DAVOS NÃO DAR-VOS-Á UM NOVO MUNDO
Eu estive no Fórum Social Mundial, e assisti a algumas cenas
interessantes. Se o propósito do Forum é promover uma mudança
no modelo atual de sociedade, de modo a torná-lo mais saudável,
mais sensato, me disponho a colaborar, pois considero esse objetivo nobre,
indispensável e urgente! (Por isso mesmo redigi esse texto.) Nobre
porque em meio a tanta mediocridade que permeia o cotidiano do cidadão-padrão,
e que circula pela mídia imposta pelas elites sociais, qualquer
iniciativa no sentido de transcender essa ciranda de mau gosto, é
relevante e traz alívio; se for uma tentativa que promova o resgate
dos valores humanos quase extintos, substituídos pela febre do ouro,
ou seja, uma proposta de humanização das relações
- que se oponha ao rolo compressor de mentees, que atua no meio social,
reduzindo-as à condição de meras maquininhas de repetição
de discursos prontos e de atitudes pré-estabelecidas sem qualquer
juízo crítico, o que impossibilita se contrapor ao que já
está sacralizado com o rótulo de bons costumes e o aval da
condição de normalidade - sem dúvida trará,
em si, impregnada a qualidade da nobreza, e será acompanhada de
uma bem-vinda onda de esperança. Indispensável porque se
precisa de algum alento para suportar um cotidiano conturbado, cujo futuro
é determinado por um bando de boçais em posições
de poder, que o decidem segundo os seus interesses mesquinhos e os de seus
comparsas (que se digladiam entre si, mas se mantêm sempre aquém
do limite de tolerância dos grupos maiores a que estão subordinados,
ou que eleve demais a pressão da ralé, isto é, dos
grupos subalternos). Urgente porque o resultado dessa algazarra mórbida
se faz sentir na degradação da Vida como um todo sobre o
Planeta, e todas as formas de vida estão ameaçadas pela estupidez
humana - inclusive os próprios humanos - pois a conduta social atual,
além de suicida, é assassina, já que elimina as condições
de vida, tornando o Planeta um ambiente hostil, inóspito aos seres
que nele habitam, extingue espécies, promove mudanças abruptas,
impossíveis de serem assimiladas e neutralizadas pela capacidade
de adaptação das espécies atingidas. A continuidade
desse modelo social tende, cada vez mais, a inviabilizar o (re)equilíbrio
ambiental. Portanto, é imprescindível que se comece, o quanto
antes, uma mudança desse quadro. Contudo o que observei no Forum
me deixou um tanto preocupado. A minha apreensão deriva da constatação
de que mesmo aqueles supostamente predispostos a iniciarem essa mudança,
relutam em realizá-la consigo próprios, em suas atitudes.
Falar é mais fácil do que fazer. Por mais que eu tente ser
compreensivo com aqueles que passaram toda a sua vida agindo de modo incoerente
com a condição humana - a qual é uma pequena "protuberância"
dependente da Natureza, ou de modo concreto, das condições
proporcionadas pelo Planeta - não dá para ser tão
tolerante, a ponto de aceitar algumas contradições, porque
acho que estaria transpondo o limite da omissão e até
da cumplicidade. Eu duvido que alguém possa me explicar uma
estranha lógica que torne coerente, ao propósito do Forum,
a existência de propagandas e de produtos de multinacionais, dentro
das instalações do mesmo. Espero que tenha ocorrido apenas
um lapso de atenção dos que organizaram e coordenaram as
atividades. E o que pensar a respeito dos participantes do Forum que se
prostraram como meros consumidores sem critério, que se comprazem
em manter os seus próprios verdugos, lambem as botas dos grupos
que lhes oprimem, em função de consumir os produtos cuja
produção e comercialização é a base
de sustentação dos mesmos, e o meio de manter a sua dominação
(e todo o tipo de abuso que é praticado) e sobre o qual esses oprimidos
falam protestando, mas negam tudo o que dizem agindo ou seja, comprando
(assim patrocinando) o que essas empresas produzem, sob o olhar atento
do FMI, Banco Mundial & cia.? A propósito - por falar nessa
turma bocabraba - também é difícil entender
o fato de que uma dessas instituições financeiras internacionais
- o BID, Banco Interamericano de Desenvolviimento, (também conhecido
como IDB Inter-American Development Bank com sede em Washington, USA) -
esteja financiando o alargamento da av. Carlos Gomes, aqui na cidade que
promove o Forum Social Mundial, eliminando muitas árvores que são
espécimes raras da Mata Atlântica (um ecossistema tropical
bastante ameaçado), efetivando um projeto defasado em mais de trinta
anos. Segundo informações que obtive na Internet, essa implementação
foi decidida apressadamente pois, conforme teria afirmado Gerson Almeida
(Secretário Municipal do Meio ambiente da SMAM): "... disseram
que o crédito está disponível mas teríamos
que apresentar o projeto em um mês. Para garantir o dinheiro tivemos
que usar o projeto original sem maiores análises". (Até quando
as nossas atividades estarão submetidas à ingerência
nefasta dessas instituições? Há quinhentos anos trocamos
nossa natureza por espelhinhos e contas de vidro! Até quando seremos
fascinados por nossas criações? Até quando máquinas
- como os automóveis - terão supremacia sobre seres vivos?)
Não sei quantas pessoas - assim como acontece comigo - têm
inquietações como essas? Às vezes tenho a impressão
de que há uma síndrome de letargia mental acossando a população...
Me incomoda o silêncio da mídia a determinados assuntos de
relevância...) Sobretudo o que vi no acampamento instalado no Parque
da Harmonia, não é o mundo que eu sonho. Aliás o que
vi foi a continuidade do trivial mundinho absurdamente capitalista. Me
senti rodeado pelo mesmo grau de hipocrisia que, em meu dia-a-dia, me impele
a me comportar também de forma contraditória e a manter um
pacto dissimulado, o qual estabelece que não devo ver, ouvir e reconhecer
o que seja incoerente. Insurgir-se contra esse estado de relações
e de comportamento significa correr o risco de ser desprezado, tachado
de chato, de careta ou de ser tratado como um doente mental. Contudo eu
insisto para que no mundo a ser criado, além da coerência
entre as atitudes e o discurso, haja também respeito pelo repouso
alheio, e que se possa dormir sem ter que ouvir gritos, músicas
(ou melhor, sequências de ruídos chamados de músicas),
e outros barulhos diversos a noite toda, como aconteceu no acampamento.
Insisto que haja respeito pelo meio, por isso haja menor transformação
da Natureza em lixo, e que este seja separado e colocado no seu devido
recipiente, para que possa ser reciclado, em vez de ser espalhado, jogado
displicentemente sobre as plantas, ou queimado. Insisto em um mundo onde
a saúde seja um bem valioso a ser preservado com empenho, em vez
de mero meio de ganho financeiro, ou para justificar a indolência
e a falta de caráter, onde se possa respirar tranquilo sem ter que
observar se alguém está fumando do lado (e do lado de crianças
que ainda desconhecem os males causados pelo cigarro), indiferente ao malefício
que está causando a si próprio, a quem estiver próximo,
e ao meio ambiente, provocado pela indústria do fumo. Insisto em
contar com um mundo onde as pessoas se divirtam de modo semelhante a quando
eram crianças, sem precisar de muletas nocivas como as drogas (pouco
importa se lícitas ou não). Infelizmente a grande maioria
dos participantes do Forum ainda não está preparada para
forjar o mundo que propagandeiam, muito menos o mundo que está no
meu sonho. Espero que essas pessoas comecem uma revolução
conxigo mesmas, onde quer que estejam, que modifiquem o seu cotidiano,
tornando-o mais adequado à condição de humanos...
que abandonem a condição de tolos consumidores, cuja realização
está vinculada, obrigatoriamente, a viver para consumir... e que,
no próximo Forum, retornem refeitos, revitalizados, dispostos a
expandir essa mudança ao meio social, sem tanto discurso, sobretudo
servindo de exemplo vivo, com o seu comportamento. (Quantos forums ainda
será necessário para que comecemos esse novo mundo?...)
RECADO A "DAVOS" (FMI, BANCO MUNDIAL & CIA.):
Quem é voce que se esconde atrás dum nome?
Voce veio nos pregar essa cartilha
Sua excelência espolia as nossas matas
Mas, em nome do meu povo eu te pergunto,
Desaprendemos de enxergar nosso momento.
Tua influência contamina nosso meio.
O pobre briga por um pouco de respeito.
Por tudo isso, tua conta está errada,
Por que será que... o povo compra o que tu queres?
Será que muitos já estão contaminados,
Quem sabe um dia a economia inda te mata,
Nesse dia, entre o povo, haverá risos.
Por que assumes o nome de uma cidade?
pois tu é quem provoca meu desagravo.
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