A Construção de Barragens na América Latina
Barragens para energia elétrica, barragens para irrigação, barragens para o desenvolvimento. Especialistas em energia da América Latina têm explorado todos os locais e razões possíveis em seus métodos de represamento de rios.
Existe até um projeto-pesadelo do Instituto Hudson, nos Estados Unidos, que sugere represar o Amazonas e seus afluentes como parte do plano da era da Guerra Fria. A idéia era criar uma série de "Grandes Lagos" em cujas margens populações ao redor do mundo procurariam abrigo no caso de uma guerra nuclear.
Barragens enormes se tornaram monumentos de militares déspotas que tomaram o poder na América Latina durante as décadas de 60, 70 e 80. Barragens famosas como Itaipú, Guri, Tucuruí e Yacyretá tornaram-se peças centrais de planos ambiciosos de expansão da mineração e industrialização. Elas também acenderam as lâmpadas sem adorno das superpovoadas favelas ao redor de Assunção e São Paulo, onde se refugiam as vítimas de guerras rurais por um pedaço de terra. Muitos rios foram sufocados por esses projetos, tornando-se passagens para lagos mortos. Mas contanto que os dólares continuassem a circular livremente em seus cofres, os regimes militares estavam contentes. Enquanto isso, a dívida da América Latina com os bancos estrangeiros crescia a índices vertiginosos.
A Barragem Yacyretá causou uma dívida de US$ 10 bilhões e a de Itaipú, US$ 20 bilhões. Pelo menos 40% da enorme dívida externa brasileira foi acumulada por investimentos do setor elétrico.
Milhões de pessoas foram removidas à força de suas casas quando da inundação de suas terras. Privadas de sua subsistência, com suprimentos alimentares esgotados e água poluída, essas populações predominantemente rurais foram empurradas mais ainda para o caminho da pobreza através das chamadas "locomotivas do desenvolvimento". Imagens chocantes dessas regiões formam um sinistro álbum do apogeu da construção das barragens: macacos gritando enquanto as águas sobem, milhões de hectares de florestas tropicais e outros ecossistemas críticos afogando-se em estagnadas águas cheio de escuma, famílias indígenas sendo retiradas de suas comunidades ancestrais para deploráveis campos de reassentamento, peixes flutuando de barriga para cima, nuvens de mosquitos e homens armados, trazidos para impedir que os oponentes do projeto tomassem as ruas em protesto. A divergências foram brutalmente esmagadas em incidentes abafados. Na Guatemala, os oponentes da Barragem Chixoy foram assassinados. No Paraguai, a polícia espancou posseiros que construíram cabanas provisórias às margens do reservatório Yacyretá. Na Colômbia, a opressão contra os oponentes de barragens continua e líderes indígenas foram assassinados brutalmente no início deste ano.
Leis ambientais agora fazem o processo de planejamento e aprovação de barragens, mais rigoroso, e portanto mais caro e demorado. Nas audiências públicas obrigatórias, comunidades se mobilizam para expressar a sua opinião quanto à apropriação de seus recursos naturais de água por companhias multinacionais e grupos econômicos nacionais.