Sintetizada em 1859, a cocaína tem como origem a planta Erythroxylon coca, um arbusto
nativo da Bolívia e do Peru (mas também cultivado em Java e Sri-Lanka), em cuja composição
química se encontram os alcalóides Cocaína, Anamil e Truxillina (ou Cocamina
).
Duas variedades da planta dominam o mercado: a huanaco, coca boliviana de folhas ovais
e coloração marrom-esverdeada, e a coca peruana, de folhas bem menores e cor verde-clara, que
contém muito mais alcalóide do que as plantas que medram na Bolívia. A coca aclimatada em Java,
além dos alcalóides comuns às outras variedades possui a atropa cocaína acrescida de quatro
glucosídeos cristalinos. A droga também pode ser obtida de um arbusto aparentado à Erythroxylon coca
- o epadu, que cresce na Amazônia e é utilizado há séculos pelos índios da região.
Na civilização inca, o uso da folha de coca era controlado pessoalmente pelo imperador. O maior
privilégio que um inca podia obter era conquistar o direito de mascar as folhas de coca, e os
nobres costumavam ser sepultados com uma generosa provisão de folhas para abastecê-los no paraíso
incaico. Mascadas, as folhas de coca produzem euforia e enorme capacidade de trabalho. Nos altiplanos
da Cordilheira dos Andes, o costume de mascar coca persiste até hoje entre os habitantes, ajudando-os
a enfrentar os problemas da altitude e os rigores do clima.
A cocaína propriamente dita, ou cocaína hidroclorida, é uma substância branca, amarga e inodora, na
forma de cristais ou pó, e que pode ser bebida, aspirada ou injetada. Apesar do curto período de sua
existência, a história registra usuários famosos da droga, como Sigmund Freud, o papa Leão XIII e o
escritor Conan Doyle, criador do famoso detetive Sherlock Holmes, que por sua vez também apreciava a
cocaína. Na atualidade, a droga tem seu uso difundido não só entre os astros do cinema, da música
e da televisão, mas também vem ganhando consumidores entre executivos e a classe média em geral.
Segundo a revista Veja, no Brasil os usuários típicos têm entre 25 e 40 anos de idade, salário
acima de Cz$ 15.000 (maio-86) e podem ser publicitários, jornalistas, criadores de moda ou profissionais
da área financeira, que exibem comportamento auto-suficiente e elegantemente agressivo. De acordo com
a revista Time, de 1979 a 1982, o número de consumidores de cocaína nos Estados Unidos
aumentou de 15 milhões para 22 milhões, e parece continuar crescendo.
As propriedades primárias da droga bloqueiam a condução de impulsos nas fibras nervosas, quando
aplicada externamente, produzindo uma sensação de amortecimento e enregelamento. A droga também
é vaso constritora, isto é, contrai os vasos sangüíneos inibindo hemorragias, além de funcionar
como anestésico local, sendo este um dos seus usos na medicina.
Ingerida ou aspirada, a cocaína age sobre o sistema nervoso periférico, inibindo a reabsorção,
pelos nervos, da norepinefrina (uma substância orgânica semelhante à adrenalina). Assim, ela
potencializa os efeitos da estimulação dos nervos. A cocaína é também um estimulante do sistema
nervoso central, agindo sobre ele com efeito similar ao das anfetaminas. No cérebro, a droga
afeta especialmente as áreas motoras, produzindo agitação intensa. A ação da cocaína no corpo
é poderosa porém breve, durando cerca de meia hora, já que a droga é rapidamente metabolizada
pelo organismo.
Sua aspiração por período prolongado danifica as mucosas e os tecidos nasais, podendo inclusive
causar perfuração do septo. Doses elevadas consumidas regularmente causam sangramento do nariz
e corisa persistente, além de palidez, suor frio, convulsões, desmaios e parada respiratória.
A quantidade necessária para provocar uma overdose varia de uma pessoa para outra, e a
dose fatal vai de 0,2 a 1,5 grama de cocaína pura. A possibilidade de overdose, entretanto,
é maior quando a droga é injetada diretamente na corrente sangüínea.
O efeito da cocaína pode levar a um aumento de excitabilidade, ansiedade, elevação da pressão
sangüínea, náusea e até mesmo alucinações. Um relatório norte-americano afirma que uma
característica peculiar da psicose paranóica, resultante do abuso de cocaína, é um tipo de
alucinação na qual formigas, insetos ou cobras imaginárias parecem estar caminhando sobre ou sob
a pele do cocainômano.
Embora exista controvérsia, alguns afirmam que os únicos perigos médicos do uso da cocaína são
as reações alérgicas fatais e a habilidade da droga em produzir forte dependência psicológica,
mas não física. Por ser uma substância de efeito rápido e intenso, a cocaína estimula o usuário
a utilizá-la seguidamente para fugir da profunda depressão que se segue após o seu efeito.
A Coca-Cola, um dos refrigerantes mais populares, foi originalmente uma beberagem feita com
folhas de coca e vendida como um "extraordinário agente terapêutico para todos os males, desde
a melancolia até a insônia". Complicações legais, todavia, fizeram com que a partir de 1906 o
refrigerante passasse a utilizar em sua fórmula folhas de coca descocainadas.
Retirado da revista Planeta de julho de 1986.
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