Apresentação do artista para exposição de 1988

 

VISÕES NOTURNAS DE LUCIO PEGORARO

É impressionante o contraste que existe entre o trabalho minucioso do restaurador e a criação artística de Lúcio Pegoraro.
Enquanto a restauração exige paciência, controle da matéria, gestos vigiados, sua pintura é livre, de uma liberdade delirante, com pinceladas grossas, tinta escorrendo sobre a tela, cores festivas, gestos bruscos, nervosos; sensibilidade absolutamente moderna.
Ao abandonar o ateliê de restauração no prédio do Museu Paulista Pegoraro age, já aposentado como uma criança que acaba de pular do muro da escola se envolver pela liberdade pelo lirismo e pela poesia. Nesse instante a sua imaginação solta quaisquer amarras, deixando flutuar na mente imagens sensíveis e românticas da aventura e do prazer .
Algo de muito rústico domina as suas telas: o tecido grosso se impondo sob a tinta espessa, o gesso vital e categórico; uma força viril emanando de cada objeto.
As engrenagens vão sendo postas como se fossem vísceras de um animal pré histórico. Essas máquinas meio animal, meio vegetal, formam uma outra realidade. Aqui o artificio é verdadeira natureza.
Essa beleza tão agressiva, quanto fascinante, cria um certo clima de perigo, que nos envolve sem assustar. É uma proposta de fuga do cotidiano, de mudanças, de deslocamento no tempo e no espaço. A nostalgia invade as telas de Pegoraro, nos aliciando para viagens romanticamente juvenis, onde o repouso e a velhice simplesmente deixam de existir.
Aquele que decidir embarcar nessa aventura certamente voltará enriquecido. O salto final nas mostra um artista dilacerado entre a inquietação espiritual e um desesperado desejo de paz. Mas não seria esse o drama essencial de essencial de todo ser humano?

( Por Antônio Zago – A respeito de uma exposição em 1988 )

 

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