A alquimia começou a desenvolver-se por volta do século III a.C., em Alexandria, centro de convergência cultural da época. O general Alexandre, o Grande, discípulo do filósofo grego Aristósteles, fundou no delta no Rio Nilo, em 372 a.C., a cidade de Alexandria, onde foi criada a maior biblioteca do mundo, na época, com milhares de exemplares, o que atraiu um grande número de pensadores.
A alquimia deve sua existência à mistura de três correntes: filosofia grega, misticismo oriental e tecnologia egípcia. Embora ‘ela nunca tivesse conseguido seu objetivo, - a pedra filosofal , capaz de transformar qualquer metal em ouro -, obteve grandes sucessos na metalurgia, na produção de papiros e na aparelhagem de laboratório.
A Europa só entrou em contato com a alquimia através das invasões árabes, no século VIII, a partir da Espanha, e a sua difusão se consolida quando nobres e religiosos, principalmente os Beneditinos, regressam das Cruzadas. Os árabes invasores fundaram universidades e ricas bibliotecas, que foram destruídas pela fúria das guerras ou pelo trabalho meticuloso da Inquisição Católica e, entre os séculos VIII e XIII, lançaram bases teóricas da alquimia.
Os alquimistas classificaram a medicina e a farmácia como ciências distintas, expondo métodos de preparação de novas substâncias encontradas casualmente durante a procura da pedra filosofal. Eles desenvolveram a técnica da destilação e preparam o ácido nítrico, a água-régia ( mistura de ácido nítrico e clorídrico ), que “dissolve” o ouro, a “pedra infernal” (nitrato de prata), que produz ulcerações no tecido animal, e a potassa cáustica (hidróxido de potássio), que permite a fabricação de sabões moles. Geber, um grande alquimista árabe, foi o primeiro a classificar as substâncias em três grupos, de acordo com suas propriedades: voláteis, combustíveis e refratárias, que são respectivamente formadas por mercúrio, enxofre e sal.
Por causa de suas origens, a alquimia desde sempre apresentou um caráter místico, pois absorveu as ciências ocultas da Síria, Mesopotâmia, Pérsia, Caldéia e Egito. Para representar os metais, os primeiros alquimistas tomaram emprestados do Egito os hieróglifos, que simbolizam as divindades. Os babilônios, por sua vez acreditavam na numerologia: assim como associavam ao número 3 um caráter divino, também relacionavam os sete metais as astros conhecidos na época e representavam esses metais da seguinte maneira:
Em vista dessa associação, pouco a pouco surge idéia de que a produção de metais depende de eflúvios emanados dos astros.
Sempre sob a influência das ciências ocultas do Oriente Médio, os alquimistas passaram a atribuir propriedades sobrenaturais às plantas, pedras, letras ou agrupamentos de letras, figuras geométricas e números, como o 3, o 4 e o 7, que eram usados como amuletos.
Um reflexo da cultura alquímica nos dias de hoje pode ser identificado quando se pensa que temos a Santíssima Trindade Católica, 4 estações, 4 pontos cardeais, 7 dias, 7 notas musicais, 7 cores no espectro solar etc.
Os alquimistas classificavam os elementos em três grupos, como se pode ver nos dizeres de Paracelso: “Saibam então que todos os sete metais são nascido de uma matéria tripla, a saber: mercúrio, enxofre e sal, mas com coloridos peculiares e distintos”.
Daí a usar fórmulas e recitações mágicas destinadas a invocar deuses e demônios favoráveis às operações químicas foi um passo. Por isso, os alquimistas foram acusados de pacto com o demônio, presos, excumungados e queimados vivos pela Inquisição da Igreja Católica. Não se pode esquecer que os alquimistas da Idade Média viviam numa sociedade que acreditava em anjos e demônios e era subjugada pela poderosa Igreja Católica. Para os leigos, qualquer simples experiência química era considerada obra sobrenatural. Por uma questão de sobrevivência, os manuscritos alquímicos foram elaborados em formas de poemas alegóricos, incompreensíveis aos não-iniciados.
Lentamente, os alquimistas foram se separando da sociedade, formando seitas secretas e seu engajamento era feito através de terríveis juramentos:
Eu te faço jurar pelos céus, pela terra, pela luz e pelas trevas;
Eu te faço jurar pelo fogo, pelo ar, pela terra e pela água;
Eu te faço jurar pelo mais alto dos céus, pelas profundezas da terra e pelo abismo do Tártaro;
Eu te faço jurar por mercúrio e por Anubis, pelo rugido do dragão Kerkoruburus
e pelo latido do Cão de três tetas, Cérbero, guardião do inferno;
Eu te conjuro pelas três Parcas, pelas três fúrias e pela espada
a não revelar a pessoa alguma nossas teorias e técnicas
Faz-se durante 12 dias digerir, dentro de esterco de cavalo,
sucos mercuriais de púrpura e de celidônia.
Ao fim desse tempo, obtém-se um suco vermelho.
Esse suco obtido é novamente colocado em esterco de cavalo.
Tal operação deve ser feita com particular cuidado:
deixa-se o esterco nutrir-se com o suco vermelho
até que se torne corpulento e semelhante a um tumor.
Coloca-se a mistura em um frasco tampado e leva-se ao fogo,
logo após de matar o animal que produziu o esterco,
até que todo o material fique reduzido a um fino pó.
Este pó deve ser misturado com óleo de vitríolo (ácido sulfúrico)
até obter-se uma consistência pastosa.
Como teste despeja-se uma parte dessa massa sobre chumbo fundido;
se este se transformar em ouro puro, então a experiência está perfeita.
Ao longo do tempo, o caráter mágico foi desaparecendo e a alquimia separa-se da feitiçaria. Nos fins do século XI, ainda na época da Inquisição, muitos alquimistas que trabalhavam para os nobres europeus transformaram em médicos e astrólogos.
No final do século XVI, os últimos alquimistas desapontados e perseguido pela Inquisição e liderados por Rosen Kreutz, formaram uma sociedade, secreta na época e que perdura até hoje: a ordem dos Rosas Cruzes.
Apesar da cobiça pelo ouro ter transformado muitos alquimistas e filósofos em frenéticos especuladores, tanto que alguns chegaram a se transformar em cunhadores de moedas falsas, a alquimia foi responsável pelo grande desenvolvimento dos equipamentos de laboratório e importantíssima para melhorar as técnicas de produção de muitas substâncias químicas.