Não me Estrague o Dia
( Herbert Vianna / Bi Ribeiro)
Gerando um filho
Fazendo um acerto
Plantando milho
Estou em reunião
Pedindo aumento
Não estrague o meu dia
Passando fome
Diga que eu não estou
Na construção
Num belo apartamento
No hospital
Num restaurante francês
Ajoelhado
Oh, não, é você de novo
Está faltando
Ainda é começo de mês
Nada justifica essa dor
É tua alma brasileira que ainda veste essa cor
Nada justifica essa dor
É tua alma posta à venda sem achar comprador
Navegar Impreciso
( Herbert Vianna )
A pátria-avó se
volta sem memória
De todos estes anos de amor
Um amor sem beijo e sem resposta
Responde agora a uma nova sedução
Teus Joaquins, teus açougueiros, filhos de uma mãe avó
Os bons e os maus tratos que eu te dei
Sucumbem com tamancos,camisetas sob a lei
Que ouviste a nova-velha Europa te ditar
E voltas tuas costas para mim
Voltas tuas costas para o mar
Pra tuas conquistas, pro teu navegar
Pra tua cruz de malta sobre o azul
Um dia foste forte e generosa
Mas hoje tua memória não tem sul
Não é porque já não se usa navegar
E nem é por tua idade, eterna sois
Mas nunca mais a nossa velha intimidade
O sabor iniguálavel dos teus pães
Grandmother,
You turn your back with no memory of all these years of love
A love without kiss or commitment responds to a new seduction
Grandmother
I'm your Joaquim, your butcher, the good and bad times I gave you
Succumb with your clogs and vests to the law the Europe dictates
And you turn your back on me
You turn your back to the sea
To your conquests, your navigation
Your maltese cross on the blue
Once you were strong and generous
And now your memory has no south
Not because you no longer sail,nor for your age you are eternal
But never again our old intimacy
That unique taste of your bread
Varal
( Herbert Vianna )
Arame tenso sob o
sol
Quem vê amor ali?
Quarando, secando, esticado sob o sol
Pronto prá molhar de amor
Arame espesso risca
o céu
Quem vê a dor ali?
Rasgando, rompendo, atravessando o véu
Pra descansar da dor
Rebenta a bolsa, revela ao mundo a cabeça
Quem tiver que mereça a coroa
Réquiem do Pequeno
( Herbert
Vianna )
Te falta o gesto
largo, a ébria poesia
Te sobra a pequeneza, as pequenas certezas
Como Agenor dizia
A vida não te intoxica enquanto contas trocados
Não vês o anzol e a linha da vida que passa ao teu lado
Te falta subir ao mais alto, te falta descer ao mais baixo
Te sobra a maldita prudência, alegrias compradas a prazo
Ao invés de viver, sobrevives, sacrificas o essencial
Não choras de dor em finados, não gritas de amor carnaval
Cometes então, que
surpresa!O sacrilégio final
Não vês a fugaz e humana beleza e sonhas em ser imortal
Vamo Batê Lata
( Herbert Vianna )
Vamo batê lata,
tonel, garrafa d'água
Vamo batê no pulso da artéria da rua
Vamo batê palma até de madrugada vamo pr'aquela praça
Da verdade nua
Vamo de tamanco pro
cubango
No aperto do abraço do suvaco no pão
Quatro sete sete cinco meia no batuque samba-funk
Da alegria arrastão
Tá desorientada,
você não sabe nada
Moleque de rua e a nova língua de Brown
Pega no meu braço, aperta a minha mão
Vamo no balanço funk do lotação
El Vampiro Bajo el Sol
( Herbert Vianna / Fito Paez )
Ya se hizo noche,
sé que debo hacer
Tengo mis cortes bajo una nueva piel
Los que me siguen no me alcanzarám
Hasta el amanecer
Ya tueve todo, hoy
tengo "la sed"
Probé de todo al menos una vez
Y aunque me digam "i nunca cambiarás!"
Yo ya no soy el mismo que ayer
Dejé al miedo, la
sombra del dolor
Dejé mi nueva piel quemarse bajo el sol
Dejé a los que dicen que nada va a cambiar
Y algo ya se cambió
Acá dentro en mi
Las luces de mi vida mortal
Acá dentro de mi
Las luces de un dia normal
En mi eternidad
Músico
( Herbert Vianna /
Bi Ribeiro / Tom Zé )
Ligue-se o éden
Som e maçã
Serpentes eternas
Sobem por nossas pernas
Desatam presilhas
De estrelas e sóis
A milhões de milhas
Dentro de nós
Cadeia de gens
Somos um trem, Ô-Ô
Um trem que tem que tem que tem
A ignição de ser pó-
Tem porque além disso dó-
Mina, insemina e se co-o-o-ze em
Semem, semem
Semem, semem
Dos Margaritas
( Herbert Vianna /
Bi Ribeiro )
Fazer um desenho nas
costas da mão
Despir a consciência das dores morais
Jogar uma vaca do décimo andar
Viajar sob a lua que varre os sertões
Uma ostra chilena, um beijo em Paris
Se cortasse o cabelo e mudasse o nariz
Se Vital escrevesse a Constituição
Se eu nunca quisesse quem nunca me quis
Ser dois e ser dez e ainda ser um
Se a vingança apagasse a dor que eu senti
Ser seco, ser reto, isento, amoral
Se eu nunca lembrasse o estrago que eu fiz
Tudo isso me faria feliz
Absurdos me fariam feliz
Pero nada me hará tan feliz
Como dos margaritas
O Rio Severino
( Herbert Vianna )
Um tísico à
míngua espera a tarde inteira
Pela assistência que não vem
Mas vem de tudo
n'água suja, escura e espessa deste
Rio Severino, morte e vida vêm
Mas quem não tem
ABC não pode entender HIV
Nem cobrir, evitar e ferver
O rio é um rosário
cujas contas são cidades
À espera de Deus que dê
Quem possa lhes
dizer
Me diz o que é que você tem
O que é que eu posso te dizer?
Me diz o que é que você tem
É muita gente
ingrata reclamando de barriga d'água cheia
São maus cidadãos
É essa gente
analfabeta interessada em denegrir
A boa imagem da nossa nação
És tu Brasil, ó
pátria amada, idolatrada por quem tem
Acesso fácil a todos os teus bens
Enquanto o resto se
agarra no rosário, e sofre e reza
À espera de um Deus que não vem
O que é que você
tem
Me diz o que é você tem
A quem se pode recorrer
Me diz o que é que você tem
Cagaço
( Herbert Vianna /
Bi Ribeiro )
Esconde os dentes,
segura a pancada
Abaixa o queixo pra salvar o nariz
Atropelado, atabalhoado
Bateu de frente com o trem social
Seguiu adiante, deixando os pedaços
Como a poesia de Wally Salomão
Cuida dos filhos, da filha-miséria
Com que carinho, com que dedicação
Pensa na fome, eu penso na língua
Em libertar meu pensamento burguês
É magricelo, um homem-martelo
Contra o mosaico do nada-que-se-fez
E o tom é de desilusão
E eu vou rastejar no chão
Eu tenho cagaço
De descer ladeira abaixo
Tenho cagaço
De pensar demais
O
Amor Dorme
( Herbert Vianna )
Todo amor
Todo amor dorme
Numa caixa, numa gaveta, numa sala escura
Que às vezes visito
Como hoje num sonho
Como deneuve entre os pombos
A abençoar seus queridos
E o tempo, senhor
dos enganos
Apaga os momentos sofridos
E aqui te traz vez por outra
A passar umas horas comigo
Ficamos nós dois
entre sonhos
De amores novos e antigos
Te beijo no escuro silêncio da sala
Que às vezes visito
Go Back (Sérgio Britto - Torquato Neto - Versão: Martin Cardoso)
Casi un Segundo(Herbert Vianna - Versão: Martin Cardoso)
GRAVADORA: EMI-Odeon
PRODUÇÃO: Phil Manzanera
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: João Augusto
TÉCNICOS DE GRAVAÇÃO: Kevin Lamb
CAPA E ILUSTRAÇÕES: Gringo Cardia
FOTOS: Maurício Valladares
COORDENAÇÃO GRÁFICA: Egeu Laus
Eduardo Lyra -
percussão
Demétrio Bezerra - trumpete em Navegar Impreciso, Vamo Batê
Lata e Cagaço
Senô Bezerra - trombone em Navegar Impreciso, Vamo Batê Lata e
Cagaço
Monteiro Jr. - saxofone em Navegar Impreciso, Vamo Batê Lata,
Dos Margaritas e Cagaço
Tom Zé - vocal e efeitos vocais em Navegar Impreciso
Geoff Davis - sopro (cano de PVC) em Navegar Impreciso / serrote
em Músico
Linton Kwesi Johnson - vocal em Navegar Impreciso
Bosco de Oliveira - latão de óleo e xequerê em Vamo Batê Lata
Genserico - balde em Vamo Batê Lata
Kevin Lamb - clavinet em Vamo Batê Lata
Brian May - guitarra solo em El Vampiro Bajo el Sol
Fito Paez - piano em El Vampiro Bajo el Sol
Reggae Philarmonic Orchestra - cordas em El Vampiro Bajo el Sol e
Músico
Chico Neves - programação de bateria em Dos Margaritas
Phil Manzanera - guitarra solo em O Amor Dorme