Sob a designação geral de anfetaminas, existem três categorias de drogas sintéticas que
diferem entre si do ponto de vista químico. As anfetaminas, propriamente ditas, são a dextroanfetamina
e a metanfetamina.
Existem no mercado vários produtos que podem ser enquadrados numa dessas três categorias. São eles:
Benzedrine e Bifetamina, anfetaminas puras; Dexedrine, um sulfato de destroanfetamina, com
estrutura molecular semelhante ao hormônio epinefrine (adrenalina), que é uma substância secretada
no corpo humano pela glândula supra-renal nos momentos de susto; Dexamil, uma combinação de
dextroanfetamina e amobarbital, um sedativo; Methedrine e Desoxyn, metanfetaminas puras; Desbutal
e Obedrin, combinações de metanfetamina e pentobarbital, um barbitúrico; e Amphaplex, um coquetel
de metanfetamina, anfetamina e dextroanfetamina. Preludin, uma droga que difere quimicamente
das anfetaminas, é enquadrada nesse grupo por causar os mesmos efeitos.
Em estado puro, as anfetaminas têm a forma de cristais amarelados, com sabor intragavelmente
amargo.Geralmente ingeridas por via oral em cápsulas ou comprimidos de cinco miligramas, as
anfetaminas também podem ser consumidas por via intravenosa (diluídas em água destilada) ou
ainda aspiradas na forma de pó.
A anfetamina surgiu no século 19, tendo sido sintetizada pela primeira vez na Alemanha, em 1887.
Cerca de 40 anos depois, a droga começou a ser usada pelos médicos para aliviar fadiga, alargar
as passagens nasais e bronquiais e estimular o sistema nervoso central. Em 1932, era lançada na
França a primeira versão comercial da droga, com o nome de Benzedrine, na forma de pó para
inalação. Cinco anos mais tarde, a Benzedrine surgiu na forma de pílulas, chegando a vender mais
de 50 milhões de unidades nos três primeiros anos após sua introdução no mercado.
Durante a Segunda Guerra Mundial, tanto os aliados como as potências do Eixo empregaram sistematicamente
as anfetaminas para elevar o moral, reforçar a resistência e eliminar a fadiga de combate de suas
forças militares. Tropas alemãs, como as divisões Panzer, empregavam a Methedrine. Já a Benzedrine
foi usada pelo pessoal da Força Aérea norte-americana estacionado em bases na Grã-Bretanha. Em
território dos Estados Unidos, entretanto, o uso das anfetaminas por pessoal militar só foi
oficialmente autorizado a partir da Guerra da Coréia. A febril produção de anfetaminas para atender
aos pilotos da Luftwaffe, a força aérea de Hitler, gerou excedentes que provocaram uma verdadeira
epidemia anfetamínica no Japão. Perto do final, da guerra, os operários das fábricas japonesas de
munição receberam generosos suprimentos da droga, que era anunciada como solução para eliminar
a sonolência e embalar o espírito. Como resultado, no período imediato do pós-guerra, o Japão
possuía 500 mil novos viciados.
Pouco mais tarde, no início da década de 50, militares americanos servindo no Japão e na Coréia se
transformaram nos primeiros a utilizar o speedball, uma mistura injetável de anfetamina e
heroína. Outra epidemia anfetamínica aconteceu na Suécia em 1965, depois que a droga passou a ser
fornecida pelo serviço nacional de saúde. Milhares de pessoas se aproveitaram do fato de a anfetamina
ser distribuída gratuitamente para consumir quantidades abusivas da sua substância, até que ela foi
tornada ilegal algum tempo depois.
Nas últimas décadas, a anfetamina tem sido usada em massa em tratamentos para emagrecer, já que
a droga é temporariamente eficaz na supressão do apetite. Entretanto, à medida que o tempo passa,
o organismo desenvolve tolerância à anfetamina e torna-se necessário aumentar cada vez mais as doses
para se conseguir os mesmos efeitos. A perda de apetite gerada pelo seu uso constante pode
transformar-se em anorexia, um estado no qual a pessoa passa a sentir dificuldade para comer e até
mesmo para engolir alimentos pastosos, resultando em sérias perda de peso, desnutrição e até morte.
Durante muito tempo, a anfetamina foi também utilizada para tratar depressão, epilepsia, mal de
Parkinson e narcolepsia. Atualmente, apenas a narcolepsia permanece utilizando essa droga em seu
tratamento.
As anfetaminas agem estimulando o sistema nervoso central através de uma intensificação da
norepinefrina, um neuro-hormônio que ativa partes do sistema nervoso simpático. Efeitos
semelhantes aos produzidos pela adrenalina no cérebro são causados pelas anfetaminas,
levando o coração e os sistemas orgânicos a funcionarem em alta velocidade. Resultado: o
batimento cardíaco é acelerado e a pressão sangüínea sobe bastante. Ao agir sobre os centros
de controle do hipotálamo, ao mesmo tempo em que reduz a atividade gastrintestinal, a droga inibe o
apetite e seu efeito pode durar de quatro a 14 horas, dependendo da dosagem.
A anfetamina é rapidamente assimilada pela corrente sangüínea e, logo depois de ser ingerida, provoca arrepios
seguidos de sentimentos de confiança e presunção. As pupilas dilatam, a respiração torna-se
ofegante, o coração bate freneticamente e a fala fica atropelada. Em seguida, o usuário da
droga pode entrar em estado de euforia e elevação, enquanto seu corpo se agita com uma intensa
liberação de energia. Quando essa energia se extingue, o efeito começa a declinar, sendo
substituído por inquietação, nervosismo e agitação, passando à fadiga, paranóia e depressão.
Esgotadas as sensações da droga, o abuso leva geralmente a dores de cabeça, palpitações,
dispersividade e confusão. Como o efeito é pouco duradouro e termina em depressão, o usuário
é levado a tomar doses sucessivas, que vão aumentando na quantidade de anfetamina ingerida
à medida que o organismo vai se habituando à droga. O ciclo de abuso e dependência pode criar uma
reação tóxica no organismo, conhecida como psicose anfetamínica, que pode durar até algumas
semanas, com irritabilidade, insônia, alucinações e até a morte em casos extremos. Os sonhos de
quem abusa de anfetaminas são perturbados e interrompidos, e seu sono é pouco reparador.
Overdoses fatais, todavia, são raras, e a dosagem letal ainda é desconhecida, sendo que
os usuários mais habituais podem consumir até 1000 miligramas por dia. Ao contrário do que os
médicos pensavam quando se começou a utilizar a anfetamina, a droga não causa dependência física,
mas psicológica, podendo chegar a tal ponto em que o abandono de seu uso torna-se praticamente
impossível.
As anfetaminas são as drogas geralmente associadas com os casos de doping em corridas de
cavalos, jogos de futebol e outras competições esportivas.
Retirado da Revista Planeta de julho de 86.
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