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Abobrinha, rei da inconstância amorosa, continua me divertindo com seus casos. Ainda outro dia ele me ligou, soltando a famosa frase:

- Estou apaixonado!
- Quem é a azarada?
- Não brinca!
- Não brinco, mas faço uma pergunta.
- Manda.
- Quantos anos ela tem? - essa é a pergunta avassaladora.
- Você vai zoar!?
- Mas é claro que vou!
- Doze; incompletos.
- E como você conheceu essa princesa?
- Eu tava conversando com a irmã dela no telefone...
- Quantos anos a irmã dela tem? - interrompo.
- Dezoito.
- Ah, bom!
- Não enche! No meio da conversa, ela disse que tinha a voz parecida com a da irmã. Mandei chamar a menina no telefone, e então nos apaixonamos. Cada dia eu e a C. ficamos uma hora e meia no telefone.
- Mas que história linda! Me diz uma coisinha: você já viu a cara da garota?
- Não.
- Isso é perigoso, cara!
- Já me disseram isso.
- Em compensação, a C. ainda não viu a sua.

Isso não era verdade. Abobrinha me contou que havia mandado uma foto para ela. Era uma foto de seu aniversário, todos na maior farra comendo bolo, onde eu me encontrava presente. Uma outra garota, C'., amiga de C., teria visto minha foto e se apaixonado por mim:

- Ela se apaixonou pela sua foto. - me disse Abobrinha.
- Ainda bem que não foi por mim.
- Deixa de ser bobo!
- Eu estava cheio de bolo na boca!
- Vai ver que ela gostou. Sabia que a antiga paixão dela era o professor de matemática?!
- Era melhor que você não tivesse me contado. Então C'. se apaixonou pela minha foto. Me diz uma coisinha: quantos anos ela tem?
- É mais velha que a minha.
- Grande coisa.
- Tem treze.
- Incompletos...?
- Incompletos. E eu falei que você ia ligar para ela.
- Pô, eu já estou ligando, você não está vendo?!

Alguns dias depois, atendo o telefone:

- Alô?! O Eurico está?
- É ele.
- Oi. Aqui é a C'.
- Oi.

Segue algum silêncio. Depois de algum tempo ela continua:

- Não vai falar nada?
- A princípio, não. Foi você quem ligou.

Ela riu. Mas eu não estava fazendo graça. Depois de algum tempo de conversa, ela me disse que também escrevia e, após meu pedido, começou a ler a sua estória. Resumindo ao máximo: eram duas irmãs: uma matou o pai com a ajuda do amante, brigou com a irmã por causa disso, e fugiu de casa. Meses depois a irmã boazinha a perdoou. As duas morrem e o amante vai preso, conhecendo um cara na prisão. O amante morre e o cara foge da prisão. O cara termina morrendo.

Não encontrando nexo nenhum na história-funeral dela, me limitei a fazer o seguinte comentário:

- Bom, eu tenho que admitir que você tem bastante imaginação.

Tinha pena de dar uma desculpa qualquer, apenas não telefonava para ela. Foi o suficiente para que ela não me ligasse mais depois de pouco tempo. Abobrinha ainda continuou no telefone com a sua princesa por mais um mês. E só no telefone, porque a mãe dela não a deixava sair de casa. Até que, para variar um pouquinho, ele se cansou e, dias depois, se apaixonou outra vez. Dois dias depois.  


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