passando pelas letrinhas vai cansando a vista. É só ver o tanto de leitor que tem por aí de óculos. Deus me livre de ter que usar óculos, ficar com cara de coruja, quatro-olho.
Isso pra não falar no poder maligno da leitura. Ler dá idéia. O Pedro me contou que resolveu fugir de casa depois de ler um livro. Pra ele foi bom, mas se querem que a gente fique santo deviam proibir de ler.
Me orgulho de nunca ter lido um livro. Já li resumo, pra passar nas provas. Mas livro, nunca. Por mim, escritor podia ser tudo jogado na fogueira que não ia fazer falta. E professor também: se não vai ter nada pra ler, não precisa nem aprender.
Às vezes fico imaginando como seria o mundo sem a leitura. De cara ia acabar a escritura. E a aula de caligrafia. Também a gente não ia mais receber carta. Quem quisesse falar com alguém teria que usar o telefone. Nas placas de trânsito, em vez do nome da cidade, uma foto. Os fabricantes de comida que se virassempra fazer embalagens fáceis de abrir sem explicação. Filme legendado, nunca mais. E enganar a moça do mercado pagando com nota sem valor ia ser moleza.
Pensando bem, a humanidade não tá pronta pruma mudança tão radical. Somos muito dependentes da palavra escrita. Se os fenícios soubessem que ia dar nisso, nem teriam inventado aquelas letras.
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