Alagados
( Herbert Vianna / Bi Ribeiro / João Barone)
Todo dia
O sol da manhã vem e lhes desafia
Traz do sonho pro mundo quem já não queria
Palafitas, trapiches, farrapos
Filhos da mesma agonia
E a cidade
Que tem bracos abertos num cartão postal
Com os punhos fechados da vida real
Lhes nega oportunidades
Mostra a face dura do mal
Alagados,
Trenchtown, Favela da Maré
A esperança não vem do mar
Nem das antenas de TV
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em que
A arte de viver da fé
Só não se sabe fé em que
Teerã
( Herbert Vianna / Bi Ribeiro / João Barone )
Por quanto tempo
ainda vamos ver
Fotografias pela manhã
Imagens de dor
Lições do passado
Recentes demais pra esquecer
E o futuro o que
trará
Para as crianças em Teerã
Brincar de soldados por entre os escombros
Os corpos deitados não fingem mais
E as marcas de
sangue no chão são lembranças
Difíceis de apagar
Será que ainda existe razão pra viver
Em Teerã
Por quanto tempo
ainda vamos ter
Nas noites frias e nas manhãs
Imagens de dor
em rostos marcados
Pequenos demais pra se defender
E o futuro o que
trará
Se essas crianças vão sempre estar
Pedindo trocados nos vidros fechados
Sentando no asfalto sem perceber
Que as marcas de
sangue no chão são lembranças
Difíceis de apagar
Será que ainda existe razão pra viver
Em Teerã
A
Novidade
( Herbert Vianna / Bi Ribeiro / João Barone / Gilberto Gil)
A novidade veio dar
à praia
Na qualidade rara de sereia
Metade o bisto de uma deusa maia
Metade um grande rabo de baleia
A novidade era o
máximo
Do paradoxo estendido na areia
Alguns a desejar seus beijos de deusa
Outros a desejar seu rabo pra a ceia
Ó mundo tão
desigual
Tudo é tão desigual
ô, ô, ô, ô
De um lado esse carnaval
Do outro a fome total
ô, ô, ô, ô
E a novidade que
seria um sonho
O milagre risonho da sereia
Virava um pesadelo tão medonho
Ali naquela praia, ali na areia
A novidade era a
guerra
Entre o feliz poeta e o esfomeado
Estraçalhando uma mulher bonita
Despedaçando o sonho pra cada lado
Melô do Marinheiro
( Bi Ribeiro / João Barone)
Entrei de gaiato num
navio
Entrei, entrei, entrei pelo cano
Entrei de gaiato num navio
Entrei, entrei, entrei por engano
Aceitei, me engajei
fui conhecer a embarcação
A popa, o convés, a proa e o timão
Tudo bem bonito pra chamar a atenção
Foi quando percebi um balde d'água e sabão
"Tá vendo essa sujeira bem debaixo dos seus pés?
Pois deixa de moleza e vai lavando o convés"
Entrei de gaiato num
navio
Entrei, entrei, entrei pelo cano
Entrei de gaiato num navio
Entrei, entrei, entrei por engano
Quando dei por mim
eu já estava em alto-mar
Sem a menor chance nem maneira de voltar
Pensei que era moleza mas foi pura ilusão
Conhecer o mundo inteiro sem gastar nenhum tostão
Liverpool,
Baltimore, Bangkok e Japão
E eu aqui descascando batata no porão
Liverpool, Baltimore, Bangkok e Japão
E eu aqui descascando batata!
Marinheiro Dub(instrumental)
Selvagem
( Herbert Vianna / Bi Ribeiro / João Barone )
A polícia apresenta
suas armas
Escudos transparentes, cacetetes
Capacetes reluzentes
E a determinação de manter tudo
Em seu lugar
O governo apresenta
suas armas
Discurso reticente, novidade inconsciente
E a liberdade cai por terra
Aos pés de um filme de Godard
A cidade apresenta
suas armas
Meninos nos sinais, mendigos pelos cantos
E o espanto está nos olhos de quem vê
O grande monstro a se criar
Os negros apresentam
suas armas
As costas marcadas, as mãos calejadas
E a esperteza que só tem quem tá
Cansado de apanhar
A Dama e o Vagabundo
( Herbert Vianna / Bi Ribeiro )
Eu fico sentado
rindo
Te ouvindo reclamar
Meu bem há coisas mais importantes lá fora
Que os nossos quadros por pregar
Mas a gente combina
o que for necessário
'Cê lava os pratos
Eu lavo o carro
Ou ao contrário
Tanto faz
Meu nome está no
distrito
E o seu está nos jornais
E não me basta o que eu já sei
Eu ainda erro demais
Mas agente combina o
que for mais seguro
'Cê fica em casa
Eu pulo o muro
Ou ao contrário
Tanto faz
Mas a gente combina
o que for necessário
'Cê lava o carro eu lavo os pratos
Ou ao contrário
Tanto faz
There's a Party
( Herbert Vianna )
Phones are ringing
all around
But not here in my house
I can hear what people say
I know they're goin' out
There's a party
In the World at night
There's a party
And they feel so fine
There's a party
And there's no one by my side
I don't think they care 'bout me
When they're havin' fun
I sit and eat and watch TV
The night has just begun
There's a party
In the World at night
There's a party
And they feel so fine
There's a party
And there's no one by my side
A man comes on the silver screen
He seens to know that I have no one else to talk to
To talk to
O
Homem
( Herbert Vianna / Bi Ribeiro )
O homem traz em si a
santidade e o pecado
Lutando no seu íntimo
Sem que nehum dos dois prevaleça
O homem tolo se põe
a lutar por um lado
Até perceber
Que golpeia e sente a dor
Ele é o alvo da própria violência
Só então vê
Que às vezes o covarde é o que não mata
Que às vezes é o infiel que não trai
As vezes benfeitor é quem maltrata
Nenhuma doutrina mais me satisfaz
Nenhuma mais
Você
( Tim Maia )
Você
É algo assim
É tudo pra mim
É como eu sonhava, baby
Você É mais do que
sei
É mais que pensei
É mais que eu esperava, baby
Sou feliz
Agora
Não, não vá
Embora
Vou morrer de saudades
GRAVADORA: EMI-Odeon
PRODUÇÃO: Liminha
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Jorge Davidson
TÉCNICOS DE GRAVAÇÃO: Vitor Farias
CAPA E ILUSTRAÇÕES: Ricardo Leite
FOTOS: Maurício Valladares
COORDENAÇÃO GRÁFICA: J.C. Mello
Gilberto Gil - vocal em Alagados