Ele está tenso, super inconformado,
Se mais cinco minutos tivesse esperado.
Mas isso foi ontem, e ele pensa no agora.
Ele nunca entende por que ela sempre demora ...
São nove da noite e ele toma uma decisão,
Sai decidido a esperá-la, não suporta essa gélida
solidão.
Ele pensa muito, sobre muitas coisas durante a caminhada,
Quer logo essa tortura acabada.
No caminho pra casa dela
Escuta uma canção conhecida, divina, perfeita e bela :
"Já me acostumei com a tua voz, com teu rosto e teu
olhar ..."*
Uma grande coincidência essa música ele escutar,
Ele adora esse estilo, Beatles, Nirvana,
Titãs, Pearl Jam e Legião Urbana.
Ela não ... sempre teve um gosto meio diferentão,
Gostava de ouvir Tecno no último, no caminho pra Bailes de
Peão.
Eles nunca foram nada iguais
Ela nunca sentia a falta dele, ele sentia demais,
Ela tinha carro e era agitada, ele era calmo e só tinha um
"boné"
Ela fazia o tipo Paty, ele estava mais pra grunge ralé.
Mesmo assim, se encontraram um dia
E perceberam que algo mútuo e estranho ali acontecia ...
Já no meio do caminho, pega uma flor de um jardim,
Ele sempre foi romântico, embora não goste de ser assim.
Ele sabe que é cedo, e ela ainda está na faculdade,
Mas o que fazer quando se sente muita saudades ?
Quinze minutos depois e ele está quase chegando,
E começa a sentir "um frio" que estava apenas
começando.
Era inicio de julho, fazia uns dez graus,
Mas o frio que ele sentia, não era o pior dos maus.
Infelizmente sua mão fria acaba destruindo a pobre flor
Que ele havia escolhido com tanto amor.
Eis que ele chega na rua da casa dela
A rua está escura, parece estar a luz de vela.
Há um carro parado num dos vizinhos
As pessoas olham e ele disfarça, finge ter errado o caminho.
Anda lentamente e nota que estão se despedindo,
Espera e depois volta, assim que vê o carro ao longe
sumindo.
Os vizinhos entram e fecham o portão e a janela,
Ele continua e olha novamente na casa dela, aquela placa
amarela.
É de uma imobiliária, está bem acima do portão
Pra ele não diz "Aluga-se", e sim "Já
vão" ...
Como ele chegou rápido, senta pra esperar
Mesmo sabendo que está frio e que ela iria demorar.
Senta próximo dali, encosta-se num muro
E fica olhando pro céu, que estava nublado e escuro.
Está preocupado, pensa mil coisas diferentes, ali, ao
relento
Tanto que nem notou como estava mais frio e forte o vento.
Também nem viu o tempo passar,
Já era umas dez e meia quando foi olhar.
A essa hora, o vento era bem mais importuno
Vai até a esquina quando vê novamente o guarda noturno.
Pede pra ele parar e avisa que só está ali, esperando uma
colega,
Pois vá que algum vizinho cisme e ... daí o
"bicho pega".
O guarda diz "Fez bem em avisar, qualquer coisa é só
chamar ..."
Afinal, por mais um bom tempo ele vai esperar.
Anda até o orelhão e liga pra ela, no celular,
Ela está em aula e ele desliga rapidamente, pra não
atrapalhar.
Mesmo assim, ligar pra ela foi uma idéia boa,
Pelo menos ele sabe que não está ali a toa.
Ele está ainda mais pensativo, com frio e triste,
Mas é teimoso, sabe bem o que quer e não desiste.
Vendo por esse lado, ela é totalmente diferente,
Muda de idéia constantemente.
Deve ser por isso que ele tem um certo medo,
Ele sabe que ela o esquecerá bem cedo.
Ela tem que "ir" em breve, dentro de poucos dias,
Desde de que ele soube, vive em puro estado de euforia.
Ele foi até lá pra "se despedir",
Ele sabe que ela não faria isso antes de ir ...
Quando estavam juntos sempre parecia despedida,
Pra ele, ela era tudo em sua vida.
Mas pra ela, ele não era nada importante,
Era só um a mais que fica no seu pé, a todo instante.
Era e-mail, ICQ, telefone e "vida real",
Mas sempre com o mesmo clima de tchau ...
Ele prefere sentar na esquina, lá é mais claro,
E procura a Lua, sempre linda e com um único brilho raro.
Mas perto dos "sérios" olhos de sua amada,
A Lua tinha sua luz inteiramente ofuscada.
No seu relógio, são quase onze e quarenta,
Está um frio que ninguém agüenta.
Ele ainda está na esquina, sentado no cimento
E relembra tudo que aconteceu em tão pouco tempo.
Pensa no que viria, uma breve e triste despedida,
Que iria abrir uma ferida pra sempre, em sua vida.
Tudo aconteceu muito de repente,
Quando notou, ela já habitava seu presente.
Tentava viver cada instante, pois tudo torna-se passado,
Um passado belo, inesquecível e pra sempre registrado.
Ele sempre dizia tudo o que pensava,
Ela falava até demais, mas sobre ele, sempre se calava.
Ele vivia o presente pensando no futuro
E ela novamente em cima do muro ...
As vezes ele achava que devia ter ouvido a vozearia,
Assim não estaria sofrendo nessa "atual utopia".
Mas agora é tarde demais, já está no fim do epílogo,
Na última fase de um grande jogo.
Seu "sonho real" estava indo embora,
Deve ser por isso que as vezes a alma chora.
É fácil saber quando se está apaixonado,
O que corre nas veias não é sangue, e sim melado ...
Realidade ? Não, antes fosse,
Era só mais um sonho doce.
Enfim, naquele momento (que estava até minuano),
Vinha seu carro pela rua (pareceu demorar um ano).
Ele continuo ali, sentado,
Ainda não acreditava que ela havia chego e notado.
Viu que ele estava a sua espera,
E naquela hora, todo medo que sentia se vai, já era.
Enquanto ela coloca o carro em frente a garagem,
Ele para e pensa : "Será que fiz alguma bobagem ?"
Pra fazer isso e até mais, só um cara bobo ou alucinado,
Ou pior, um cara muito, mas muito apaixonado.
Foi então que ela caminhou em sua direção,
Nessa hora ele ficou pasmo, sem nenhuma reação.
A primeira coisa que ela disse foi "Você é louco
..."
Mas pra quem ama, aquilo ainda era muito pouco.
Ele fica contente, mas o olhar dela está um pouco diferente,
Algo ali era ausente, ou o que ela sentia era insuficiente.
Ele ainda não entendeu o que naquele momento faltou,
Não fez nada, somente a abraçou.
Depois disse que precisava vê-la urgentemente,
Pois longe dela, estava muito descontente.
Ali então se iniciou todo um fim,
De uma história que não merecia acabar assim.
Por um tempo, ele sinalizou com olhos verdes o caminho dela,
E isso estava com segundos contados, era só ver a placa
amarela ...
Conversaram só por uns dois minutos,
Talvez porque o carinho dela por ele já era bastante
diminuto.
Ninguém jamais saberá o que ela falou,
Quem sabe não disse nada, apenas se calou.
Ele queria estar com ela eternamente,
Mas isso não era possível, "infelizmente" ...
Com os olhos, ela disse "Até algum dia ..." e foi
embora,
Foi pra casa, e ele ficou olhando de longe, pelo lado de
fora.
Foi a última vez que ele a viu,
E mesmo com o coração em pedaços, sorriu.
Ela estará pra sempre em sua memória,
E bem ou mal, ele também faz parte da sua historia.
Afinal, ele sempre foi muito esquisito e diferente,
Algo que ela nunca tinha visto na frente.
Ele era sério, teimoso e maluco, no bom sentido,
E pensar que a tão pouco tempo ele era só um desconhecido
...
Dizem que ele chorosamente voltou pra casa bem devagar,
Pois estava inebriado com o que acabara de passar.
"Ela era o maior de meus bens",
Pensou ele andando no meio da Fernando Arens.
Queira ou não, a vida é sempre dessa forma,
E mesmo sabendo disso, ele até hoje não se conforma.
Enquanto caminha contra o vento,
Tenta em vão, tirá-la de seu pensamento.
Levou quase uma hora pra chegar até sua casa,
A lembrança de tudo, ainda o arrasa.
Tomou um banho e depois foi se deitar,
Mas vem a "insônia" para o atrapalhar.
Toma um leite, come bolacha floresta negra e vai pro
computador,
Pra escrever alguma bobeira sobre a "perda de um grande
amor".
Bate o sono e ele volta pra cama,
Desta vez "dormindo" sonha com quem ele ainda ama
...
Ele espera tão já não acordar,
Pois dormindo, os sonhos são mais fáceis de se realizar.
" ... Ninguém sabe se essa história aconteceu de
verdade,
Se foi hilária comédia, grossa mentira, dura realidade,
Lenda fantasiosa, conto de inverno, epopéia de paixão e
dor,
Ou se foi só mais um dramático poema de um sonhador,
E se esta, tiver alguma semelhança com alguém,
terá sido apenas mera coincidência,
Pois muitas dessas histórias se confundem, parecendo iguais, mas é só aparência
..."
*Trecho citado, extraído da música "Sete
Cidades", da Legião Urbana