Nando Reis
História
Nando Reis toca baixo nos Titãs e é um dos maiores baixistas do Brasil, sem contar que é um ótimo compositor, escreve pra muuuuuuitas pessoas diferentes ....
O Baixista está lançando seu segundo CD, e se reafirma na carreira solo.
Romantismo explícito com muita técnica. Essa é a melhor definição para o novo CD de Nando Reis, "Para Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro" que o músico lançou em 11/09/2000. O CD de 11 faixas, passeia pelo rock que lhe é tão peculiar depois dos quase 20 anos comandando o baixo dos Titãs e ancora na MPB com muita classe, e romantismo.
Ao seu lado estão músicos de alto gabarito como Walter Vilaça e Fernando Nunes que foram com ele para Seattle gravar o disco produzido por Jack Endino ( Nirvana e "Titanomaquia", "Domingo" e "As dez mais" dos Titãs).
O produtor americano mandou bem. Isso fica claro nas faixas "Dessa vez" e "All Star" e dizer que o disco foi produzido a quatro mãos, não é mentira, afinal Nando produziu o último (e também ótimo) CD de Cássia Eller "Com Você Meu Mundo Ficaria Completo".
Como letrista, Nando já está mais do que carimbado e neste CD todas as composições são suas. Ele é um dos compositores mais requisitados do Brasil, gravado por Cássia Eller, Cidade Negra, Marisa Monte, Jota Quest, Skank e Sandra de Sá.
Em "Para Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro" Nando recebeu Peter Buck do REM que tocou bandolim nas faixas, "Dessa vez" e "Frases mais azuis" além de Cássia Eller e Rogério Flausino (Jota Quest) cantando a belíssima "Hey, Babe".
Esse é o segundo disco solo de Nando Reis, um pouco diferente de "12 de Janeiro", seu primeiro disco lançado e criticado em 1995 (não seria uma "rejeição de estréia"?). O novo CD lembra o penúltimo disco dos Titãs, "Volume Dois" (Nando seria influência forte no septeto titânico?).
Nando aproveitará este ano para divulgar seu novo CD, já que os Titãs só voltam em 2001. Paulo Miklos e Sérgio Britto também estão gravando discos solo, Toni Bellotto está finalizando a trilha sonora do seu livro que virou filme "Bellini e a Esfinge", Marcelo Frommer está escrevendo uma biografia do ídolo corintiano Casagrande, Branco Mello está com um projeto de um peça infantil e também planeja disco solo e Charles Gavin continua na sua incansável garimparem de discos antigos.
Estes são os Titãs e este é Nando Reis, músico versátil com um pé na MPB, tanto que vive de seus Direitos Autorais
Entrevista
O baixista dos Titãs está com um novo visual, cultivando uma grande barba e com roupas meio diferentes, mas os óculos de caçador continuam e a simpatia também!
Nando falou sobre o início de sua carreira, a fase ruim dos Titãs, seu novo CD e claro, MP3. Ele é contra! Também pudera, o cara hoje em dia tá com a fama de compositor lá em cima, sendo gravado por todo mundo. Mas ele avisa: "A velocidade da internet é fantástica" e "a questão dos direitos autorais deve ser regulamentada"
Confira a entrevista que o "titã" Nando Reis concedeu ao IG :
iGSom - Como a música surgiu pro Nando Reis?
Nando Reis - Olha, sempre teve música na minha casa, minha mãe era professora de violão, meu pai engenheiro, e eu tenho irmãos mais velhos que sempre compraram discos e desde pequeno eu ouvia muita música, então a música foi muito importante pra mim.
iGSom - Conta um pouco sobre sua primeira banda, que você montou com sua prima, Vange Leonel.
Nando Reis - Eu montei a primeira banda por causa de um festival secundarista de música no Santa Cruz (Colégio de São Paulo) em 1979, eu montei essa banda, nos inscrevemos com uma música minha, "Pomar", e a gente ganhou esse festival, nós levamos o primeiro lugar, foi a primeira vez que eu subi no palco, foi muito legal, mas a Vange não fazia parte ainda, ela entrou depois , levamos uma música dela num outro festival da feira da Vila Madalena em 1980, 1981.
iGSom - Você já conhecia o pessoal do Colégio Equipe ?
Nando Reis - Conhecia. Eu sempre fui amigo do Marcelo e do Branco que eram um ano acima de mim, o Paulo, o Britto e o Arnaldo eram mais velhos que eu, quando entrei no Equipe, eles não estavam mais lá.
iGSom - Qual foi o primeiro instrumento que você tocou ?
Nando Reis - O violão. Eu ganhei um da minha vó com uns sete anos e comecei a tocar desde pequeno.
iGSom - E nos Titãs, você tocou bateria, né ?
Nando Reis - [Risos] É, toquei. A gente começou a ensaiar, quando montamos um espetáculo na Sala da Biblioteca Mário de Andrade, em 1981, eu acho, e a gente fazia um projeto e eu tocava bateria.
iGSom - O clima do Equipe era muito bom, né? Tinha o Serginho Groissman...
Nando Reis - O Groissman era diretor do centro cultural e o Equipe tinha shows todos os finais de semana, shows memoráveis...
iGSom - Por exemplo ...
Nando Reis - Eu vi Gilberto Gil lançar "Refavela", vários shows do Caetano, vi Clementina de Jesus...
iGSom - O reggae é uma grande influência pra você ?
Nando Reis - Ah! Eu sempre curti reggae, desde 1978, quando comprei o primeiro disco do Marley. Foi uma coisa que mudou a minha vida, foi de encontro a tudo que eu gostava. Acho que foi por isso que comecei a tocar contrabaixo.
iGSom - Todas as 11 faixas do novo CD são de sua autoria, como é o seu processo criativo ?
Nando Reis - Eu só componho quando estou sozinho em quartos de hotéis, eu tenho quatro filhos e não trabalho em casa. Pra trabalhar eu preciso de concentração e o clima de estrada é muito propício, eu gosto disso. A situação de trabalho é no hotel, mas a inspiração vem de todos os lugares.
iGSom - O que vem primeiro, letra ou música?
Nando Reis - Vêm um estímulo, indefinido, abstrato, emocional, cujo meu primeiro impulso é ir pro violão pra procurar um indício de caminho, que não necessariamente venha acompanhado de uma idéia de letra e um vai interagindo no outro, eu vou fazendo as coisas juntas.
iGSom - É diferente compor prós Titãs e compor pra você, em carreira solo?
Nando Reis - Eu não penso bem assim , a criação não tem exatamente um caminho, um endereço, a não ser parcerias como a com o Samuel, mas é que nem sempre os Titãs gostam, é uma banda numerosa. Eu [risos] sempre gosto do que faço. Compor pra mim é mais fácil.
iGSom - E como foi a parceira com o Peter Buck do REM no novo disco, "Para quando o arco-íris encontrar o pote de ouro"?
Nando Reis - Eu fui gravar o disco em Seatlle com produção do Jack Endino, gravei com um baterista (Barett Martin) e um tecladista(Alex Veley) americano , o Barett, muito amigo do Jack que tem uma banda junto com o Peter Buck de música instrumental, eles estavam em Seattle e através da amizade deles o Barret falou bem pro Peter do meu novo disco, das gravações e ele disse que queria ir ver as nossas gravações e aí acabamos tocando juntos.
iGSom - O Jack Endino é um velho conhecido seu né? Já produziu CDs dos Titãs, o Titanomaquia...
Nando Reis - Ele produziu o "Titanomaquia", o "Domingo" e "As Dez Mais" e essa foi a primeira vez que eu trabalhei sozinho com ele. Nesse disco a produção foi dividida entre o Jack Endino e o Tom Capone, ele foi fundamental na produção do disco, eu tinha muita curiosidade de trabalhar sozinho com ele porque numa banda você divide muitas coisas.
iGSom - E o seu primeiro CD, quem produziu ?
Nando Reis - O "12 de Janeiro" foi uma produção do Paulo Junqueiro, na época eu e ele éramos diretores artísticos da Warner.
iGSom - Dá pra comparar o "12 de Janeiro" com o "Pra quando o arco-íris encontrar o pote de ouro"?
Nando Reis - Dá pra comparar, sim. São meus discos solos, eu cantando e tocando, são momentos diferentes, cinco anos separam um e outro, o primeiro era voltado muito mais pra influências da música brasileira, ele marcava uma posição minha em relação ao meu gosto musical, assim como esse, mas esse marca mais, integra mais o meu gosto musical.
iGSom - É quase impossível falar de Nando Reis e não falar dos Titãs, uma banda de quase 20 anos em que você participa ativamente. Não rola um desgaste de você subir no palco e toda vez cantar "Marvin"?
Nando Reis - É prazeroso, cara! Mas tem um desgaste sim. Uma relação de convivência estreita, intensa como a dos Titãs, cansa. Uma hora você enjoa como enjoa de qualquer coisa na vida , mas subir no palco é o maior momento para um artista, é muito bacana, cada vez que você sobe pra cantar é diferente. E a gente é muito amigo, é só parar um mês que bate a saudade.
iGSom - O "Acústico" vendeu quase dois milhões de cópias, depois veio o "Volume Dois", que não foi bem recebido pela crítica e aí veio "As dez mais" e a situação de vendas piorou. Você considera isso uma má fase?
Nando Reis - Tudo é cíclico, então eu não tenho nenhum problema em admitir o que aconteceu. Depois de um sucesso estrondoso e inesperado como foi o "Acústico" é normal esperar que as pessoas "enjoem" da gente. Eu acho que isso foi muito mal compreendido, eu adorava os Mamonas Assassinas, adorei a nossa versão e acho que ainda vão falar bem disso, da nossa versão.
iGSom - Inclusive da versão de "É preciso saber viver" do Roberto Carlos, vão falar bem?
Nando Reis - Bicho, quem falou mal daquela versão é otário. Aquilo ficou lindo!
iGSom - Os Titãs voltam quando?
Nando Reis - Voltaremos em Abril, logo, logo.
iGSom - Como você lida com as novas tecnologias?
Nando Reis - Eu estou começando a lidar com ela agora, eu uso a internet basicamente pra mandar e-mail, não sou um internauta.
iGSom - O que você acha do MP3?
Nando Reis - Eu acho a velocidade da internet fantástica. Eu faço música pra ela ser divulgada e acho que a internet é um veículo de divulgação muito veloz, com inúmeras possibilidades de atingir as pessoas, no entanto, eu sobrevivo das minhas músicas, do meu trabalho.
iGSom - Dos direitos autorais...
Nando Reis - É claro. Eles tem que me pagar pela execução das minhas músicas senão, como vou pagar as minhas contas ? Eu tenho quatro filho, pô ! Tem que organizar isso.
iGSom - A grande defesa dos adoradores do MP3 é que o artista não ganha muito com os Direitos Autorais, quem ganha com isso são as gravadoras e que o artista ganha fazendo shows.
Nando Reis - Eles não sabem do que estão falando. Eu vivo de direitos autorais, eu vivo da minha criação. Eu não posso abrir mão disso nunca. Quem falou essa bobagem?
iGSom - Tem muita gente que fala isso como Courtney Love e Limp Bizkit...
Nando Reis - Esses caras estão loucos, cara! Eu vivo de direitos autorais.
iGSom - É que você compõe muito e é muito cantado por outros artistas, né?
Nando Reis - Cara, eu não sei, só sei que não posso concordar com o que me prejudica.
iGSom - Você é um cara completo, canta, toca, compõe. O que é mais legal de fazer?
Nando Reis - Subir no palco, é incomparável, mas compor pra poder subir no palco é fundamental e o resto vem junto, compor, cantar e produzir ...
iGSom - Tudo ao mesmo tempo agora?
Nando Reis - É, [risos] tudo ao mesmo tempo agora, sempre!