quarta-feira — 16.8.2000

1:38 17-08-2000

A comida é boa. Ao menos até agora. No dia da chegada me levam, como dito, ao Shopping Vasco da Gama, passando pela margem direita do Tejo. Direita de quem desce o rio. Há coisa de semana, a construção do metro (eles chamam o metrô de metro, com a tônica na primeira sílaba mesmo) teve de parar porque o trecho que estava sendo escavado do lado do rio encheu-se de água. Não adianta dizer que é óbvio, eu disse primeiro. Mas vamos lá até o Shopping, comer cogumelos refogados e um bife da alcatra na manteiga de alho (bife da alcatra, não DE alcatra). Bom. Muito bom. O restaurante se chama Lusitânia, criativo, não?

Visitamos Manuel à tardinha; Mané é um carioca radicado há quatro anos em Lisboa, morador da Rua da Mãe d'Águaveja foto, que nos leva até a «Cova»veja foto para um jogo de bilhar. Eu aviso que sou um desastre e, conforme anunciado, dou vexame. Não rasgo o pano, o que é uma vitória, e faço o carioca feliz ao deixá-lo ganhar oito de dez partidas. Quase ao sair, não me furto a oportunidade de avisá-lo que o flamengo tomou de três do São Paulo, de virada, com gol de letra do japonês. Vingança é um prato que se come frio, pois não? Miau.

Vamos então ao restaurante Ribadouro (esquina da Avenida da Liberdade com a Rua do Salitreveja foto), especializado em sapateiras — um siri gigante daqui. Claro que pedimos a especialidade, para descobrir que «Tem, mas acabou.» Então nos tragam uma dúzia de ostras e uma porção de amêijoas, que são uma espécie de mariscos cozidos num molho com azeite e salsinha, muito saborosos. Valeram a noite pelo sabor; e pela experiência posto que eu nunca havia comido sequer ostras. Como os frutos do mar estavam em falta, os portugueses (agora estávamos acrescidos de Miguel e Mário, legítimos) pediram bife com nata. Nata é creme de leite, mas é ralinho, no suco da carne mal-passada. Meio enjoativo e gorduroso. Eu pensava na gordura e escutava o carrilhão do Silvio Santos: 800 calorias (blrlrim-blrlrom!) 1200 calorias (blrlrim-blrlrom!) O meu chefe pediu camarões (gambas, se forem de água salgada e camarões se forem das doces): se deu bem, eles vieram enormes, fumegantes e eu fiquei lembrando de quando eu podia comer camarões… Alergia dos infernos!

Voltamos tarde ao flat e ainda tive de arrumar as coisas da mala. Damn!

Eu estava desconfiado do paradeiro do jetlag. Bastou acordar no dia 16 e bam! Passei o dia com sono. Lisboa está a quatro horas à frente no fuso por causa do horário de verão (que dura até setembro). De outubro até a entrada do horário de verão brasileiro são três e, então, duas horas de diferença apenas.

Primeiro um pequeno almoço (nosso café da manhã), com torradas (os cariocas as conhecem como torradas de petrópolis) e café com leite numa praça muito bonitinha (Praça do Príncipe Realveja foto) na rua da Escola Politécnica. Depois uma reunião numa produtora web que ocupa um casarão de 1600 e tralaláveja foto, pelo menos, com quatro andares, cheio de azulejos portugueses originais, reformado por fora e transformado por dentro. A vista dos fundos é o Tejo e sua ponte. Desbunde. Trabalhar ali deve ser um sacrifício…

Fui apresentado ao escritório na seqüência, na Avenida da Liberdade. Os canteiros que separam as pistas locais das expressas têm árvores de porte, o que faz da avenida uma quase alamedaveja foto. Nela ficam lojas como Armani e o cine São Jorgeveja foto, que será visitado oportunamente. O prédio do escritório é razoavelmente moderno, cheio de parafernálias eletrônicas. Ao sair para o almoço, entretanto, dobramos a esquina para cair em ruelas estreitas (estaciona-se e dobra-se os espelhos dos carros, senão outro não passa). Achamos um botecão onde me servi de uma jardineira de frango. Aqui confesso que fui bundão — deveria ter pedido o peixe-espada grelhado. Mas, como ali voltaremos, estarei mais aberto a aventuras.

Uma coisa que os próprios lisboetas confessam — e eu atesto e dou fé —, é o serviço porco nos bares e restaurantes. Invariavelmente levamos uma patada de um garçon. É quase institucional, mas eles têm consciência de que isso é uma trava para o turismo. Turismo que, aliás, é enorme fonte de renda por aqui. Segundo eles, agosto é o mês das férias dos lisboetas, que fogem da cidade. Fogem mesmo, as lojas fecham, não consegui revelar os filmes que trouxe do Brasil... E a cidade está repleta de turistas. Deviam ser sueçônios, visigodos, nórdicos e ostrogodos; hoje são principalmente espanhóis, alemães, ingleses e franceses, nesta ordem. Identificáveis facilmente, prato fácil para punguistas.

Mané é mané me qualquer lugar…



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