Mundo Novo Privatizado
Atualmente obras de barragens faraônicas e sua vasta rede de transmissão de energia elétrica estão à venda. Empresas privadas ao redor do mundo estão interessadas em comprar companhias de energia elétrica governamentais, mas apenas se os governos nacionais ajudarem no financiamento. Agora, com o término da construção das barragens iniciadas nos anos 80, após anos de atraso e bilhões de dólares acima dos custos previstos, os empreiteiros dizem que aprenderam com seus erros e reconhecem a importância de estudos nunca antes feitos, a existência de planos de reassentamento não completados e as conseqüências de reservatórios mal planejados. Ainda assim, grandes represas continuam sendo a manifestação mais visível da força política e econômica em uma região onde políticos ganham votos baseados na escala das obras que "eles" constroem. Grandes barragens continuam a ser promovidas, planejadas e construídas.
Os líderes em potencial de energia elétrica da América Latina são Brasil, Venezuela e Argentina. Mesmo com o crescimento econômico negativo desses países, planejadores do setor continuam a apresentar o fantasma de uma crise de energia e o risco de blackouts como justificativa ao retorno da era das grandes barragens. E eles estão escolhendo sistemas ribeirinhos ainda intocados, a milhares de quilômetros de distância de centros habitados, como os próximos locais a serem sacrificados com a instalação de barragens.
A América Latina continua a ser o solo fértil para os construtores de barragens do Hemisfério Norte, que não podem mais vender tecnologia hidroelétrica em suas próprias nações, onde a maior parte dos rios já foi danificada e a crescente consciência ambiental fez com que grandes barragens perdessem a popularidade. Nações como a Bolívia, desesperada pela exportação de receita, estão começando a se oferecer como colônias de energia para prover eletricidade para nações vizinhas, como aconteceu com o Paraguai. O debate internacional sobre custo e benefícios de grandes barragens não alcançou ainda as autoridades na América Latina.
Porém o debate vem se ampliando, uma vez que pescadores e grupos indígenas, que se opuseram às barragens anteriormente, estão agora recebendo o apoio dos moradores de centros urbanos, finalmente conscientes de sua dependência de rios limpos e saudáveis. Grupos de cidadania estão começando a adquirir sofisticação técnica para desafiar a afirmação de que represas promovem desenvolvimento social e econômico.
Muitas das futuras brigas relacionadas à construção de represas envolvem ecossistemas frágeis reconhecidos pela sua importância mundial. Tais questões atingem povos indígenas agora conscientes de seus direitos constitucionais e legais, bem como outras populações tradicionais decididas a não se mudar das terras ocupadas durante séculos por seus ancestrais.