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tempo é ilusão
 
A maioria das pessoa acredita nos números inscritos nos dígitos ou nos apontados pelos ponteiros de um relógio como a representação de uma duração específica. Nós nascemos em um ano qualquer no passado e dizemos que algo se passou desde que andávamos as voltas com as fraldas e hoje nos vemos lutando pela sobrevivência. A rotação da Terra em torno do próprio eixo e sua órbita em torno do sol nos dá a impressão do dia e da noite e do dia de novo numa sucessão perene e que associamos aos números do relógio. Envelhecemos e degeneramos física e mentalmente e fazemos deste fato uma conexão com o surgimento, desenvolvimento e desaparecimento das coisas em algo mais, ou devido a este algo mais. Até existe uma frase que liga o dinheiro aos instantes, que acreditamos existam, por supor conexão entre estas coisas ditas mais acima e outras mais, a uma suposta temporalidade: Time is money. Mesmo quem admite que o tempo não seja linear mas uma sobreposição e organização mais complexa de ritmos diferentes crê no tempo. Mas afinal em que se assentam as idéias significadas por instante, continuamente, temporalidade e outras afins que não me recordo agora, neste momento. Nossa linguagem escrita ou falada não funciona sem os tempos verbais que repousam sobre a idéia de que ocorram movimentos no espaço tendo como tambor de marcação o tempo. E como não podemos extrapolar as palavras para dizer algo mais compreensível para a maioria das pessoas parecemos alguém que não tem condições de revelar a verdade porque a mentira foi aceita. Quando ocorre um fenômeno após o outro, além do problema da ligação entre o que era antes e o que aconteceu depois, existe a suposição de as duas situações terem acontecido em, ou por causa de algo mais. Na realidade esta impressão é diretamente ligada a forma como a nossa percepção e constituição biológica evoluíram e determinaram nossa sensibilidade e nossa forma peculiar de comunicar as idéias. Mas pensando melhor estas idéias sobre os instantes, dias, anos, séculos, etc. serão a verdade? Ou a suposição sobre o tempo não será uma velha confusão sôbre os objetos que o pensamento gerou como em algumas disciplinas históricas por exemplo, para citar alguns dos muitos usos que demos a nossa capacidade de memória e a crença daí decorrente nas aparências temporais conectadas ao movimento contínuo de tudo. Finalmente, a idéia de tempo pode ser somente possível dentro de nossa mente, mas sua realidade talvez não, talvez a palavra tempo seja pura poesia, mas improvável realidade física, ou será que o tempo existe? O satélite/telescópio Hubble foi o primeiro a conseguir fotografar imagens emitidas de suas fontes de origem a bilhões de anos, o que nos dá a visão em alguns lugares do universo fotografado de como o universo seria logo após a suposta grande explosão (Big Bang), algo em torno de 20 bilhões de anos luz, mas o que supor sobre o intervalo que a luz leva para chegar até aqui? Além do fato de ficarmos espantados com a violência de uma explosão que gerou uma expansão inflacionária de matéria a tão enormes distâncias, de alguma forma ela muda o fato de o mesmo instante aqui e lá serem o mesmo? Não importando o fato de que só possamos ver este instante daqui a outros 14 bilhões de anos? Abordando o assunto de outra maneira, o que faz girar os mecanismos do relógio não é algo misterioso como o tempo, e os ciclos medidos em megahertz dos digitais também não são movidos pelo tempo, a experiência de que o tempo passa mais lentamente ao nível do mar e mais rapidamente quanto mais nos afastamos do centro magnético da Terra se deve única e exclusivamente a influência misteriosa sôbre os mecanismos mecânicos ou biológicos que esta distância parece exercer, e a força predominante neste meio é a gravidade, que embora não tenha sido provada como um objeto com materialidade é inegável pelos efeitos. Nosso processo de envelhecimento ainda não foi detido pela nossa tecnologia, e mais uma vez o desconhecido pode gerar ainda uma superstição de que exista algo mais além do que o espaço e o que nele está. Mas se não temos grandes certezas nesta área, nada nos pode levar mais adiante na suposição de que o envelhecimento se deva a um tirano universal além de nossas forças.

Neste exato momento em que morre ou nasce uma célula, surge ou desaparece uma partícula em qualquer lugar, podemos dizer que algo passa ou preside a estes fenômenos além das forças físicas geradoras do movimento? Não se trata de matar um deus e substituí-lo por outro, mas de questionar em que se baseia a nossa crença de que o tempo exista, ou não? Poderíamos argumentar que sem o tempo nada aconteceria e tudo estaria estático e parado, mas no nosso Universo são os objetos que nele existem, e o espaço que também é algo apreensível embora apenas possamos intuir sua presença/ausência na medida em que visualizamos um objeto qualquer atraves dele, e mesmo que não houvesse quaisquer objetos e sequer chão para pisarmos, e tudo fosse vazio em todas as direções que olhássemos, ainda assim não conseguiríamos negar o espaço. Os objetos ou estão animados de movimento ou em repouso, embora não possamos precisar a conexão entre o poder que move determinada coisa e seus efeitos e nada nos pode deixar seguros de que tenhamos que descobrir ainda muitas formas de forças ainda. Aceitamos o fato de estarmos presos a superfície da Terra, assim como a todos os objetos do planeta, porém não temos uma sensação específica a respeito desta força em nosso corpo como, por exemplo, a dor ou o prazer, só conseguimos dicerní-la quando colocados em um ambiente sem gravidade, nossa estrutura muscular sofre de uma liberação da força que a puxava para baixo. Também constatamos experimentalmente a deformação que a gravidade causa no espaço causando uma curvatura na trajetória da própria luz que cruza um campo gravitacional. Além disso podemos constatar um Universo animado de movimento composto de corpos celestes e galáxias e, também aí não temos a chave deste mistério a não ser uma suposição, por sinal a mais aceita ainda, de que tudo começou com a Grande Explosão (Big Bang). Creio ser problemático o conceito de espaco-tempo se referindo a uma realidade física, nada pode me fazer intuir de forma clara e distinta este modelo, já que espaço há, mas tempo, aonde? Alguém por exemplo poderia argumentar que sem o tempo não poderíamos ouvir uma música já que não haveria o tempo em que a sucessão de sons pudesse ser apreciada, mas um som vem após o outro só pela forma peculiar que o nosso cérebro organiza as informações que recebe através dos nossos órgãos, e só. Um vetor tempo que baseasse a sua descrição em uma seqüência em três momentos, como a xícara em cima da mesa, a xícara em queda, e a xícara se espatifando no chão para nos descrever o passado passando pelo presente em direção ao futuro não é realista já que a xícara só cai e se espatifa graças mais uma vez a gravidade e a alguma força que a empurre para a beira da mesa, antes da queda. A sensação de que vejo uma história em um vídeo ou no cinema só é possível porque os fotogramas estão organizados de forma análoga a forma que o cérebro organiza as imagens em uma seqüência que me permite apreciá-las. A ilusão que os fotogramas em sucessão a uma determinada freqüência, nos dão a impressão de vermos algo feito no passado no presente, mas o passado não está em lugar algum, só na memória que se ilude brincando com conceitos que ela mesma criou. Quando digo foi, o que foi? Se o tempo passasse, aonde estaria a parte dele que se foi? E qual parte dele é já, e se disser o já já foi e outro já e mais outro, o que aumentou foi única e exclusivamente o tamanho do texto e a quantidade de informação armazenada em uma memória imediata dentro de meu cérebro. Em suma, memória para ser acionada, lembrada, e só. Tempo é memória e nada além. Não se passaram séculos, existe unicamente um mesmo palco, o Universo, sem tempo mas com espaço e matéria animada de movimento.
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