Biografia

Sorry, your browser doesn't support Java(tm).

INFÂNCIA

Antes mesmo de entoar uma canção, Nana Caymmi, ainda bebê, inspirou uma das mais belas canções de ninar da música popular. Acalanto, composta por seu pai, o compositor Dorival Caymmi (um dos grandes compositores da nossa música, junto com Noel Rosa, Ari Barroso, , Luiz Gonzaga e Tom Jobim) embalou a menina no berço e gerações de brasileiros.

Acalanto, por si só, já foi uma semeadura musical das mais férteis. Mas, foi só o começo. Sua mãe, a cantora mineira Stella Maris, costumava niná-la cantando as mais lindas músicas do cancioneiro brasileiro. A menina era exigente. "Uma vez, precisei deixá-la com uma amiga pra fazer algo qualquer na casa. Ela então começou a cantarolar pra Nana uma canção que eu costumava cantar, mas muito desafinado. Nana desandou a chorar. Não sossegou enquanto eu não cantei pra ela" - revela Stella, repetindo uma história que passou para os anais da família.

Aos dois anos, já era capaz de repetir a difícil melodia de Valsa das Flores, final do balé Quebra-Nozes de Tchaicovsky, que escutava no rádio (tema de uma rádio-novela), chamando a atenção de seus pais. Aos quatro, freqüentava as aulas de piano com Aida Gnattali, que notou sua forte musicalidade. Com sete, Nana já tinha composto O Céu é Azul, Vaga-lume Voou e Dorme Neguinho - esta última dedicada ao seu irmão recém-nascido, Danilo -, canções que desapareceram com a infância. Mas, sua verdadeira paixão era cantar.

Seu canto foi lapidado através dos anos. A convivência dentro e fora de casa com o que havia de melhor na Música Popular Brasileira foi despertando sua sensibilidade. Silvio Caldas, Braguinha, Ari Barroso, Araci de Almeira, Haroldo Barbosa, Antônio Maria, Fernando Lobo, Tom Jobim, Vinícius de Moraes - para citar alguns cantores e compositores - faziam parte do dia-a-dia da menina e da adolescente, gestando a futura cantora e estabelecendo um altíssimo padrão de qualidade.

A adolescência de Nana foi vivida nos anos dourados do samba-canção, do bolero (o gênero foi uma febre no Brasil dos anos 50) e da bossa-nova. Na sua festa de quinze anos em que se comemorou também o aniversário do pai (Nana é de 29 e Dorival é de 30 de abril), esbarrava-se no cantor João Gilberto - ainda desconhecido -, no produtor Aloysio de Oliveira, nas cantoras Lenita Bruno e Silvinha Teles, no maestro Leo Perachi, entre os inúmeros amigos da família.

Nana nem precisou se preocupar em buscar um músico que a acompanhasse. Seu irmão Dori - um talentoso e aplicado estudante de música desde menino - adorava acompanhá-la ao violão. Nas reuniões familiares, ensaiaram suas primeiras apresentações. No entanto, apesar de Stella e Dorival apoiarem os pendores artísticos dos filhos (Danilo já estudava flauta nesta época), não levavam muito a sério o desejo deles de seguir carreira. Foi preciso um empurrão do destino.

ANOS 60

Em 1960, Caymmi estava em estúdio regravando Acalanto e Rosa Morena num disco de 78 rpm. Estava tudo combinado para Stella gravar a cantiga de ninar com o marido, mas ela desistiu na última hora. Como "santo de casa não faz milagre" foi Aloysio de Oliveira, diretor artístico da Odeon, quem se lembrou de Nana para substituir a mãe. O produtor tinha faro e havia notado o talento da filha de Dorival. A jovem iniciante, com apenas 18 anos, enfrentou estúdio, orquestra e jornalistas feito gente grande. Para complicar a imprensa insistia em considerá-la baiana, mas a cantora se apressava em afirmar sua carioquice, sem negar as suas raízes baianas e mineiras. Lança seu primeiro disco solo (78rpm) com Adeus - Dorival Caymmi - e Nossos Beijos -Hianto de Almeida e Macedo Norte -, pela Odeon.

Em 26 de abril, Nana já estava contratada pela TV Tupi participando do programa Sucessos Musicais, produzido por Fernando Confalonieri. Pouco tempo depois, a cantora - sempre acompanhada pelo irmão Dori - já tinha o seu próprio programa na emissora: A Canção de Nana, produzido por Eduardo Sidney, que ia ao ar toda quarta-feira, às 20 horas. O maestro Gaia previu para ela uma carreira brilhante. Nem em seus sonhos, Nana havia imaginado que as coisas pudessem acontecer de maneira tão rápida. Mas nem tudo acontece em linha reta.

Nesta época, casamento e carreira ainda eram considerados incompatíveis na maior parte dos casos. Nana, que já namorava Gilberto Aponte, um venezuelano que estudava medicina no Brasil, não foi diferente das demais moças de sua idade e optou pelo casamento. Só que no caso, esta opção significava mais que uma mudança no estado civil. Significava mudar para outro país, com outra cultura e outra língua. Em dezembro de 1961, Nana se casou, e, em janeiro do ano seguinte, já estava vivendo com o marido na Venezuela e em 3 de outubro, nasce em Caracas, Venezuela, Stella Teresa, sua primeira filha.

Nasce, em 12 de novembro de 1963, no Rio de Janeiro, Denise Maria, sua segunda filha. Voltou várias vezes ao Brasil, e numa delas, em 1963, foi convidada por Aloysio de Oliveira a gravar seu primeiro LP. Numa tentativa de se libertar do peso do sobrenome do pai, a cantora deu ao seu disco o nome de Nana, sem o Caymmi.

Em 1964, de férias com as filhas no Brasil, participou do disco que se tornaria um clássico: Caymmi visita Tom e leva seus filhos Nana, Dori e Danilo. O disco foi lançado pela Elenco, gravadora que pertencia a Aloysio de Oliveira, idealizador do projeto. A cantora gravou no Lp Inútil Paisagem (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira), Tristeza de Nós Dois (Durval Ferreira, Bebeto e Maurício Einhorn) e Sem Você (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e regressou a Venezuela.

A cantora se separou do marido e retornou ao Brasil definitivamente em dezembro de 1965, com suas duas filhas, Stella e Denise, e grávida do terceiro filho, decidida a retomar a carreira de cantora para valer. Em junho do ano seguinte, 17 de junho de 1966, deu à luz João Gilberto, seu terceiro filho, e, logo depois, participou do I FIC (Festival Internacional da Canção) com Saveiros, de seu irmão Dori e Nelson Mota, com arranjo do maestro Gaya. Ganhou o primeiro prêmio, levando o "galo de ouro" para casa. Para se ter uma idéia da importância do prêmio, Nana concorria com Canto Triste (Vinicius de Moraes e Edu Lobo), defendida por Elis Regina, e Dia das Rosas (Luiz Bonfá e Maria Helena Toledo), interpretada por Maísa. Naquele palco estavam ainda concorrendo MPB 4, Tuca e Geraldo Vandré, Quarteto em Cy, Miltinho, Claudete Soares e Taiguara, entre outros. Não era mole não. Mas, enquanto cantava a canção vitoriosa, enfrentou no Maracanãzinho - com 25 mil pessoas ensandecidas pelo clima de competição que os festivais provocavam na época - uma das vaias mais massacrantes da história da MPB. 

Com três filhos para sustentar, ela não podia se dar ao luxo de desanimar - e desânimo é uma palavra fora do seu dicionário. Decidiu, no entanto, que o ano de 1966, com vaia e tudo, seria o marco inicial de sua carreira. Seguiu em frente.

A partir do Festival, Nana foi contratada pela TV Excelsior para se apresentar no programa Ensaio Geral, ao lado de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tuca, Maria Bethânia, Samba Trio, entre outros. Defendeu no III Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, Bom Dia, uma parceria sua com Gilberto Gil - com quem estava casada - sem, no entanto, levar nenhum prêmio.

No final dos anos 60, já separada de Gil, Nana se apresentava em boates e teatros do eixo Rio-São Paulo, estréia, em agosto, no Barroco, no Rio, enfrentando as dificuldades comuns a uma iniciante na carreira. Sem gravadora, sofria o estigma de ser uma cantora de elite, devido ao repertório - que ela não abria mão, apesar das pressões que sofria para mudar de estilo - considerado sofisticado e às vaias de Saveiros no I FIC. As novelas e humorísticos substituíram os programas de música na televisão, diminuindo ainda mais o mercado de trabalho. Sua participação em shows para angariar fundos para presos políticos e suas famílias lhe renderam problemas com o DOPS, assim como a sua participação na histórica Passeata dos Cem Mil contra a ditadura, na linha de frente, ao lado de Gil e Caetano, entre outros. É citada por Carlos Drummond de Andrade em seu poema A Festa (Recapitulação), publicado em 23 de fevereiro de 1969, no Correio da Manhã.

ANOS 70

As dificuldades de trabalho no Brasil eram tantas, que aceitou o convite do irmão Dori para cantar na Argentina e no Uruguai. A partir de 1970, e nos cinco anos seguintes, Nana Caymmi passou a fazer duas longas temporadas anuais na Argentina. Apresenta-se no show Mustang Cor de Sangue - com os irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle e o conjunto Apolo 3 - no Teatro Castro Alves, em Salvador, Bahia. Voltam a se apresentar no Teatro de Bolso, no Rio de Janeiro. Devido a sua longa estada na Venezuela, falava - e cantava - o espanhol com facilidade. Além do irmão, se apresentava também com a Camerata, um prestigiado conjunto argentino, cujo líder era o compositor e cantor Juan Manuel Serrat. Foi um período de exílio profissional. Não é exagero dizer que era mais conhecida naquele país do que no Brasil. Muitos chegavam a pensar que Nana vivia em Buenos Aires. Mas ela seguia se apresentando no Brasil, sem chamar a atenção do mercado discográfico. Por outro lado, o público portenho a prestigiava e a mídia a cobria de elogios. Naquele país, ela se afirmava e se fortalecia como cantora, independente do sobrenome, que, se não era ignorado pelos argentinos, não vinha com a mesma carga de exigências que sofria no Brasil.

Participa, em 7 de maio de 1971, da II Bienal do Samba, na TV Record, cantando Morena do Mar, de Dorival Caymmi. Retorna a Punta del Este, Uruguai, para nova temporada anual. Em fevereiro de 1972, apresenta-se com Dori Caymmi, no Café del Puerto, em Punta del Este, Uruguai

Foi na Argentina que Nana Caymmi voltou aos estúdios. Em 1974, lançou um Long Play pela gravadora Trova, em que cantava Atrás da Porta (Francis Hime e Chico Buarque), Razão de Viver (Eumir Deodato e Paulo Sérgio Valle), Derradeira Primavera (Tom e Vinicius), além de várias canções de Caymmi. Vendeu mais de vinte mil cópias, o que na época era um número bastante expressivo. Ironia das ironias: o disco chegava ao Brasil, num clima quase clandestino, trazido por amigos como Milton Nascimento e o pianista Tenório Júnior. Foi assim que o disco foi parar nas mãos de Simon Khoury, da Rádio JB, que começou a divulgar o trabalho da artista. Chamou logo a atenção das gravadoras brasileiras. Foi uma vergonha pois o disco não constava de nenhum catálogo de gravadora brasileira. "Ele (khoury) fez com que as pessoas soubessem que eu estava cantando, que estava viva" - recorda a cantora.

Em 1975 é recebida pela mídia argentina como "Grande Show Woman" em sua temporada anual, acompanhada pela Camerata.

Naquele mesmo ano, o compositor Durval Ferreira saiu na frente e levou-a para a CID (Companhia Industrial de Discos), onde também estava Fernando Lobo. Foi quando a cantora lançou, após um intervalo de doze anos, seu segundo LP no Brasil. E pensar que poderíamos tê-la perdido para a Argentina. Faz uma temporada no mês de julho, na boate Igrejinha, em São Paulo, para lançar o novo LP. O crítico Tárik de Souza, do Jornal do Brasil, chama-a de "Nina Simone brasileira". Caetano Veloso considera sua interpretação de Medo de Amar (Vinícius de Moraes) uma das mais expressivas da música brasileira. No ano seguinte, em 22 de outubro de 1976, Nana Caymmi recebia o Troféu Villa-Lobos, da Associação Brasileiras de Produtores de Discos, como a melhor cantora de 1975. Isso sem mencionar as excelentes críticas recebidas pelo disco - produzido na raça por uma Nana, que ia atrás dos compositores de gravador em punho -, que contou com as participações de Tom Jobim, Milton Nascimento e Ivan Lins, além de um repertório impecável, que incluía Beijo Partido (Toninho Horta), um dos seus maiores sucessos - presente na trilha musical de Pecado Capital, novela da TV Globo do ano seguinte. A sorte estava lançada.

Participa da trilha de Maria Maria, espetáculo do Balé Corpo, com músicas de Milton Nascimento e Fernando Brant e coreografia de Oscar Ajaz. Participa da série Seis e Meia com Ivan Lins, no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro.

A partir daí, Nana não mais parou de gravar, sempre com um repertório irrepreensível e músicos talentosíssimos. Pela CID, ela lançou Renascer - em geral, ela prefere não dar títulos ao seus discos -, em 1976. Nele, gravara Cais, música que Milton Nascimento e Ronaldo Bastos haviam composto, nos anos 60, especialmente para ela (que faria parte da trilha de outra novela da Globo, em 1978, Sinal de Alerta). Um ano depois, lançava seu novo disco pela RCA-Victor, para onde havia se transferido Durval Ferreira. Para este novo trabalho a cantora ganhou um belo presente: contou com a participação especialíssima do pai Dorival na faixa Milagre, uma inédita canção praieira de sua autoria.

Em 1977 lança novo LP pela RCA-Victor - com participação de Dorival Caymmi na faixa Milagre, canção inédita do compositor - no Teatro Ipanema, Rio de Janeiro. A gravadora CID lança no mercado brasileiro o disco Nana Caymmi, gravado na Argentina em 1974, com o título Atrás da Porta. Inaugura com Ivan Lins o Projeto Pixinguinha (Funarte).

Em 1978, não resistiu ao convite do produtor Mariozinho Rocha para regressar para a EMI-Odeon, onde gravara pela primeira vez, dezoito anos antes. Na EMI, onde permanece até hoje - exceto por um breve período em que gravou pela Sony Music, no início dos anos 90 -, Nana gravou 17 discos, além de oito coletâneas. Entre eles estão: Nana Caymmi (1978), Mudanças dos Ventos (1980), E a Gente Nem Deu Nome (1981), Voz e Suor - Nana Caymmi e Cesar Camargo Mariano (1983), Chora Brasileira (1985), Nana Caymmi (1988), Bolero (1993), A Noite do Meu Bem - As Canções de Dolores Duran (1994), Alma Serena (1995), No Coração do Rio (1997), Resposta ao Tempo (1998). Sem mencionar as inúmeras coletâneas da cantora que foram lançadas no mercado por outras gravadoras, tais como Sony, RCA, CID, ao longo de sua carreira. Soma-se a isso incontáveis participações especiais em discos de outros intérpretes, em trilhas de novela e cinema, além de projetos musicais. Tais participações sem sombra de dúvida dobrariam a sua discografia.

A luta continuava. Em 1977, Nana Caymmi e Ivan Lins, formaram a primeira dupla de artistas escolhidos para abrir o Projeto Pixinguinha (Funarte/MINC), um dos mais importantes trabalhos feitos pela democratização da MPB no território nacional, idealizado por Hermínio Bello de Carvalho. Nos moldes do Seis e Meia do Teatro João Caetano, no Rio, criado por Albino Pinheiro, que Nana e Ivan já tinham feito com sucesso - no último dia do show da dupla, mil e quinhentas pessoas ficaram sem ingresso -, o Pixinguinha levou o melhor da nossa música para as principais cidades brasileiras a um preço e horário acessíveis ao trabalhador. Em 1978, Nana voltou ao projeto em dupla com seu irmão Dori Caymmi. A imprensa chegou a chamá-la de "Rainha do Seis e Meia". "Eu gosto principalmente porque significa a desmistificação do artista" - afirmou Nana em entrevista, falando sobre os projetos Pixinguinha e Seis e Meia. Em 1978 lança o disco Nana Caymmi, pela Odeon. Cais (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos), na voz da cantora, entra na trilha sonora de Sinal de Alerta (novela da TV Globo).

No final do verão de 79, Nana e Edu Lobo dividiram o palco do Hotel Nacional, num espetáculo considerado um dos mais importantes do ano. Devido ao sucesso, voltaram a apresentá-lo, naquele mesmo ano, no Canecão - cujo palco Nana pisava pela primeira vez - e seguiram em turnê pelo país, acompanhados do Boca Livre, conjunto que estava começando uma carreira de sucesso. Casa-se com o cantor e compositor Cláudio Nucci.

ANOS 80

Nana Caymmi abriu o Projeto Pixinguinha de 1980 em dupla com Boca Livre, lotando os teatros por onde passavam. O seu romance com o cantor e compositor Claudio Nucci - originalmente vocalista do Boca Livre, mas que seguiria a partir daquele mesmo ano em carreira solo - serviu de inspiração para que Ivan Lins e Victor Martins compusessem para ela Mudança dos Ventos, um sucesso na sua voz. Neste mesmo ano, ocupou as segundas-feiras do Teatro Villa-Lobos (numa das raras oportunidades em que o espaço foi dedicado a música), com o espetáculo Nana Caymmi e Seus Amigos Muito Especiais, numa longa temporada, quando recebeu no palco artistas como Isaurinha Garcia, Zezé Mota, Zé Luiz, Fátima Guedes, Sueli Costa, Macalé, Cartier, Agnaldo Timóteo, Rosinha de Valença, Claúdio Nucci, Martinho da Vila, entre outros.

Faz temporada no Chico's Bar, anexo do Castelo da Lagoa, Rio de Janeiro. Faz show de lançamento do disco Mudança dos Ventos, pela Odeon, e viaja em turnê pelo país. Participa com o Boca Livre do Projeto Pixinguinha.

Paralelamente à sua carreira, Nana se reunia sempre que podia aos irmãos para diversos shows pelo país. Sempre teve enorme afinidade musical com Dori e Danilo, gravando em quase todos os seus discos composições dos dois, além de poder contar sempre com o primeiro nos arranjos e na produção dos seus discos e com o caçula na flauta.

Seu show na Sala Funarte, no Rio de Janeiro, em 1981, foi apontado pelo Jornal do Brasil entre os dez melhores do ano. Seu público não parava de crescer - e era fiel. A crítica respeitava a cantora cada vez mais, sobretudo pela coerência na condução de sua carreira, que jamais se curvou às exigências de mercado ou modismos efêmeros. Se por um lado, não era um estouro de vendas, por outro, jamais saía do catálogo, sempre vendendo bem seus antigos álbuns e compilações. Canção da Manhã Feliz (Haroldo Barbosa e Luiz Reis), na voz da cantora, entra na trilha sonora de Brilhante (novela da TV Globo).

Em 1982, viajou para Portugal onde se apresentou no Algarve. No ano seguinte, apresentou-se com Edson Frederico no Piano-Bar cenográfico da novela Champagne, da TV Globo. Cantou Doce Presença (Ivan Lins e Victor Martins), que fazia parte da trilha musical da novela. Assim como o pai, Nana gostava de se apresentar em casas noturnas. "Me chamavam de cometa porque depois que eu passava por uma boate, as outras estrelas da canção popular se dispunham a se apresentar nelas também" - explica a cantora. Nana Caymmi é sinônimo de prestígio até hoje. Lançou com o pianista Cesar Camargo Mariano o disco Voz e Suor, considerado "cult" pelos críticos, inclusive na França.

Em 1983 faz show de lançamento do disco Voz e Suor, pela Odeon, em dupla com César Camargo Mariano, no 150 Night Club, em São Paulo.

Separa-se de Cláudio Nucci. A intérprete - como prefere ser chamada, aliás - retornou a Europa, em 1984, para participar do Festival de Nice, na França, junto a Dorival Caymmi e Gilberto Gil, entre outros. No ano seguinte, sua voz podia se ouvida todas as noites na minisérie da TV Globo, Tenda dos Milagres, baseada no romance homônimo de Jorge Amado, cantando Flor da Bahia (Dori Caymmi e Paulo Cesar Pinheiro). Popular, sem ser vulgar. Era o caminho escolhido por Nana. Jamais gravou uma música sequer no intuito de ser aproveitada numa novela, sonho de toda gravadora. Ainda assim, ao longo de toda a sua carreira, teve 48 canções (o equivalente a quatro discos!!) participações em trilhas de novela - nem a própria cantora havia se dado conta do número espantoso. Quem disse mesmo que ela era uma cantora de elite...? A propósito, em 1986, voltou a embalar a telinha, com Fruta Mulher (Vevé Calazans), em Roque Santeiro, uma das maiores audiências de telenovela da Globo. Sempre disposta a inovações aceitou, neste mesmo período, o convite de Wagner Tiso para cantar obras de Villa-Lobos - se atrevendo a interpretar sem o rigor técnico das cantoras líricas - no projeto do músico dedicado ao grande maestro em comemoração ao centenário de nascimento do compositor. Acompanhados pelo grupo Uakti, Nana e Wagner percorreram várias capitais brasileiras com o incomum recital.

No ano de 1987, Nana se apresentou com sua banda - Novelli (baixo), Guilherme Vergueiro (piano), Danilo Caymmi (flauta), Cláudio Guimarães (guitarra) e Ricardo Costa (bateria) - pela primeira vez em Madri. Lança o disco Nana, do qual participa seu filho João Gilberto, na faixa A Lua e Eu (Cassiano e Paulo Zdanowski). Nasce, em 3 de outubro de 1987, Marina, sua primeira neta, filha de Denise e Carlos Henrique de Meneses Silva. Em 19888, faz show de lançamento do disco Nana no L'Onoràbile Società, em São Paulo, e no People Jazz, no Rio. Segue em turnê pelo país. Retornou a Espanha em 1989, com Wagner Tiso, para uma turnê por várias cidades do país, e, em seguida, se apresentaram, no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, acompanhados pelos músicos de Paco de Lucia. O resultado pode ser conferido no disco ao vivo, também pela EMI, Só Louco - Nana Caymmi e Wagner Tiso, produzido por Mazzola. Seu filho, João Gilberto, sofre, em 16 de dezembro, um grave acidente de motocicleta no Rio de Janeiro.

ANOS 90

Em 1990 dedica-se exclusivamente ao filho acidentado.

Em 1991, meses antes, porém, da apresentação em Montreux, a família Caymmi - desfalcada de Dori, radicado nos EUA - se apresentou no Rio Show Festival, no Rio Centro, num show histórico com o irmão Danilo, que reunia num mesmo palco, dois grandes monstros sagrados da MPB, Dorival Caymmi e Tom Jobim. Foi este show que motivou o convite do produtor Mazolla para a apresentação de Dorival, Nana e Danilo na noite brasileira do Festival de Montreux. A cantora voltou a pisar no famoso palco de Montreux,na 25ª edição do Festival Internacional de Jazz. O encontro virou outro disco ao vivo (EMI), que não contou com a participação de Dori (só atuou como músico), impedido de cantar pela sua gravadora americana.

Em 1992, a cantora participa da segunda versão do Rio Show Festival com dorival Caymmi, Danilo Caymmi e Fagner, no Rio Centro,lança o LP O Melhor da Música Brasileira, na série Academia Brasileira de Música, pela Sony, quando passeia pelo melhor do samba-canção brasileiro, faz temporada no Jazzmania, Rio de Janeiro. Nasce, em 24 de abril, Carolina, sua segunda neta, filha de Denise e Carlos Henrique de Meneses Silva. Participa do SP Festival, no Anhembi, São Paulo, ao lado de Dorival e Danilo Caymmi e Gilberto Gil. No ano seguinte, participa de temporada em Lisboa e no Porto, Portugal, ao lado de Dorival e Danilo Caymmi. Lança o disco Bolero, produzido por Raymundo Bittencourt, regressando a EMI, no People Jazz, Rio de Janeiro, em longa temporada. A princípio resistiu muito em fazer este trabalho. Mas, foi com Bolero que ela quase emplacou seu primeiro disco de ouro, chegando bem perto. Viaja em turnê pelo país com o show Bolero. Faz temporada no Blue Note de Nova York, com a participação de Danilo Caymmi. Na esteira do sucesso de Bolero, Nana Caymmi - que costumava lançar seus discos em badaladas casas noturnas mas de público restrito -, lançou, em 1994, A Noite do Meu Bem - As Canções de Dolores Duran, CD produzido por José Milton, no Canecão, em seu primeiro espetáculo solo naquele palco no Rio de Janeiro, um dos templos da Música Popular Brasileira. O show contou com Denise Caymmi na faixa Castigo, sua filha e empresária, à frente da produção. Sucesso de público e de crítica, a cantora finalmente alcançava um reconhecimento à altura de seu real valor. Repetiu o show e o sucesso no Palace, em São Paulo, e seguiu em turnê pelo país.

Entre estes dois últimos CDs, Nana Caymmi fez duas importantes viagens ao exterior. Em janeiro de 1993, a cantora retornou a Portugal , quando se apresentou nos Teatros São Luiz (Lisboa) e Coliseu (Porto) ao lado do pai Dorival e do irmão Danilo. O espetáculo, prestigiado pelo presidente Mário Soares, foi considerado histórico pela imprensa portuguesa. Em julho, a cantora viajou, acompanhada pela sua banda - Luizão Paiva (piano), Danilo Caymmi (flauta), Luiz Alves (baixo), Ricardo Costa (bateria), Cláudio Guimarães (violão e guitarra) - para Nova Iorque, para uma temporada no Blue Note, uma das mais importantes casas de jazz americanas, com lotação esgotada (de americanos!) todos as noites para as duas sessões do show.

Em 1996 apresenta-se no Teatro Castro Alves, Salvador, com Daniela Mercuri e Dorival, Dori e Danilo Caymmi em dois espetáculos comemorativos dos 50 anos das empresas Odebrecht. Nana Caymmi transforma o seu show de lançamento de Alma Serena (EMI), no Canecão, num verdadeiro recital, levando a platéia ao êxtase, nas duas semanas da temporada carioca.Viaja em turnê pelo país e apresenta-se em Los Angeles e Nova York, ao lado de Dori Caymmi.

Em 1997, escolheu o palco do Teatro Rival, em pleno Centro do Rio de Janeiro, para gravar seu primeiro disco solo ao vivo, acompanhada unicamente pelo piano do maestro Cristóvão Bastos - seu arranjador e diretor artístico desde 1994 - e o violão de João Lira. A gravação do CD No Coração do Rio - um segredo mantido a sete chaves por sua equipe, capitaneada por Zé Milton e Denise Caymmi - pegou de surpresa os jornalistas e o público presentes ao show, que escutou a cantora desfiar pérolas do nosso cancioneiro popular.

Em 1998 volta ao palco do Canecão para lançar o disco Resposta ao Tempo (EMI), cuja faixa título - de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc. Mas nada pode se comparar a o ano de Resposta ao Tempo. A bela e envolvente canção de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, na voz de Nana Caymmi, foi escolhida para tema de abertura da mini-série Hilda Furacão, um megasucesso da TV Globo. Os amigos (com a colaboração da TV Globo) conseguiram manter em segredo até o fim, e a cantora mal pode acreditar quando ouviu os primeiros acordes da canção na tela da sua TV. O sucesso foi enorme. Não havia quem não cantasse Resposta ao Tempo. A música levou a cantora direto para os primeiro lugares das paradas de sucesso das rádios AM - um sinal de evidente sucesso popular -, onde foi uma das mais executadas do ano. Em 1999, Resposta ao Tempo dá a Nana o disco de ouro tão esperado. Mas não parou por aí. Foi eleita a melhor cantora brasileira pela Associação Paulista de Críticos de Arte. O CD ainda levou quatro prêmios Sharp: melhor cantora do ano, melhor canção (Resposta ao Tempo), melhor recriação (Não se Esqueça de Mim, de Roberto e Erasmo Carlos), melhor arranjo (Cristóvão Bastos). Uma consagração. É convidada pela TV Globo para cantar Suave Veneno (de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc), tema da novela de mesmo nome. Lança a coletânea Nana Caymmi - Os Maiores Sucessos de Novela (EMI).

O ciclo de sucesso iniciado com o CD Bolero, em 1993, está sendo comemorado pela cantora e pela EMI com o lançamento de Sangre de Mi Alma no ano 2000, seu mais recente CD, em show com grande orquestra e onde comemora 40 anos de carreira em disco. O gênero, primo legítimo do nosso samba-canção, não poderia ter melhor defensora que a voz da intérprete. Nana passou o ano de 1999 em intensa pesquisa para este novo disco de boleros - envolvendo desde Zé Milton, seu produtor inseparável, até parentes da Venezuela, passando pela discografia e bibliografia do gênero - para oferecer ao seu público uma requintada seleção de canções, com arranjos primorosos de Cristóvão Bastos e Dori Caymmi - indicado para o Grammy, deste ano, na categoria melhor arranjo. Mais uma prova que Nana Caymmi sabe ser popular, sem precisar abrir mão da qualidade.

Home Voltar Biografia Discografia

1