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Tradução de Ivo Storniolo
Quando
me ordenas cantar, parece que o meu coração vai arrebentar-se...
Pensei
que poderia te pedir a grinalda de flores
que levas no pescoço...
Essa
que ficou sempre na profundidade
do meu ser...
A minha
libertação...
Daqui por
diante eu me expressarei em sussurros...
Cantar
me enlouquece...
Quando
me ordenas cantar,
parece
que o meu coração vai arrebentar-se
de orgulho. Então
contemplo a tua face e as
lágrimas me vêm
aos olhos.
Tudo o que é duro e dissonante
em
minha vida se dissolve em única
e doce
harmonia, e a minha adoração
abre as
suas asas, como um pássaro
alegre voando
sobre o mar.
Sei que tens prazer no meu
canto.
Sei que posso chegar à
tua presença apenas
como um cantor.
Com a ponta da asa
imensamente
aberta do meu canto
eu roço os teus pés,
que eu jamais poderia
querer alcançar.
Embriagado pela alegria de cantar,
esqueço a mim mesmo e
te chamo amigo,
tu que és o meu Senhor.
Pensei
que poderia te pedir a
grinalda
de flores que levas no pescoço,
mas não me atrevi. Fiquei
esperando pela
manhã, quando tivesses
ido embora, para
encontrar pedaços dela
no leito. E fiquei na
madrugada feito mendiga, procurando
uma ou duas pétalas caídas.
Coitada de mim,
o que foi que
encontrei? O que
me restou do teu amor?
Nem flor, nem perfume,
nem jarro de água
perfumada... Apenas
a tua espada
poderosa, flamejante
como chama e pesada
como raio na tempestade.
A luz jovem da
manhã entra
pela janela e se derrama em
teu leito. O pássaro
da manhã começa a
cantar, e me pergunta:
"Mulher, o que é
que encontraste?"
Não, não foi uma flor,
nem perfume e nem
jarro de água
perfumada. Encontrei
apenas a tua espada
poderosa.
Sento-me e fico
cismando, admirada
com essa tua dádiva.
Não acho lugar onde
escondê-la.
Tenho vergonha de usá-la, tão
frágil sou,
e ela me fere quando eu a aperto
contra o peito.
Mesmo assim, porém, eu
levarei no meu coração
esse honroso fardo
de dor, que é
a tua dádiva para mim.
Doravante nada mais
temerei neste
mundo, e tu conquistarás
a vitória em
todas as minhas
lutas. Deste-me a morte
por companheira,
e eu vou coroá-la com a
minha vida. A tua
espada está comigo para
cortar as minhas
amarras, e nada mais
temerei neste mundo.
Doravante eu abandono
todos os
adornos fúteis.
Senhor do meu coração,
não vou mais
ficar esperando ou me
desesperando pelos
cantos, e nunca mais
vou ser tímida
ou caprichosa. Deste-me
como ornamento a
tua espada. Não preciso
mais dos enfeites
de boneca.
Essa
que ficou sempre na
profundidade
do meu ser, no crepúsculo de
vislumbres e percepções
momentâneas; essa
que jamais retirou seus véus
na luz da
manhã, essa irá
ser a minha última
oferenda a ti, meu Deus, envolta
na minha canção final.
As palavras a cortejam,
mas não conseguiram vencê-la, e a persuasão inutilmente
estendeu para ela os seus braços ansiosos.
Vaguei de país em país,
conservando-a
no íntimo do meu coração,
e ao redor
dela a minha vida ergueu-se e
caiu, ao
mesmo tempo forte e frágil.
Embora habite sozinha
e afastada, ela sempre reinou sobre todos os meus pensamentos e ações,
sobre todos os meus sonos e sonhos.
Muitos bateram à minha
porta,
perguntaram por ela, e foram-se
embora,
sem esperança.
Ninguém no
mundo conseguiu vê-la face a face, e ela continua em sua solidão,
à espera do teu reconhecimento.
A
minha libertação, para mim, não está
na
renúncia. Sinto o abraço da liberdade
em
mil laços de prazer.
Daqui
por diante eu me expressarei
em
sussurros...
...Gastei muitas e muitas
horas na luta
entre o bem e o mal. Mas
agora o prazer do
meu companheiro de jogos
nos dias vazios
é atrair o meu coração
para o seu. E eu
não compreendo por
que esse repentino
convite para não sei
qual inútil
inconseqüência!
Cantar
me enlouquece, e se eu me
desfizesse
todo num vôo de canção, nada
me
pesaria tanto...
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