"Um disco comportado do Leo Jaime", foi o que ouvi de alguém naquele verão de 87 sobre "Vida Difícil", mas uma leve audição mostrava que ele era muito mais do que isso... 
É claro que se não houvessem alguns escrachos regulamentares, não seria o Leo Jaime, mas chamaria de sedimentação (bem diferente de "amadurecimento"...) o que esse álbum trouxe. As influências estão claras, mas os samples funcionam todos quase que como homenagens aos originais.
Nada mudou é a primeira canção do álbum, trilha sonora perfeita para um passeio numa tarde de domingo, a letra quase visionária que continua atual depois de quase 12 anos !!! "Crianças pedem na janela do carro até nas noites de Natal",  crítica ferina do cotidiano e um big solo do homônimo Gandelman.  O requinte dos arranjos continua em Briga, um rockão com o auxílio luxuoso dos Paralamas, Liminha e Nico Resende, grande letra dizendo que "Você podia ser um grande romance/Eu te dei muita chance/Você nem quis tentar", solo 10 de Herbert  e um final apoteótico: "Eu tenho raiva, oh yeah !". Contos de fada tem um ligeiro clima soul, com muitos metais e teclado, um Pop setentista com um texto quase dramático: "Até que um dia eu pude descobrir/Que eu não nasci pra ser a sua fantasia" enquanto Prisioneiro do futuro retoma o clima Rock do álbum (novamente trazendo alguns Paralamas), muito embora os solos de sax tendam mais para o Jazz  (Sting em Bring on the Night?), Leo canta de maneira cool: "Tudo tem dentro de si o seu contrário/O ódio veio da fraternidade". Amor também traz um clima Soul (Porque não?), uma letra "leve" (não confundir com brega): "E a chama do amor/A todo mundo/A toda hora/Em você e em mim" e um arranjo com o charme habitual de Hyldon ou Cassiano, autor da próxima faixa, A Lua e Eu; Leo tem essa habilidade (como poucos) de transformar com sutileza músicas de outros autores em versões quase sempre superiores às originais. Os bonitos solos de violão de Sérgio Serra (ex-Ultraje) deixa a melodia ainda mais requintada. Sem futuro tem uma levada bem Santana, porém muito melhor e com muito mais suingue e punch, enquanto a letra pessimista declama: "Alguém fabrica as bombas e os decretos/Depois consegue dormir" e a faixa seguinte comprova o que já foi dito; Mensagem de amor, de Herbert Vianna (com a canja do próprio), fica ainda melhor que a original, com Leo Gandelman mais uma vez arrasando no bom gosto dos solos, além do arranjo sublime. Vida difícil vem com um clima intimista, apesar da Big Band com muitos metais, e um arranjo meio Bluesy, meio down, apesar de já começar a mostrar as características marcantes de Leo, até então muito sutis, começando pelo humor negro: "Acordo assustado, caindo da cama/Eu olho pro lado e a minha namorada sumiu", continuando em Um telefone é muito pouco, melodia com uma levada quase caribenha (com um bongô e um surdão marcando o ritmo). Fechando o disco, Cobra Venenosa é um escracho total, escrita e cantada em parceria com um dos miquinhos, Selvagem Big Abreu (afinal, Leo foi um deles um dia); uma marchinha muito bem humorada com as já esperadas expressões de duplo sentido: "Eu sou uma cobra venenosa/Que pica, que pica/E tenho dois dentinhos afiados/Que picam, que picam", deixando claro ao ouvinte que Leo não é tão fácil assim de ser definido ou rotulado...
 
Cifras
 
 
 
 
 
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