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(continuação)

Antiquarius (II)



sobre o autor

Sexta-feira, 9 de abril, três horas da tarde. Um momento que Anibal não vai esquecer tão cedo. Ligaram do departamento do pessoal. Era pra avisar que seu cheque tava pronto, só passar e pegar. Quase hora de fechar o banco e Anibal correu a sacar o dinheiro. Naquele dia, não trabalhou mais. Enrolou até às cinco, pensando na festança de logo mais à noite.

Foi pra casa, tomou banho, pôs a roupa de domingo (esporte, porque terno lembra trabalho) e ficou esperando a hora da fome. Então pegou um táxi e foi pro Leblon. Escolheu um desses restaurantes com Maitre e guardanapos de pano. Pediu uma mesa, estudou o cardápio (só por estudar, já que de cara viu que tinha o que queria). Fez o pedido. Aguardou o tempo esticado dos bons restaurantes com uma ansiedade que mal conseguia controlar. Comeu em minutos o couvert medido pra duas pessoas. Depois ficou sem saber o que fazer. Olhava os casais nas outras mesas, tamborilava os dedos, ajeitava o guardanapo no colo, bebia um gole de vinho. procurava o garçom com os olhos, na esperança de ver seu prato chegando, voltava a mexer no guardanapo. Mais de uma vez pensou em reclamar do atraso. Depois desistiu. "Esse dia é muito importante, é até bom que demore, preciso aproveitar cada detalhe".

Finalmente veio o Maitre. Um prato feito na mão, segurando com uma toalha. Exatamente como sonhara. Lindo. Seis camarões graúdos mergulhados num molho claro. Atrás, uma pequena porção de legumes cozidos e um monte de arroz, finamente arranjado, com um galho de tempero verde por decoração.

Comeu devagar. Esperava o gosto sumir da boca antes de cada nova garfada. Pensava no tanto de sacrifício que isso tinha lhe custado e no quanto era importante aproveitar, espremer o deleite até sobrar só bagaço.

E foi mesmo bagaço que sobrou. No final da noite pagou a conta quase arrependido. O mês, dali pra frente, seria de despesas contadas, por causa dessa extravagância tão fugaz. Terminado o prato, o que sobrava? Uma lembrança, e que não era lá das mais marcantes. Ah, por que se tem sonhos? Pra escolher entre a frustação de não realizá-los e o vazio de tê-los saciado.

Voltou pra casa de ônibus, decepcionado, achando que aquilo tudo não valia a pena: dinheiro, comida, emprego de terno. Voltar ao trabalho na segunda-feira só não era o maior dos martírios porque antes dela havia o fim-de-semana. Dois dias a contemplar, perplexo, a descoberta da infelicidade.




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