Aqui
estou para cantar-te canções. Encontrei um cantinho no teu
salão para sentar-me....
Se
não falas, vou encher o meu coração com o teu silêncio,
e agüentá-lo...
Se o dia
já se foi, se os pássaros pararam de cantar e se o vento
desistiu cansado...
Ele
veio e sentou-se ao meu lado, mas eu não despertei. Ai de mim! Que
maldito sono era aquele? ...
Aqueles
que me amam neste mundo
procuram a todo custo manter-me preso...
O dia já
se foi, e a sombra envolve a terra...
Se não
me for dado encontrar-te nesta minha vida...
...A cortina
que separa as minhas canções das tuas...
Eu
estava mendigando de porta em porta no caminho da aldeia
Ó
meu Deus, permite-me...
Aqui
estou para cantar-te
canções.
Encontrei um cantinho no teu
salão
para sentar-me.
Nada tenho a fazer em teu mundo.
A minha vida inútil pode
apenas expandir-se
em melodias sem nexo.
Quando, à
meia-noite, soar a hora do
teu culto no templo
silencioso, ó meu
Mestre, ordena que
eu me levante diante de
ti para cantar.
Quando a harpa se afinar
no ar da
manhã, honra-me, ordenado
a minha
presença.
Se
não falas, vou encher o meu
coração
com o teu silêncio, e agüentá-lo.
Ficarei
quieto, esperando, como a noite em
sua vigília
estrelada, com a cabeça
pacientemente
inclinada.
A manhã certamente
virá, a
escuridão se dissipará,
e a tua voz se
derramará em torrentes
douradas por todo o céu.
Então as tuas palavras
voarão em
canções de
cada ninho dos meus pássaros,
e as tuas melodias brotarão
em flores por
todos os recantos da minha
floresta.
Se
o dia já se foi, se os pássaros
pararam
de cantar e se o vento desistiu
cansado,
então cobre-me bem com o
espesso véu
da treva, assim como cobriste a
terra com a coberta
do sono e ternamente
fechaste as pétalas
do lótus que se inclina
ao pôr-do-sol.
Retira a vergonha
e a pobreza do
caminhante que esvaziou
o seu bornal
antes de findar
a viagem, que está com as
vestes rasgadas
e empoeiradas, e cuja força
se exauriu. Renova
a sua vida como a de
uma flor envolvida
pelo manto da tua
bondosa noite.
Ele
veio e sentou-se ao meu lado,
mas
eu não despertei. Ai de mim! Que
maldito
sono era aquele?
Ele veio quando
a noite corria
tranqüila.
Trazia a harpa nas mãos, e os
meus sonhos ecoaram
as suas melodias.
Ai de mim! Por que
as minhas noites
ficam assim perdidas?
Por que sempre perco
de vista aquele
cujo sopro roça o meu sono?
Aqueles
que me amam neste
mundo procuram
a todo custo manter-me
preso.
Mas o teu amor, muito maior que o
deles, é diferente, pois
tu me conservas livre.
Eles temem que eu os esqueça,
e por
isso nunca me deixam sozinho.
No entanto,
passam-se dias e dias, e tu não
apareces.
Mesmo que eu não te invoque
em
minhas orações,
e mesmo que eu não te
conserve em meu coração,
o teu amor por
mim sempre fica esperando o meu
amor.
O
dia já se foi, e a sombra
envolve
a terra. É hora de ir ao rio para
encher
o meu cântaro.
O ar da tarde está
ansioso com a
música triste da água.
Sim, ele me chama
para entrar no crepúsculo.
Ninguém passa
pelo caminho solitário.
O vento se levanta e
as ondas se encavalam no
rio.
Não sei se voltarei
para casa. Não sei
com quem poderia me encontrar.
No vau
do rio, num pequeno barco,
o homem
desconhecido toca o seu alaúde.
Se
não me for dado encontrar-te
nesta
minha vida, permite-me então sentir
sempre que eu não
consegui te enxergar.
Permite que eu não
me esqueça disso por
um só momento.
Deixa-me arrastar o
tormento dessa tristeza
nos meus sonhos e
nas minhas horas
de vigília.
Enquanto os meus
dias se passarem
no confuso mercado
deste mundo,
enquanto as minhas
mãos se encherem
com os ganhos do
dia, permite-me sentir
que eu nada ganhei.
Permite que eu não
me esqueça
disso por um só momento.
Deixa-me arrastar
o tormento dessa tristeza
nos meus sonhos
e nas minhas horas de
vigília.
Quando eu me sentar
à beira do caminho,
cansado e ofegante,
quando eu estender
a minha esteira
no chão,
permite-me sentir
que a longa jornada ainda
continua diante
de mim. Permite-me
que eu não
me esqueça disso por um só momento.
Deixa-me arrastar
o tormento dessa tristeza
nos meus sonhos
e nas minhas horas de
vigília.
Quando a minha casa
estiver enfeitada
e nela soarem s
flautas e os risos, permite-me sentir que
eu não te
convidei para a minha festa.
Permite que eu não
me esqueça disso por um só momento.
Deixa-me arrastar
o tormento dessa tristeza nos meus sonhos e nas minhas horas de vigília.
...
A
cortina que separa as minhas
canções
das tuas por um momento
esvoaçou
ao vento. Então vi que a luz
da
tua manhã estava repleta das canções
mudas
que eu jamais cantei... Pensei
que
as aprenderia aos teus pés, e
sentei-me,
em silêncio.
Eu
estava mendigando de porta em porta
no
caminho da aldeia, quando a
tua
carruagem de ouro apareceu ao longe,
como
um sonho deslumbrante. E eu fiquei
me
perguntando, extasiado, quem seria
esse
Rei dos reis.
As
minhas esperanças voaram alto, e
eu
pensei que os meus dias infelizes tinham
chegado
ao fim. E fiquei sentado,
esperando
esmolas dadas sem serem
pedidas,
e um tesouro derramado pelo
chão,
em todo lugar.
A carruagem
parou onde eu estava
sentado.
Teu olhar pousou sobre mim e
desceste
sorrindo. Senti que a felicidade da
minha
vida por fim havia chegado. Então,
de
repente, estendeste a mão direita e
perguntaste:
"O que tens para dar a mim?"
Ah,
mas que gesto régio foi esse o de
abrir
a tua mão para pedir esmola a um
mendigo?
Eu estava confuso e não sabia o
que
fazer. Então, bem devagar, tirei da
minha
sacola o último e menor grão de
trigo
e entreguei a ti.
Contudo,
qual não foi a minha
surpresa
quando, no fim do dia, esvaziei a
minha
sacola no chão, e encontrei um
grão
de ouro entre as pobres migalhas que
restavam!
Chorei amargamente,
lamentando
não ter tido a coragem de
entregar-me
todo a ti.
Ó
meu Deus, permite-me que todos os
meus
sentidos se dilatem, e eu farei este
mundo
roçar os teus pés, numa derradeira
saudação
a ti.
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