O galo
Ia a noite alta e eu dormia quando o galo cantou. Sim, porque todo mundo sabe que galo canta a noite inteira. Essa conversa de galo despertador só vi mesmo em desenho animado. Quem souber de um galo desses me avisa que eu tô comprando.
Mas ia eu dizendo que o galo cantou madrugada adentro. E seguiu cantando até amanhecer, quando nem assim parou. Se eu tivesse que confiar no galo pra distinguir os limites do dia e da noite seria pra mim sempre alvorada. Ou então, se a cada cantada correspondesse uma manhã, já estaria eu contando o ano de três mil e coisa, haja visto que tenho galo já há algum tempo.
Amanheci como anoiteci, só mais cansado e com mais horas de sono em haver. Se eu tivesse dormido todas aquelas horas que fiquei à toa na adolescência, teria economizado e hoje tava usando o crédito. Talvez nem reclamasse do galo.
Voltando ao assunto. Amanheci. Levantei, peguei o facão - e me perdoe o leitor se poupo detalhes que dariam dramaticidade à história. Peguei o facão, fui pro terreiro e matei o galo, pra desilusão e alívio das galinhas.
E hoje tem canja lá em casa.
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