FotoDicas 1



Iluminação - Luz e Sombra I

J C Beltrão




Uma questão nem sempre bem entendida em fotografia é a da luz e a sombra por esta causada.
Como regra, pode-se dizer que o único fator que determina se a sombra produzida por um tipo de iluminação será acentuada ou suave, é o tamanho relativo entre a fonte de luz e o objeto iluminado. As sombras e o contrate entre a parte iluminada e a sombreada serão mais acentuados quanto menor for o tamanho da fonte de luz em relação ao que está sendo iluminado. Na verdade a suavização das sombras se dá porque se a fonte é puntiforme a "fronteira" entre a luz e a sombra é uma linha, isto é, a transição da parte iluminada para a sombreada se dá abruptamente, enquanto que para a fonte de luz relativamente grande esta fronteira apresenta uma área maior, isto é, a partir da parte iluminada vai acontecendo um escurecimento gradativo até a sombra mais intensa.
Note que não é necessário que a foto tenha uma área com escuro total; a parte mais escura da foto é a sombra mais densa.

O exemplo mais imediato que se tem é a fotografia à luz do dia. Mesmo sendo o sol uma fonte de luz de imensa dimensão, devido à distância ele funciona como uma fonte puntiforme , ou seja, o seu tamanho relativo a tudo que se fotografa é pequeno. Em termos de tamanho podemos dizer que o sol está para uma paisagem como uma lâmpada doméstica está para uma pessoa sendo fotografada em uma sala. Assim sendo, as sombras produzidas em uma foto feita à luz do sol são extremamente fortes assim como o contraste entre sombra e luz nesse caso é grande.

Quando, no entanto, o dia está claro mas nublado, as nuvens, por causa da cor clara funcionam como um difusor, tornando-se uma fonte de luz de tamanho grande em relação ao que se fotografa e consequentemente as sombras são suavizadas e o contraste entre luzes e sombras fica atenuado.
Com as fontes de luz artificiais o mesmo acontece: A luz direta de uma lâmpada, por exemplo, produz sombras fortes ao passo que a mesma lâmpada se colocada em uma luminária com cúpula translúcida, que aumente a área de emissão de luz, resultará em uma iluminação mais suave.
Quem já brincou de fazer sombras com a mão na parede sabe que se a fonte de luz está próxima da mão - fonte de luz relativamente grande - o desenho de sombra é menos nítido. A medida em que se afasta a mão da lâmpada - a fonte de luz diminui em relação à mão iluminada - o desenho de sombra vai ficando mais nítido.
Em um nivel mais baixo ainda: a sombra produzida por uma lâmpada do tipo transparente, na qual se vê o pequeno filamento, é acentuada e a produzida pelas lâmpadas foscas ou leitosas é mais suave pois a área da fonte é relativamante maior uma vez que o vidro distribui a emissão da luz ao longo de sua superficie. A ocorrencia de sombras duras ou suaves, depende do efeito que se deseja obter na foto: sombras acentuadas enfatizam as formas, a textura do objeto e o "apelo" ou "clima dramático" da foto e sombras suaves atenuam formas e texturas e amenizam o aspecto do objeto. A suavização da sombra e do contraste, quando desejado, pode ser obtida por interferência do fotógrafo de várias maneiras:

- Nas fotos de dia, à luz do sol pode ser "espalhada" pela colocação de difusores entre este e o objeto: tecidos translúcidos ou placas que transmitam luz por toda a sua superficie aumentando a área de onde vem a iluminação.

- Nas fotos de interior a luz vinda de uma janela que não receba luz direta do sol é uma fonte de luz suave. Se uma fina cortina de tecido for colocada na janela, a luz será ainda mais suave.

- Com lâmpadas de diversos tipos a mesma idéia de tecidos ou placas translúcidas usada à luz do dia funciona.

A fonte de luz artificial mais comumente utilizada pelos fotógrafos é o flash eletrônico. Estas "usinas" de luz portáteis são uma versátil maneira de iluminar diversos tipos de fotografia, mas usada a distancias normais é uma fonte de luz puntiforme a portanto produzirá sombras duras.

Se quizermos sombras suaves devemos aumentar a área de onde provem a luz. Isto pode ser feito de várias maneiras:

- A primeira e mais óbvia é a reflexão da luz do flash em uma superficie como o teto ou uma parede, quando o ambiente permitir.
Isto é possivel se o flash possui a parte superior ( cabeça ) móvel ou se o mesmo está sendo usado não montado na sapata da câmera e sim conectado atravez de um fio.
Seja qual for a superficie escolhida deve-se considerar o seguinte:

- Se a parede ou o teto for de uma cor que não a branca a luz nela refletida iluminará o objeto com a mesma cor criando um "véu", o que pode ser indesejado.

- Quando o flash é refletido, a distância a ser considerada dele até o objeto é o caminho total percorrido pela luz, isto é distãncia flash-superficie + distãncia superficie-objeto.
Esta distância é a que deverá ser considerada para os cálculos de abertura de diafragma a ser usado de acordo com a tabela do flash para flahses manuais.

- Um outro fator a ser considerado é a "absorção" de luz pela superfície refletora.
Nem toda a luz que incide será refletida e essa perda deverá ser compensada. A compensação deverá ser feita por estimativa e podemos considerar como parâmetro que uma parede ou teto pintado com tinta branca de PVA ( tinta fosca normalmente usada em interiores ) há algum tempo ( já não é "tão branca" como quando nova ), absorve aproximadamente o equivalente a 1,5 pontos.
A abertura de diafragma a ser utilizada de acordo com a tabela do flash deverá ser aumentada, dessa quantidade de pontos. Pode-se também aumentar a velocidade de exposição mas observe-se que isso acerretará no uso de uma velocidade aproximada de 1/20 s para cameras que tenham velocidade de sincronização de 1/60 s , o que poderá resultar em uma foto "tremida", além do que nem toda câmera permite o uso de velocidades meio ponto abaixo das pré-definidas.

Um exemplo de cálculo da compensação:

uma pessoa a ser fotografada sentada em uma sala a 2 metros da câmera com flash montado na sapata.
Pela tabela do suposto flash do exemplo, para essa distância deverá ser usada abertura de diafragma f 8. Se o flash for apontado para o teto para ser rebatido, a distância total a ser percorrida pela luz passará a ser, por exemplo, 4,5 metros ( supondo-se um teto de 2,70 metros de altura portanto 2,0 metros acima da pessoa sentada na mesma altura do flash ) o que exigiria uma abertura f 4.
Considerando-se o aumento de 1,5 pontos devido à absorção de luz pelo teto pintado, a abertura certa a ser usada seria f 2,3 isto é meio ponto abaixo de 2,8 ( os anéis de regulagem de diafragma permitem que se regule as aberturas em meios pontos ou 1/3 de ponto).

Com flashes automáticos cujos sensores "medem" a luz que volta refletida pelo objeto, a compensação será automática. O mesmo acontece para flashes dedicados, quando os sensores da câmera fazem o mesmo trabalho. Nesses casos deve-se observar se a distância total da luz rebatida está dentro do raio de alcance do mesmo. Esses flashes normalmente possuem um sinal luminoso que indica se a luz emitida foi suficiente para iluminar o objeto e deve-se observar se este indicador se acende.

É claro que o uso de um fotômetro próprio para medir luz de flash resolve todos esses problemas de compensação, medindo precisamente a luz que chega ao objeto, seja ela refletida em qualquer superficie ou direta.

Outra consideração a ser feita é a de que a luz é refletida em um ângulo igual ao que ela incide na superfice refletora, em relação a uma perpendicular imaginária. Quando o flash for apontado para a superficie deve-se "mirá-lo" considerando este dois ângulos iguais.

- Outra forma de aumentar a superficie da fonte de luz é "rebater" a luz do flash em um refletor feito de material branco que se prende ao próprio flash.
Atualmente é muito comum ver-se os fotógrafos profissionais, principalmente de fotojornalismo, com os seus flashes com as cabeças inclinadas para cima e com um pedaço de plástico ou papelão branco preso servindo de refletor. A luz parte do flash é refletida nesse cartão, que por sua vez é maior que a lâmpada do flash e se espalha na direção do objeto.
É claro que esse artificio também só é possivel com flashes de cabeça móvel ou que podem ser usados não conectados à camera pela sapata. São válidas as considerações sobre perda de luz feitas para a reflexão em paredes e tetos. Esses rebatedores além de suavizarem a luz permitem que ela seja emitida em um ângulo maior que o coberto pelo flash puro o que permite que se use objetivas grande angulares de 28mm por exemplo sem que haja partes escuras nos cantos.
É bom lembrar, no entanto que para distâncias maiores que cerca de 4 metros, os rebatedores presos ao flash, já se tornam fontes de luz relativamente pequenas e que portanto perdem o seu efeito suavizador. Em casos de necessidade de se fotografar a uma distância acima de 4 metros, é melhor dispensar o uso do rebatedor portátil e usar o teto se o flash for potente o suficiente que assim permita.

Existem versões industrializadas desse tipo de refletor ou rebatedor adaptável ao flash, mas no próximo FotoDicas será apresentado um projeto para confeccão de um rebatedor artezanal.




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