PRIMEIRA GOTA


Por fora, o sangue se enlamea com a minha aflição,
ao dar-me conta que, mesmo de modo indireto,
participei do assassinato, covarde e discreto,
de seres sensatos e ingênuos, que se extinguirão, 
por ganância duma espécie estúpida que, com desdém,
suga o que pode, e depois, cospe no seio que a mantém, 
e encobre fatos pra ter uma justificativa
à aniquilação da liberdade e de formas de vida.

Por dentro, ecoa e corta um gemido que fôra abafado,
em mais uma baleia, que vira pacotes nos mercados,

Lamento por ter que lamentar pelo fato de haver nascido humano civilizado.
Lamento por ter de carregar esse fardo,
por ter que aspirar o forte cheiro de carcaça, 
impregnado em todas as classes dessa raça, 
que, até no túmulo, com caixões enfeitados, 
sua podridão, hipocritamente, disfarça!

Lamento pela fumaça e as árvores derrubadas, 
pela triste sorte de animais e plantas nas queimadas.

Lamento pelas tecnologias anti-vida, 
e o saber específico que diz aperfeiçoar a Natureza, 
nesse Planeta magnífico!

Lamento por ainda usarem peles de bichos, vítimas de um capricho!

Lamento pelos costumes e tradições deploráveis.

Lamento pela moda, pelo conforto e a barbárie, 
de malditos otários, que ainda pagam horrores, 
pra cobrir sua imundície, com perfumes, maquiagem, 
e jóias extraídas em garimpos depredadores!

Lamento pelos alçapões, facas, espingardas, 
cêrcas, injeções de hormônios, ferros e marcas.
Lamento por estar sendo "oficializada" toda a dor, 
com a parafernália usada nessa guerra sem vencedor.

Lamento pelas nuvens, outrora alvas; 
agora, por toda a sua extensão, as satura, 
toda essa escuridão, que não é feita de chuva.

Lamento pela chuva, outrora amiga, 
que agora desce ácida, corrosiva! 

Lamento pelo meu amigo mar, outrora fecundo, 
onde agora bóiam cadáveres envenenados 
com as mesmas porcarias, que eu tenho que vomitar.

Lamento por estarem sujas e pesadas 
as águas dos rios e dos olhos de seres, 
cujo olhar também sabe ver, 
e cujo sentimento - não é falso! - 
tanbém lamenta.

Lamento por ter que dizer o óbvio, 
outrora vivido, 
agora esquecido junto com o direito à vida, 
tornou-se uma peça de museu, 
um assunto de escrita...
um chato sermão religioso,
ou estratégia falida.

Lamento pelo modo de vida seguido, 
no qual, o povo em geral, busca falsas alegrias...
e, ao ser tiranizado, por tola rebeldia, 
cada indivíduo é um tirano em potencial! 

Lamento, querido Planeta, pelo constante conflito: 
quando tento, por ti, fazer algo, 
sou, ao mesmo tempo, 
pressionado a cometer mais absurdos pra ser aceito! 
Contudo, prefiro ficar do teu lado; 
assim, não me torno pesado; 
e qualquer mal se torna leve, fluído;
qualquer sofrimento fica colorido 
por um prazer inexplicável...

(parte do poema OCEANU)


 

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