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Introdução

Ao longo do século XX a construção de barragens hidrelétricas esteve como meta de muitos governos por todo o mundo. Os EUA, por exemplo, eram pauta dos discursos políticos a elucidação da construção de 75.000 barragens por todo o país. Um número realmente grande cujas proporções em impactos ambientais causados são ainda alvo de oposição de instituições, políticos e entre outros. Atualmente, o EUA é o país que mais derruba suas barragens e já removeu pelo menos 465 delas, como mostra um estudo da American Rivers, Friends of the Earth, e Trouth Unlimited. Outros países também estão iniciando sua fase de derrubada de suas barragens, como a França, por exemplo.

O fator represamento é apenas um entre os fatores que contribuem com o desequilíbrio hidrológico da Terra. Estima-se que pelo menos um quinto dos peixes de água doce já se encontram extintos ou ameaçados. Além disso, os reservatórios inundam florestas ricas, terras agrícolas, retêm sedimentos, impedem o fluxo natural de nutrientes ao longo do rio, liberam águas mais frias e podem causar a destruição de ecossistemas fluviais sadios.

Pelo menos a metade das barragens no mundo também é responsável pela irrigação de terras agrícolas, de onde se estima que 12 a 16 porcento da produção de alimentos provêm. A má drenagem destas águas pode causar sanilização e saturação dos solos.

O deslocamento das comunidades também se torna crítico. Em nível mundial, estima-se que cerca de 40 a 80 milhões de pessoas já foram forçadas a se retirar das áreas envolvidas pelo represamento. Por exemplo, a construção da barragem Três Gargantas na China, alvo de constantes críticas mundiais e um dos projetos mais grandiosos do mundo, implicaria numa remoção de aproximadamente 2 milhões de pessoas.

Órgãos e instituições internacionais, como a World Comission on Dams (WCD) [1], acompanha, estuda e publica artigos diversos acerca dos impactos causados por barragens. Um relatório destes impactos de nível mundial comprova a tendência atual de decaimento do ritmo de construção de grandes barragens (acima de 15 metros). O Brasil, por exemplo, construiu na década de setenta cerca de 91 grandes barragens. Em contraposição, na década de oitenta foram construídas 60 e no período entre noventa a noventa e seis foram 28.

Mais de 45.000 grandes barragens foram implantadas no mundo e os estudos atuais apontam cada vez mais em contraposição as idéias que estavam por trás das mentes dos políticos que concretizaram estes feitos. Os motivos eram idealizados em torno da solução de fornecimento de energia elétrica, água, ampliação da irrigação, distribuição de água potável entre outros. Entretanto, com o passar do tempo os estudos comprovam que os detritos e sedimentos acumulados tornam a água imprópria para consumo, onde inclusive o nível de detritos orgânicos podem colaborar com a emissão de gases de estufa.

Instituições como a WCD se impressionam com determinados governos que investem volumes de dinheiro consideráveis na construção de grandes barragens e que ao mesmo tempo não desenvolvem ou realizam poucos estudos acerca da validação deste investimento. É o caso da Índia que, por exemplo, não promoveu estudo algum acerca da construção de suas 3600 barragens. Apenas recentemente, um primeiro estudo realizado em 54 grandes barragens, pelo instituto de administração pública da Índia, indica um número médio de pessoas desalojadas de 44.182. A Índia acumula um total de 3.300 grandes barragens, efetivando assim um valor considerável de pessoas desalojadas. Estudos do WCD mostram que grande parte da população removida é tribal. Outro estudo recente do Indian Express comprovou que bebês dos povos tribais removidos pelo projeto da barragem Nagarjunasgar estavam sendo vendidos para agências de adoção estrangeiras. O governo indiano impediu o tráfico e alojou os bebês em dois hospitais públicos, onde seis morreram por negligência.

Em todo o mundo, comunidades, instituições e políticos cada vez mais se organizam na luta contra barragens e além disso, buscam um desenvolvimento mais sustentável. A Hungria e a Índia possuem casos onde barragens foram impedidas ou interrompidas por movimentos populares.

No Brasil movimentos antibarragens tiveram início em 1977, em oposição ao projeto inicial da Eletrosul que tinha por objetivo a construção de 22 barragens na bacia do Rio Uruguai. A Comissão Regional das Pessoas Atingidas por Barragens (CRAB) foi formada em 1981. O Movimento Nacional das Pessoas Atingidas por Barragens (MAB) foi fundado em 1991 e desempenhou significativos esforços para o estabelecimento da Comissão Mundial de Barragens.

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