Primeiramente gostaria de relatar alguns pontos relevantes da minha experiência. Nasci no Brasil em 2 de agosto de 1952, tendo obtidoo grau de engenheiro de aeronáutica em 1975. Após trabalhar dois anos no ramo especifico iniciei carreira no setor bancário onde após o decurso de cinco anos de experiência cursei a Universidade de Chicago (The University of Chicago), onde obtive o grau de Master in Business Administration – MBA em 1985).
Por volta de 1987, estava no auge da minha carreira profissional e tinha uma vida de sucesso e de despreocupação com o sofrimento alheio. Foi nessa época que uma série de vicissitudes conduziram-me para uma situação que culminou em 1991, quando já me encontrava com uma carreira destruída, sem trabalho e endividado.
Foi nessas circunstâncias em que compreendendo que não bastava o esforço próprio para alcançar a felicidade, sensibilizei-me com um diálogo, com meu irmão, sobre o Budismo de Nitiren Daishonin e a busca incessante da felicidade inabalável nesta existência.
Iniciei-me na prática Budista em 1991, no entanto nesse breve tempo a prática modificou radicalmente a minha vida.
Durante 1991, dadas as circunstâncias desfavoráveis que estava enfrentando, somadas ao estado de esgotamento psicológico decorrente das dificuldades por que passava, decidi-me por ir trabalhar no Japão como operário sem qualificação. Cheguei ao Japão determinado a aprender a ler e a me comunicar na língua japonesa, especialmente para poder aprender mais sobre o Budismo.
Dessa forma, na medida que ia evoluindo na prática e no aprendizado da língua forma se abrindo as oportunidades de receber o Gojukai, em maio de 1993, e o Gohonzon que foi consagrado na minha casa em 3 agosto de 1994, ambos pelo Templo Biodo-Ji de Osaka, Higashi Kishiwada, sob a orientação do Reverendo Prior Tikayama Tishiyu.
Menos de seis meses após consagrar o Gohonzon abriu-se a oportunidade de voltar ao Brasil, onde após cinco meses de estada em São Paulo, um velho conhecido, que não encontrava há mais de dez anos, veio me oferecer uma oportunidade de trabalho na minha antiga especialidade. Uma vez mais o Gohonzon proporcionou-me a graça de uma chance de voltar a atividade num ramo que passa por um grande progresso, após cinco anos de inatividade!!
Desde o meu retorno ao Brasil tenho tentado auxiliar as atividade do Templo Itijoji na tradução de preleções e de Gosho.
Como se não bastasse a oportunidade de voltar ao meu ramo profissional após longa ausência e de ser exposto a inúmeras oportunidades, neste ano, em 31 de outubro recebi uma graça imensurável do Gohonzon. Neste dia ocorreu uma grande tragédia envolvendo a queda de uma aeronave (de uma companhia aérea denominada TAM), que partiu às 8:05 h. de São Paulo para o Rio de Janeiro, vitimando fatalmente todos os seus tripulantes e passageiros.
No acidente faleceram 8 companheiros do mesmo banco onde trabalho. Dentre eles estavam três companheiros na companhia de quem eu deveria estar, em uma reunião numa empresa no Rio de Janeiro. Nós todos, num grupo de quatro, deveríamos Ter voado juntos, mas somente eu embarquei num vôo programado para 20 minutos antes daquele fatídico o que salvou a minha vida.
Gostaria de detalhar um pouco mais as circunstâncias prévias ao dia do acidente:
Isto foi uma proteção maravilhosa já que estes 30 minutos de antecedência proporcionaram-me a chance de antecipar a ida.
Também gostaria de notar que na noite da véspera, no dia 30, compareci ao Templo, como todas as quartas feiras, nesse dia para tradução de Gosho, e alí fiquei até às 23:00 h. Retornei à minha residência e acompanhei o meu irmão no Gongyo da noite e no Shodai até cerca de 1:30h da manhã do dia 31.
Surpreendentemente acordei às 3:30h da manha, bem disposto, apesar de apenas duas horas de sono, o que me permitiu levantar e realizar o Gongyo da manha e a minha programação de 1h 30min. De Shodai por dia.
Às 6:30h sai em direção ao aeroporto onde cheguei às 7:00h. Ali esperei por alguns minutos e nesse intervalo verifiquei que o vôo em que os meus companheiros queriam embarcar estava com atraso de 15 minutos, ou seja, como a saída prevista para 8:20h.
Diante disso, eu raciocinei que se esperasse os meus companheiros para tomar o mesmo vôo não chegaríamos a tempo para a reunião das 9:00h da manha. Além disso, sabia que o vôo das 8:20h era bastante disputado, saindo quase sempre lotado, portanto, não iria de qualquer forma ficar acomodado junto com os meus companheiros.
Assim decidi-me por antecipar a minha saída e fiz o Check-in no vôo das 7:45h. Feito isso, voltei ao local do encontro e decorridos mais cerca de 5 a 10 minutos chegou um dos meus companheiros, a quem avisei sobre a minha antecipação de vôo e marquei um encontro no Rio de Janeiro.
Embarquei as 7:45h. e após esperar brevemente pelos meus colegas rumei para a empresa onde faríamos a reunião, apesar de não saber com certeza o local já que estivera anteriormente no escritório da empresa, por uma vez, cinco meses antes.
Chegando ao local passei a receber notícias sobre a tragédia e ligações telefônicas angustiadas sobre o paradeiro dos meus colegas até que, cerca de duas horas depois, soube que eles estavam entre as vítimas.
Com enorme pesar pela perda de pessoas queridas, recebi com muita alegria esta maravilhoso benefício, compreendendo que devo me utilizar destas provas reais para transmitir aos outros sobre o poder desta prática do Budismo de Nitiren Daishonin.
Também percebo no coração que não há maior alegria e realização do que nos prepararmos vigorosamente para poder servir ao Gohonzon-Sama.
Adhemar Toshimassa Kajita
São Paulo - SP