AVENTURA PREDATÓRIA

Texto: Hélio Costa Júnior
18/7/97

Um lugar bonito, coberto por relevos, fauna e flora maravilhosas. Mas toda essa beleza pode desaparecer, inclusive nossos peixes e animais, se ninguém se importar com o que acontece no Mato Grosso. Alguém precisa acabar com a invasão predatória do homem.
Não adiantam leis e regras se ninguém está ali para aplicá-las. Se estão, o número de fiscais é insuficiente para cobrir uma região tão grande. Recentemente assisti a uma fita de vídeo de um amigo (jovem pescador). Nessa fita tive o desprazer de acompanhar o que algumas pessoas de Jundiaí e de Campinas fizeram com nossos peixes e animais. Para mim, tratou-se uma aventura predatória nas duas semanas de pescaria e matança que realizaram no Mato Grosso, divisa com a Bacia Amazônica.
Quem são essas pessoas -- se realmente são pessoas -- que roubam a cabeça da natureza e a exibem como se fosse um troféu? Quem são esses que ferem, cortam, matam e fazem o sangue jorrar simplesmente para dizer "isto é que é pescaria"? Quem consegue olhar a sangue-frio o desmatamento que produzem?
São predadores que cortam qualquer relação entre o homem e a natureza. São pessoas que não conseguem parar, invadem matas, fisgam, dão um nó e só o desatam quando querem matar e se exibir para outros predadores conhecidos.
Foram encontrados lá catetos (espécie de porco), macacos e figueiras de muitos anos de vida. O que vi me deixou preocupado com a região. Será que meus filhos e netos terão tempo de ver tudo isso?
No Rio Juruena os peixes -- em sua maioria fora de medida -- eram fisgados e logo em seguida içados com poderosos ganchos e trazidos para dentro do barco, sem possibilitar ao peixe a menor chance de fuga. Ouvi dizer que a Pirarara chega a atingir quase o tamanho de um homem. As que vi pescadas nesse rio não atingiam nem 50 cm. Conseguiram também pescar a Piraíba, a "mãe do rio". Para eles nada parece impossível. Vi um filhote de Jaú receber dois tiros na cabeça para que seu algoz conseguisse trazê-lo para dentro da embarcação, um barco de seis metros com motor de 40 hp.
A pescaria segue adiante. Outra irregularidade: cordas são feitas de espinhéis e a cada 2 metros um anzol 10/0. Hora de recolher: várias pirararas, fora de medida, são retiradas da água e trazidas para dentro do barco.
Vários catetos são avistados atravessando o rio. Dois minutos e quatro tiros são disparados. Os catetos tentam fugir, mas três balas tinham endereço certo. Agora já não são mais catetos, são pedaços de carne. Sem necessidade nenhuma tiram-lhes a vida. Fazem o que querem com a natureza. Ninguém vê nada, não fala nada. Não faz nada. É por isso que não param.
Aonde vamos parar? Qual será o limite? Ninguém sabe.

Hélio Costa Júnior é pescador amador
Retorna à Helios Page

1