Em 1966 o rock and roll já não era mais
o mesmo da década de 50. As músicas descompromissadas, arranjos
simples e letras bobas sobre amor, garotas e carros estavam dando lugar
a algo mais elaborado.
Os
Beatles já haviam abandonado as baladinhas adolescente e compunham
trilhas sonoras para viagens de ácido. No auge do verão do
amor as letras políticas de Bob Dylan eram os lemas da campanha
contra a guerra do Vietnã e faziam parecer irresponsável
a música executada apenas com propósito de diversão.
As letras românticas dos primeiros tempos começavam a dar
lugar ao lema sexo, drogas e rock and roll.
Neste cenário de mudanças rápidas
começou a surgir o movimento chamado de rock progressivo (ou progressista),
marcado por letras profundas, músicas relacionadas entre si, arranjos
complexos, instrumentos exóticos e acima de tudo muito experimentalismo.
O que mais caracterizava o rock progressivo era a tentativa de não
se prender a nenhum estilo ou regra predeterminado. Há controvérsias
sobre qual teria sido o marco inicial do movimento progressivo. Alguns
afirmam terem sido os Beatles, com o disco Sgt Peppers, os primeiros a
abordarem o rock como algo mais além de simples diversão.
A maioria, porém, aponta o Pink Floyd, com seu álbum Piper
at Gates Of Dawn como o precursor do movimento.
O embrião do que viria a ser uma das mais influentes
bandas da história foi o grupo Sigma 6, formado por Roger Waters,
Rick Wright e Nick Mason, na época alunos da Faculdade de Arquitetura
de Cambridge. Como é comum a toda banda iniciante, o estilo ainda
não era definido, variando do rock ao folk, e as mudanças
de formação eram constantes, assim como as mudanças
no nome da banda (Abdabs e T-Sets). A grande virada da banda ocorreu quando
se juntou a ela Roger "Syd" Barret, que havia estudado com Roger
Waters na Cambridge High Scholl. Foi de Barret a idéia do nome Pink
Floyd Sound, mais tarde abreviado para Pink Floyd (tratava-se do nome de
um disco da dupla de blues Pink Anderson e Floyd Council, influências
de Syd).
Syd Barret era muito mais do que apenas músico.
Movido por inspiração e LSD Syd era compositor, poeta, pintor
e artista performático. Planejados e comandados por ele os shows
do Pink Floyd eram muito mais do que apenas espetáculos sonoros.
Usando truques simples de luz e projeção de slides o Pink
Floyd tentava reproduzir em palco os efeitos de viagens de ácido
e segundo muitos conseguia. Os shows iniciais dirigidos a um público
underground composto de poetas e ativistas políticos rapidamente
chamou a atenção da indústria musical. O Pink Floyd
ajudava a inaugurar o rock experimental e cunhava o termo psicodelismo
para definir o seu estilo de música.
O grupo é logo contratado por uma pequena gravadora,
a Thompson Records, e grava um single com as músicas Lucy Leaves
e I'm a King Bee, que teve uma excelente aceitação. Os apreciadores
do Floyd não eram mais apenas fãs de sua música e
passavam aos poucos a ser como que seguidores de uma doutrina, seguindo
a banda aonde quer que ela fosse. A EMI, que havia a poucos meses classificado
o trabalho da banda de "experimental demais", rapidamente os
contratou. A banda começou no estúdio Abey Road a gravação
de seu primeiro álbum. Curiosamente, no mesmo estúdio e na
mesma época os Beatles gravavam o disco Sgt Peppers. Nos corredores
do estúdio foram compartilhadas drogas e opiniões musicais.
Os discos resultantes, Sgt Peppers, dos Beatles, e The Pipers At Gates
of Dawn, disputam entre si o título de marco da estréia do
rock como obra de arte.
O sucesso do disco de estréia é atribuido
principalmente à mente genial de Syd Barret, responsável
pelos arranjos de estrutura indefinida, cheio de nuances e completamente
imprevisíveis. A linha que limitava a genialidade e a loucura de
Syd Barret porém se tornava mais tênue a cada momento. Problemas
mentais provenientes de uma infância conturbada se agravaram em virtude
do uso excessivo de alucinógenos e Syd Barret começou a apresentar
um comportamento algumas vezes esquizofrênico e algumas vezes alienado.
A situação se agravou até o ponto em que Syd Barret
não conseguia mais tocar ou compor e se limitava no palco a tocar
um único acorde e olhar para um ponto perdido no espaço.
Foi convidado para preencher o espaço na banda o vocalista e guitarrista
David Gilmor, antigo companheiro de escola de Roger Waters e Syd Barret.
Com Syd Barret ainda oficialmente na banda embora não
mais participasse dela ativamente, foi lançado o álbum Saucerful
of Secrets. Ao contrário do que se podia esperar, apesar de não
contar com a participação integral de seu criador e principal
articulador, o Pink Floyd se sai muito bem. Aos poucos Syd Barret é
deixado de lado até ser definitivamente desligado da banda. Esquecido,
Syd levou desde então uma vida comum, morando com a mãe e
se dedicando a hobies como pintura e jardinagem.
O prestígio da banda cresce nos anos seguintes
com os discos Ummagumma, Atom Heart Mother e Meddle, além das trilhas
sonoras para dois filmes, More e Obscured By Clouds. O comando da banda
havia sido assumido aos poucos com maestria por David Gilmour, que dividia
com Roger Waters a responsabilidade de compor as músicas da banda.
Em 1973 a banda grava Dark Side Of The Moon, um dos álbums
mais bem sucedidos da história, que viria a permanecer mais de 20
anos entre os mais vendidos. Com este disco o Pink Floyd prova definitivamente
que não dependia apenas do gênio de Syd Barret e supera em
todos os aspectos a obra prima que foi o primeiro disco. A EMI chegou a
construir fábricas para fabricar exclusivamente este disco, que
marca uma fase de trabalho conjunto e harmonia entre os membros da banda.
Segue-se Wish You Were Here, um trabalho conceitual e
um verdadeiro tributo a Syd Barret. O tema da ausência é o
pretexto para indiretamente homenagear e analisar o gênio louco.
Curiosamente durante as gravações deste disco Syd Barret
compareceu ao estúdio, gordo, sujo e careca, com uma imagem tão
degenerada que custou a ser reconhecido pelos companheiros.
Animals, de 1977, inaugura a fase de protesto político-social
da banda e também marca o início de um predomínio
de Roger Waters sobre os outros músicos. O disco é baseado
na peça teatral "A Revolução dos Bichos"
de George Orwell e retrata as contradições e injustiças
da sociedade capitalista.
Durante as gravações de The Wall surgem
os primeiros atritos entre os membros, com Roger Waters tomando para si
o controle da banda. The Wall era um tratado sobre a solidão e sobre
o poder esmagador do sucesso, mas era antes de tudo uma auto-biografia
do que Roger Waters se supunha ser. A obra, logo tachada de ópera-rock,
seria lançada também em forma de filme.
Com o álbum The Final Cut agravam-se os problemas
de relacionamento entre os membros, com Roger Waters tendo despedido Rick
Wright e relegado os outros componentes da banda a pouco mais do que músicos
de estúdio. Waters compôs o conceito e praticamente a totalidade
das músicas, além de ter sido o responsável por todos
os vocais. O álbum na realidade deveria ser um trabalho solo, mas
a gravadora achou que seria mais lucrativo lança-lo como trabalho
da banda.
Brigas entre os componentes restantes levaram Roger Waters
em 1986 a anunciar o fim do Pink Floyd. Seguiu-se uma longa batalha judicial
entre os advogados de Roger Waters e David Gilmour. A justiça decidiu
que o nome da banda não pertencia a Roger Waters. Rick Wright foi
trazido de volta e em 1987 foi lançado A Momentary Lapse Of Reason,
considerado quase unanimemente um dos discos mais fracos do Pink Floyd.
Segue-se o primeiro disco ao vivo da banda, Delicate Sound Of Thunder.
Em 1994, num clima de volta triunfal, após alguns
anos sem gravar e sem se apresentar ao vivo, a banda volta com The Divison
Bell, disco que teve excelente aceitação por parte da crítica
e do público. Pouco mais tarde, em 1995 é lançado
Pulse, uma outra gravação ao vivo.