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A questão surge constantemente: porque a música dos Doors sobrevive e desperta atenção geração após geração quando tantos outros grupos de sua era ficaram pelo caminho? Em outras palavras, porque os Doors? Porque agora? Porque sobrevivem?
Obviamente os elementos musicais incomuns contribuíram para isto. Robby Krieger não era apenas um violonista flamenco com gosto por slide-guitar mas também um compositor perfeccionista. Ray Manzarek era um pianista clássico (também responsável por escrever e por tocar as linhas de baixo em um teclado, mantendo a precisão e a melodia). John Densmore era um baterista de Jazz com uma sensibilidade teatral imbatível. Jim Morrison era um barítono, compositor nato, um poeta elétrico.
A combinação destes elementos musicais diversos poderia ter tido resultados medíocres ou mesmo desastrosos, mas não foi o que ocorreu. Ao invés disso a combinação foi única, perfeita - e funcionou. Já na sua primeira apresentação notaram que havia mais que compatibilidade musical entre eles - havia mágica.
Obviamente existem outras, menos concretas, mas não menos importantes, razões pelas quais os Doors continuam atemporais e especiais. A atitude que deu forma à música, uma das mais originais e inteligentes do rock and roll. As raízes da banda não vieram apenas da escola de música, nem foram inspiradas apenas pela musicalidade indígena. As influências dos Doors eram também dramáticas, Manzarek e Morrison haviam sido colegas em uma faculdade de Cinema do Estado da Califórnia. Os Doors viriam a utilizar elementos de cinema, teatro, poesia, literatura, filosofia e música, e combinar tudo em um pacote uniforme juntamente com seus talentos particulares.
A teoria de Antonin Artaud (diretor de teatro) viria a se tornar a base para a relação entre Morrison e sua platéia. Na literatura, Fredrick Nietzsch viria a fornecer à banda uma filosofia sobre força e natureza da tragédia com um direcionamento que poucas bandas sonharam ter. A lista poderosa e eclética continua. Dos diretores orson Welles e Joseph Stemberg assimilaram presença de palco e instruções sobre iluminação, bem como erotismo.
Do artista e poeta William Blake a banda tomou seu nome. Blake escreveu que "quando as portas da percepção são abertas, o homem vê as coisas como elas realmente são: infinitas". Um outro autor, Adoux Huxley havia nomeado de "As Portas da Percepção" um livro de sua autoria que descrevia experiências com drogas. Morrison se impressionou com as duas fontes e propôs o nome The Doors aos outros componentes da banda. Todos concordaram com o nome e a fonte de onde o haviam tirado não podia ser mais adequada à banda. Seu objetivo da banda era tão grande quanto sua inspiração. Queriam casar o rock and roll à poesia. Queriam unir a banda à sua audiência, formar uma mente universal que conectasse a todos, e não se contentariam com menos.
Embora a imagem da banda seja mais associada a Jim Morrison a contribuição de Manzarek, Krieger e Densmore não pode ser subestimado. Os quatro sabiam que Morrison jamais haveria conseguido só, mas era ele o suporte da banda, e o deixaram ser o líder. Não é mistério o porque de Jim nunca ter seguido uma carreira solo, ele precisava da banda tanto quanto a banda precisava dele. Os Doors eram apenas um. Era a única maneira das músicas nascerem. A comunhão permitia que numa improvisação a banda funcionasse como um todo.
Jim Morrison não estava preso a nenhuma droga tanto quanto estava preso a fazer a banda funcionar ao máximo, a fazer com que artista e público fossem únicos. A música dos Doors é ao mesmo tempo moderna e clássica. É tudo o que é simples e tudo o que é complexo. É como um bisturi nas mãos de um cirurgião, que cura e destroi. É poderosa. Gera controvérsia e gera credos. É arte, do maior calibre, e merece ser classificada como tal.