Cogumelos



Cogumelos ou fungos são plantas que não contém clorofila, a substância verde que faz com que os vegetais superiores possam processar a luz solar para produzir nutrientes (açúcares). A ausência de clorofila impede os cogumelos de se alimentarem utilizando energia solar, o que impele a espécie a desenvolver outros métodos de vida, atuando como parasitas em outros animais e plantas ou habitando matéria em decomposição. Os fungos também agem quimicamente no ar, de forma diferente das plantas clorofiladas - eles absorvem o oxigênio e exalam ácido carbônico, agindo nesse ponto da mesma forma que os animais, aos quais se assemelham em composição química.
Fungos alucinógenos têm desempenhado papel importante em várias cerimônias religiosas. Os maias que habitavam a Guatemala há 3500 anos utilizavam um fungo conhecido na língua nahuátl como "teonanácatl", a "carne de deus". Esse cogumelo provavelmente pertence ao gênero Psilocybe, embora também possa ser relacionada a duas outras variedades: Conocybe ou Stropharia. O primeiro registro histórico do consumo de cogumelo Psilocybe data de 1502, durante a coroação do Imperador Montezuma. Despreparados e assustados pelos efeitos da droga, os conquistadores espanhóis tomaram a decisão de proibir a religião nativa e o uso de fungos alucinógenos.
Albert Hofmann, o químico suiço descobridor do LSD, foi o primeiro a extrair psilocibina e psilocina dos cogumelos mágicos das espécies Psilocybe mexicana e Psilocybe cubensis. A psilocibina é uma substância relativamente instável, sendo convertida pelo organismo humano em psilocina, a verdadeira responsável pelos efeitos alucinógenos da planta. A psilocibina assemelha-se quimicamente ao LSD e é conhecida cientificamente como orthophosphoryl-4-hydroxy-n-dimethyltryptamine. Os cogumelos secos têm ação mais forte que os cogumelos frescos.
Alguns pesquisadores acreditam que a psilocibina abre uma porta para o subconsciente, permitindo que o mundo consciente seja encarado de uma perspectiva diferente. A substância é classificada como alucinógena, embora seus efeitos sejam provavelmente mais ilusórios do que alucinatórios. Experiências em laboratório revelaram que a ação da psilocibina é determinada pelas condições emocionais e psicológicas do usuário, e também pelo ambiente em que se desenrola a experiência. As reações iniciais são basicamente físicas: náuseas, dilatação das pupilas, aumento do pulso, da pressão sangüínea e da temperatura. Ansiedades e vertigens também podem ocorrer, sintomas esses que desaparecem uma hora depois de ingerido o cogumelo. Começa então um período de percepção sensorial ampliada: as cores se destacam, detalhes minúsculos dos objetos são revelados e estruturas coloridas cruzam o campo de visão. O efeito pode degenerar em desorientação, reações paranóicas, inabilidade para distinguir entre fantasia e realidade, pânico e depressão.
Ainda no continente americano, um outro gênero de cogumelo alucinógeno tem sido utilizado - o Stropharia cubensis -, que nasce sobre o estrume de boi. O autor brasileiro Sangirardi Jr. diz que essa espécie de fungo tem sido empregada na América Central desde muito antes dos espanhóis que trouxeram o gado bovino. Para Sangirardi, os cogumelos Stropharia cubensis poderiam proliferar no estrume do búfalo americano e do gamo, animais considerados sagrados pelos maias. A ingestão desse fungo é seguida inicialmente por náuseas, substituídas logo depois de uma hora pelo aumento da sensibilidade visual e auditiva; a percepção de formas é alterada e distorções visuais podem ser comuns. O corpo relaxa e sobrevem uma ligeira perda de coordenação motora. O efeito dura cerca de quatro horas e o usuário está sujeito a momentos de ansiedade e até mesmo pânico.
Outro cogumelo alucinógeno famoso é o Amanita muscaria, considerado por alguns estudiosos como sendo o cogumelo citado por Lewis Carroll no livro Alice no Pais das Maravilhas. O Amanita muscaria tem sido empregado há mais de 6000 anos, apesar do risco de ser confundido com variedades semelhantes de efeito letal. Acidentes com Amanita são responsáveis por 90% dos casos fatais de envenenamento por fungos. É uma droga extremamente perigosa, por isso seu uso implica graves riscos.
A Amanita muscaria contém diversas substâncias alucinógenas como muscazon, ácido ibotênico, muscimelk e bufotenina. Como esses elementos permanecem intactos em sua passagem pelo organismo, povos primitivos da Sibéria costumavam armazenar a urina de usuários de Amanita, que era assim utilizada como droga alucinógena. Os efeitos começam entre quinze e vinte minutos após o fungo ser ingerido, e duram por seis a oito horas. As sensações iniciais incluem vertigens, confusão, secura da boca, respiração acelerada, náusea, vômito e diarréia. Depois disso, o usuário é induzido a um sono leve de cerca de duas horas, experimentando visões e sensações semelhantes a sonhos. Sintomas de paranóia e agressividade exagerada também são registrados, e o usuário está sujeito a quedas e acidentes causados pelas distorções sensoriais. O uso prolongado da droga pode levar à debilidade mental e à loucura. Doses excessivas resultam em delírios, convulsões, coma profundo e morte em consequência de parada cardíaca.

Retirado da Revista Planeta de julho de 86.







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