Mais do Mesmo (1998): (Veja a capa do disco) Seria em princípio, o título do disco que acabou sendo lançado dez anos atrás com o título de Que País É Este 1978/1987. Se aquele era um espécie de autobiografia precoce, no bom sentido, poético, este Mais do Mesmo é a autobiografia sem adjetivo, no bom sentido, histórico. Autobiografia até porque as 16 faixas do CD foram selecionadas por Dado Villa-Lobos (guitarra) e Marcelo Bonfá (bateria), os dois legionários urbanos sobreviventes a Renato Russo (voz e baixo), morto em 11 de outubro de 1996. Parece um disco perfeitamente coerente e não uma mera coletânea: a Legião Urbana sempre fez todo o sentido do mundo. São três faixas do primeiro CD, o politizado Legião Urbana, de 1985: "Será", "Ainda É Cedo" e "Geração Coca-Cola". São três faixas do segundo, o amoroso Dois, de 1986: "Eduardo e Mônica", "Tempo Perdido" e "Índios". São duas faixas do irado Que País É Este 1978/1987: a própria e "Faroeste Caboclo" (até aqui o baixista era o Renato Rocha). São três faixas do religioso As Quatro Estações, de 1989: "Há Tempos", "Pais e Filhos" e "Meninos e Meninas". E uma faixa do sombrio V, de 1991: "Vento no Litoral". Duas do reflexivo O Descobrimento do Brasil, de 1993: "Perfeição" e "Giz". Uma do deprimido A Tempestade, de 1996: "Dezesseis". E uma do redentor Uma Outra Estação, de 1997: "Antes das Seis". Dezesseis faixas de discos politizados, amorosos, irados, religiosos, sombrios, deprimidos, redimidos, discos que configuram quase um evangelho, por mais que Renato Russo, a certa altura da vida renegasse qualquer messianismo. Nenhuma das faixas exige maiores floreios de apresentação. Elas estão aí, como se aí estivessem desde sempre, são músicas incorporadas ao inconsciente coletivo, dessas que a gente cantarola sem nem saber por quê são clássicos. E os clássicos são clássicos porque sempre devem ser ouvidos, revistos e relidos.
Mais do Mesmo (DISCO 07)
SERÁ
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá
Tire suas mãos de mim
Eu não pertenço a você
Não é me dominado assim
Que você vai me entender
Eu posso estar sozinho
Mas eu sei muito bem aonde estou
Você pode até duvidar
Acho que isso não é amor.
[refrão]
Será isso imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?
Nos perderemos entre monstros
Da nossa própria criação
Serão noites inteiras
Talvez por medo da escuridão
Ficaremos acordados
Imaginando alguma solução
Pra que esse nosso egoísmo
Não destrua nosso coração.
[refrão]
Brigar pra quê
Se é sem querer
Quem é que vai
Nos proteger?
Será que vamos ter
Que responder
Pelos erros a mais
Eu e você?
AINDA É CEDO
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá/Ico Ouro-Preto
Uma
menina me ensinou Quase tudo o que eu sei Era quase escravidão Mas ela me tratava como um rei Ela fazia muitos planos Eu isso queria estar ali Sempre ao lado dela Eu não tinha aonde ir Mas, egoísta que eu sou, Me esqueci de ajudar A ela como ela me ajudou E não quis me separar. Ela também estava perdida E por isso se agarrava a mim também Eu me agarrava nela Porque eu não tinha mais ninguém. E eu dizia: - Ainda é cedo Cedo cedo cedo cedo [solo] Sei que ela terminou O que eu não comecei E o que ela descobriu Eu aprendi também, eu sei. Ela falou: - Você tem medo. Am eu disse: - Quem tem medo é você. Falamos o que não devia Nunca ser dito por ninguém |
Ela me
disse: "- Eu não sei mais o que eu sinto por você. Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê." E eu dizia: - Ainda é cedo cedo cedo cedo. |
GERAÇÃO COCA-COLA
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo
Quando nascemos fomos programados
A receber o que vocês nos empurraram
Com os enlatados dos USA, de 9 às 6.
Desde pequenos nós comemos lixo
Comercial e industrial
Mas agora chegou nossa vez
Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês.
[refrão]
Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola.
[I]
Depois de vinte anos na escola
Não é difícil aprender
Todas as manhas do jogo sujo
Não é assim que tem que ser?
Vamos fazer nosso dever de casa
E aí então, vocês vão ver
Suas crianças derrubando reis
Fazer comédia no cinema com as suas leis.
[refrão]
[solo de voz]
[repete I]
[refrão]
EDUARDO E MÔNICA
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo
Quem um
dia ira dizer Que existe razão Nas coisas feitas pelo coração? E quem ira dizer Que não existe razão? Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar: Ficou deitado e viu que horas eram Enquanto Mônica tomava um conhaque, Noutro canto da cidade, Como eles disseram. Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer. Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse: "- Tem uma festa legal e a gente quer se divertir." Festa estranha, com gente esquisita: "- Eu não estou legal. Não agüento mais birita." E a Mônica riu e quis saber um pouco mais Sobre o boyzinho que tentava impressionar E o Eduardo, meio tonto, isso pensava em ir pra casa: "- É quase duas, eu vou me ferrar." Eduardo e Mônica trocaram telefone Depois telefonaram e decidiram se encontrar. O Eduardo sugeriu uma lanchonete Mas a Mônica queria ver o filme do Godard. Se encontraram então no parque da cidade A Mônica de moto e o Eduardo de camelo. O Eduardo achou estranho e melhor não comentar Mas a menina tinha tinta no cabelo. Eduardo e Mônica eram nada parecidos Ela era de Leão e ele tinha dezesseis. Ela fazia Medicina e falava alemão E ele ainda nas aulinhas de inglês. |
Ela
gostava do Bandeira e do Bauhaus, De Van Gogh e dos Mutantes, De Caetano e de Rimbaud E o Eduardo gostava de novela E jogava futebol-de-botão com a seu avô. Ela falava coisas sobre o Planalto Central, Também magia e meditação. E o Eduardo ainda estava No esquema "escola-cinema-clube-televisão." E, mesmo com tudo diferente, Veio mesmo, de repente, Uma vontade de se ver E os dois se encontravam todo dia E a vontade crescia, Como tinha de ser. Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia, Teatro e artesanato e foram viajar. A Mônica explicava pro Eduardo Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar: Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer E decidiu trabalhar; E ela se formou no mesmo mês Em que ele passou no vestibular. E os dois comemoraram juntos E também brigaram juntos, muitas vezes depois. E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa, Que nem feijão com arroz. Construíram uma casa uns dois anos atrás Mais ou menos quando os gêmeos vieram Batalharam grana e seguraram legal A barra mais pesada que tiveram. Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília E a nossa amizade da saudade no verão. Só que nessas férias não vão viajar Porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação. E quem um dia ira dizer Que existe razão Nas coisas feitas pelo o coração? E quem ira dizer Que não existe razão? |
TEMPO PERDIDO
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo
Todos os dias quando acordo,
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo.
Todos os dias antes de dormir,
Lembro e esqueço como foi o dia:
"Sempre em frente,
Não temos tempo a perder."
Nosso suor sagrado
É bem mais belo que esse sangue amargo
E tão sério
E selvagem.
Veja o sol dessa manha tão cinza:
A tempestade que chega é da cor dos teus olhos castanhos.
Então me abraça forte e me diz mais uma vez
Que já estamos distantes de tudo:
Temos nosso próprio tempo.
Não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas agora.
O que foi escondido é o que se escondeu
E o que foi prometido, ninguém prometeu.
Nem foi tempo perdido.
Somos tão jovens.
"ÍNDIOS"
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo
Quem me
dera, ao menos uma vez Ter de volta todo o ouro que entreguei A quem conseguiu me convencer Que era prova de amizade Se alguém levasse embora até o que eu não tinha. Quem me dera, ao menos uma vez, Esquecer que acreditei que era por brincadeira Que se cortava sempre um pano-de-chão De linho nobre e pura seda. Quem me dera, ao menos uma vez, Explicar o que ninguém consegue entender: Que o que aconteceu ainda esta por vir E o futuro não é mais como era antigamente. Quem me dera, ao menos uma vez, Provar que quem tem mais do que precisa ter Quase sempre se convence que não tem o bastante E fala demais, por não ter nada a dizer Quem me dera, ao menos uma vez, Que o mais simples fosse visto como o mais importante, Mas nos deram espelhos E vimos uma mundo doente. Quem me dera, ao menos uma vez, Entender como isso Deus ao mesmo tempo é três E esse mesmo Deus foi morto por vocês É isso maldade então, deixar um Deus tão triste.Eu quis o perigo e até sangrei sozinho. Entenda - assim pude trazer você de volta para mim, Quando descobri que é sempre isso você Que me entende do início ao fim E é isso você que tem a cura do meu vício De insistir nessa saudade que eu sinto De tudo que eu ainda não vi. Quem me dera, ao menos uma vez, Acreditar por um instante em tudo que existe E acreditar que o mundo é perfeito E que todas as pessoas são felizes. Quem me dera, ao menos uma vez, Fazer com que o mundo saiba que seu nome Esta em tudo e mesmo assim Ninguém lhe diz ao menos obrigado. Quem me dera, ao menos uma vez, Como a mais bela tribo, dos mais belos índios, Não ser atacado por ser inocente. Eu quis o perigo e até sangrei sozinho, Entenda - assim pude trazer você de volta para mim Quando descobri que é sempre isso você Que me entende do início ao fim E é isso você que tem a cura do meu vício De insistir nessa saudade que eu sinto De tudo que eu ainda não vi. Nos deram espelhos e vimos um mundo doente - Tentei chorar e não consegui |
Dado Villa-Lobos: Guitarras, Voz
Renato Russo: Violões, Voz, Teclados
Renato Rocha: Baixo, Voz
Marcelo Bonfá: Bateria, Percussão, Voz
QUE PAÍS É ESTE?
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo
Nas favelas, no senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que pais é este?
No Amazonas, no Araguaia, na Baixada fluminense
No Mato grosso, nas Gerais e no Nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso mas o sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Que país é este?
Terceiro Mundo se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão.
Que país é este?
FAROESTE CABOCLO
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo
PARTE 01 Não tinha medo o tal João de Santo Cristo Era o que todos diziam quando ele se perdeu Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu Quando criança só pensava em ser bandido Ainda mais quando com tiro de soldado o pai morreu Era o terror da cercania onde morava E na escola até o professor com ele aprendeu Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar Sentia mesmo que era mesmo diferente Sentia que aquilo ali não era o seu lugar Ele queria sair para ver o mar E as coisas que ele via na televisão Juntou dinheiro para poder viajar E de escolha própria escolheu a solidão Comia todas as menininhas da cidade De tanto brincar de médico aos doze era professor Aos quinze foi mandado pro reformatório Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror Não entendia como a vida funcionava Discriminação por causa da sua classe e sua cor Ficou cansado de tentar achar resposta E comprou uma passagem foi direto a Salvador E lá chegando foi tomar um cafezinho E encontrou um boiadeiro com quem foi falar E o boiadeiro tinha uma passagem Ia perder a viagem mas João foi lhe salvar: Dizia ele "-Estou indo pra Brasília Nesse país lugar melhor não há Tô precisando visitar a minha filha Eu fico aqui e você vai no meu lugar" E João aceitou sua proposta E num ônibus entrou no Planalto Central Ele ficou bestificado com a cidade Saindo da rodoviária viu as luzes de natal |
PARTE 02 "- Meu Deus mas que cidade linda! No Ano Novo eu começo a trabalhar" Cortar madeira aprendiz de carpinteiro Ganhava cem mil pro mês em Taguatinga Na sexta feira foi pra zona da cidade Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador E conhecia muita gente interessante Até um neto bastardo do seu bisavô Um peruano que vivia na Bolívia E muitas coisas trazia de lá Seu nome era Pablo e ele dizia Que um negócio ele ia começar E Santo Cristo até a morte trabalhava Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar E ouvia às sete horas o noticiário Que dizia sempre que seu ministro ia ajudar Mas ele não queria mais conversa E decidiu que como Pablo ele ia se virar Elaborou mais uma vez seu plano santo E sem ser crucificado a plantação foi começar Logo logo os maluco da cidade Souberam da novidade "-Tem bagulho bom ai!" E João de Santo Cristo ficou rico E acabou com todos os traficantes dali Fez amigos, frequentava a Asa Norte Ia pra festa de Rock pra se libertar Mas de repente Sob um má influência dos boyzinhos da cidade Começou a roubar Já no primeiro roubo ele dançou E pro inferno ele foi pela primeira vez Violência e estupro do seu corpo "-Vocês vão ver, eu vou pegar vocês!" Agora Santo Cristo era bandido Destemido e temido no Distrito Federal Não tinha nenhum medo de polícia Capitão ou traficante, playboy ou general |
PARTE 03 Foi quando conheceu uma menina E de todos os seus pecados ele se arrependeu Maria Lúcia era uma menina linda E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu Ele dizia que queria se casar E carpinteiro ele voltou a ser "-Maria Lúcia eu pra sempre vou te amar E um filho com você eu quero ter" O tempo passa E um dia vem na porta um senhor de alta classe com dinheiro na mão E ele faz uma proposta indecorosa E diz que espera uma resposta, uma resposta de João "-Não boto bomba em banca de jornal E nem em colégio de criança Isso eu não faço não E não protejo general de dez estrelas Que fica atrás da mesa com o cú na mão E é melhor o senhor sair da minha casa Nunca brinque com um peixe de ascendente escorpião" Mas antes de sair, com ódio no olhar O velho disse: "-Você perdeu a sua vida, meu irmão!" "-Você perdeu a sua vida, meu irmão" "-Você perdeu a sua vida, meu irmão" Essas palavras vão entrar no coração "-Eu vou sofrer as conseqüências como um cão." Não é que o Santo Cristo estava certo Seu futuro era incerto E ele não foi trabalhar Se embebedou e no meio da bebedeira Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar Falou com Pablo que queria um parceiro Que também tinha dinheiro e queria se armar Pablo trazia o contrabando da Bolívia E Santo Cristo revendia em Planaltina Mas acontece que um tal de Jeremias Traficante de renome apareceu por lá Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo E decidiu que com João ele ia acabar. |
PARTE 04 Mas Pablo trouxe uma Winchester 22 E Santo Cristo já sabia atirar E decidiu usar a arma só depois Que Jeremias começasse a brigar Jeremias maconheiro sem vergonha Organizou a Roconha e fez todo mundo dançar Desvirginava mocinhas inocentes E dizia que era crente mas não sabia rezar E Santo Cristo há muito não ia pra casa E a saudade começou a apertar "-Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia Já está em tempo de a gente se casar" Chegando em casa então ele chorou E pro inferno ele foi pela segunda vez Com Maria Lúcia Jeremias se casou E um filho nela ele fez Santo Cristo era só ódio pro dentro E então o Jeremias pra um duelo ele chamou "-Amanhã, as duas horas na Ceilândia Em frente ao lote catorze é pra lá que eu vou E você pode escolher as suas armas Que eu acabo com você, seu porco traidor E mato também Maria Lúcia Aquela menina falsa pra que jurei o meu amor" E Santo Cristo não sabia o que fazer Quando viu o repórter da televisão Que a notícia do duelo na TV Dizendo a hora o local e a razão No sábado, então as duas horas Todo o povo sem demora Foi lá só pra assistir Um homem que atirava pelas costas E acertou o Santo Cristo E começou a sorrir Sentindo o sangue na garganta João olhou as bandeirinhas E o povo a aplaudir E olhou pro sorveteiro E pras câmeras e a gente da TV que filmava tudo ali E se lembrou de quando era uma criança E de tudo o que viveu até aqui E decidiu entrar de vez naquela dança "Se a via-crucis virou circo, estou aqui." |
PARTE 05 E nisso o sol cegou seus olhos E então Maria Lúcia ele reconheceu Ela trazia a Winchester 22 A arma que seu primo Pablo lhe deu "-Jeremias, eu sou homem. Coisa que você não é Eu não atiro pelas costas, não. Olha pra cá filha da puta sem vergonha Dá uma olhada no meu sangue E vem sentir o teu perdão" E Santo Cristo com a Winchester 22 Deu cinco tiros no bandido traidor Maria Lúcia se arrependeu depois E morreu junto com João, seu protetor O povo declarava que João de Santo Cristo Era santo porque sabia morrer E a alta burguesia da cidade não acreditava na história Que ele viram da TV E João não conseguiu o que queria Quando veio pra Brasília com o diabo ter Ele queria era falar com o presidente Pra ajudar toda essa gente que só faz Sofrer |
HÁ TEMPOS
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá
Parece cocaína mas é só tristeza, talvez tua cidade.
Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.
E o descompasso e o desperdício
herdeiros são agora da virtude que perdemos.
Há tempos tive um sonho.
Não me lembro não me lembro.
Tua tristeza é tão exata.
E hoje o dia é tão bonito.
Já estamos acostumados.
A não termos mais nem isso.
Sonhos vem. E sonhos vão.
O resto é imperfeito.
Disseste que se tua voz tivesse força igual
A imensa dor que sentes
Teu grito acordaria não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira.
E há tempos nem os santos
Tem ao certo a medida da maldade.
E há tempos são os jovens que adoecem.
Há tempos o encanto esta ausente.
Há ferrugem nos sorrisos.
E só o acaso estende os braços
A quem procura abrigo e proteção.
Meu amor,
Disciplina é liberdade.
Compaixão é fortaleza.
Ter bondade é ter coragem.
E ela disse: - lá em casa tem um
poço mas a água é muito limpa.
PAIS E FILHOS
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá
Estatuas
e cofres. E paredes pintadas. Ninguém sabe o que aconteceu. Ela se jogou da janela do quinto andar. Nada é fácil de entender. Dorme agora. É isso o vento lá fora. Quero colo. Vou fugir de casa. Posso dormir aqui com vocês? Estou com medo. Tive um pesadelo Só vou voltar depois das três. Meu filho vai ter nome de santo. Quero o nome mais bonito. É preciso amar as pessoas como se Não houvesse amanhã. Porque se você parar para pensar, Na verdade não há. Me diz porque o céu é azul. Explica a grande fúria do mundo. São meus filhos que tomam conta de mim. Eu moro com a minha mãe Mas meu pai vem me visitar. Eu moro na rua, não tenho ninguém Eu moro em qualquer lugar. Já morei em tanta casa que nem me lembro mais. Eu moro com os meus pais. É preciso amar as pessoas como se Não houvesse amanhã. Porque se você parar para pensar, Na verdade não há. |
Sou uma gota d'agua Sou um grão de areia. Você me diz que seus pais não entendem. Mas você não entende seus pais. Você culpa seus pais por tudo. E isso é absurdo. São crianças como você O que você vai ser, quando você crescer? |
MENINOS E MENINAS
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá
Quero me
encontrar mas não sei onde estou. Vem comigo procurar um lugar mais calmo. Longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita. Tenho quase certeza que eu não sou daqui. Acho que gosto de S. Paulo. E gosto de S. João. Gosto de S. Francisco. E S. Sebastião. E eu gosto de meninos e meninas. Vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre. Vai ficando complicado e ao mesmo tempo diferente. Estou cansado de bater e ninguém abrir. Você me deixou sentindo tanto frio. Não sei mais o que dizer. Te fiz comida. Velei teu sono. Fui teu amigo. Te levei comigo e me diz: Pra mim o que é que ficou? Me deixa ver como viver é bom. Não é a vida como esta e sim as coisas como são. Você não quis tentar me ajudar. Então a culpa é de quem? A culpa é de quem? Eu canto em português errado. Acho que o imperfeito não participa do passado. Troco as pessoas. Troco os pronomes. |
Preciso de oxigênio. Preciso ter amigos. Preciso ter dinheiro. Preciso de carinho. Acho que te amava. Agora acho que te odeio. São tudo pequenas coisas. E tudo deve passar. Acho que gosto de S. Paulo. Gosto de S. João. Gosto de S. Francisco. e S. Sebastião. E eu gosto de meninos e meninas. |
VENTO NO LITORAL
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá
De tarde quero descansar, chegar até a praia
Ver se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras.
Sei que faço isso para esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora
Agora está tão longe
Vê, a linha do horizonte me distrai:
Dos nossos planos é que eu tenho mais saudade,
Quando olhávamos juntos na mesma direção.
Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim?
Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você está comigo o tempo todo.
E quando vejo o mar
Existe algo que diz:
"-A vida continua e se entregar é uma bobagem."
Já que você não está aqui,
O que posso fazer é cuidar de mim.
Quero ser feliz ao menos.
Lembra que o plano era ficarmos bem?
"-Ei, olha só o que achei: cavalos-marinhos."
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora.
PERFEIÇÃO
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá
Inc. "O Bêbado e a Equilibrista" (A. Blanc/J. Bosco)
1 Vamos celebrar a estupidez humana A estupidez de todas as nações O meu país e sua corja de assassinos Covardes, estupradores e ladrões Vamos celebrar a estupidez do povo Nossa polícia e televisão Vamos celebrar o nosso governo E nosso estado que não é nação Celebrar a juventude sem escolas As crianças mortas Celebrar nossa desunião Vamos celebrar Eros e Thanatus Perséphone e Hades Vamos celebrar nossa tristeza Vamos celebrar nossa vaidade 2 Vamos comemorar como idiotas A cada fevereiro e feriado Todos os mortos nas estradas E os mortos por falta de hospitais Vamos celebrar nossa justiça A ganância e a difamação Vamos celebrar os preconceitos E o voto dos analfabetos Comemorar a água podre Todos os impostos, queimadas, mentiras e sequestros Nosso castelo de cartas marcadas O trabalho escravo e nosso pequeno universo Toda a hipocrisia e toda a afetação Todo o roubo e toda a indiferença Vamos celebrar epidemias É a festa da torcida campeã 3 Vamos celebrar a fome Não ter a quem ouvir Não se ter a quem amar |
Vamos alimentar o que é maldade Vamos machucar um coração Vamos celebrar nossa bandeira Nosso passado de absurdos gloriosos Tudo o que é gratuito e feio Tudo o que é normal Vamos cantar juntos o hino nacional (A lágrima é verdadeira) Vamos celebrar nossa saudade E comemorar a nossa solidão 4 Vamos festejar a inveja A intolerância e a incompreensão Vamos festejar a violência E esquecer a nossa gente Que trabalhou honestamente a vida inteira E agora não tem mais direito a nada Vamos celebrar a aberração De toda nossa falta de bom senso Nosso descaso por educação Vamos celebrar o horror de tudo isso Com festa, velório e caixão Está tudo morto e enterrado agora Já aqui também podemos celebrar A estupidez de quem cantou essa canção 5 Venha, meu coração está com pressa Quando a esperança está dispersa Só a verdade me liberta Chega de maldade e ilusão Venha, o amor tem sempre a porta aberta E vem chegando a primavera Nosso futuro recomeça Venha, que o que vem é perfeição |
GIZ
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá
E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço por assim dizer
Quando convém aparecer
Ou quando quero
Desenho toda a calçada
Acaba o giz tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol
Que a chuva apagou
Quero que saibas
Que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És parte ainda
Do que me faz forte
E pra ser honesto
Só um pouquinho infeliz
Mas tudo bem
Tudo bem
Tudo bem
Tudo bem
Tudo bem
Tudo bem
Lá vem lá vem lá vem de novo
Acho que estou gostando de alguém
E é de ti
Que não esquecerei
DEZESSEIS
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá
João
Roberto era o maioral O nosso Johnny era um cara legal Ele tinha um Opala metálico azul Era o rei dos pegas na Asa Sul E em todo lugar Quando ele pegava no violão Conquistava as meninas E quem mais quisesse ver Sabia tudo da Janis Do Led Zeppelin, dos Beatles e dos Rolling Stones Mas de uns tempos pra cá Meio sem querer Alguma coisa aconteceu Johnny andava meio quieto demais Só que quase ninguém percebeu Johnny estava com um sorriso estranho Quando marcou um super pega no fim de semana Não vai ser no CASEB Nem no Lago Norte, nem na UnB As máquinas prontas Um ronco de motor A cidade inteira se movimentou E Johnny disse: "-Eu vou pra curva do Diabo em Sobradinho e vocês ?" E os motores sairam ligados a mil Pra estrada da morte o maior pega que existiu Só deu para ouvir, foi aquela explosão E os pedaços do Opala azul de Johnny pelo chãoNo dia seguinte, falou o diretor: "-O aluno João Roberto não está mais entre nós Ele só tinha dezesseis. Que isso sirva de aviso pra vocês." E na saída da aula, foi estranho e bonito Todo o mundo cantando baixinho: Strawberry Fields Forever Strawberry Fields Forever E até hoje, quem se lembra Diz que não foi o caminhão Nem a curva fatal E nem a explosão Johnny era fera demais Pra vacilar assim E o que dizem que foi tudo Por causa de um coração partido Um coração Bye, bye Johnny Johnny, bye, bye Bye, bye Johnny. |
ANTES DAS SEIS
( Dado Villa-Lobos / Renato Russo )
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Vem e me diz o que aconteceu
Faz de conta que passou
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Daqui vejo seu descanso
Perto do seu travesseiro
Depois quero ver se acerto
Dos dois quem acorda primeiro
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Enquanto a vida vai e vem
Você procura achar alguém
Que um dia possa lhe dizer
- Quero ficar só com você
Quem inventou o amor?